Top 10 mitos em doenças infecciosas

Artigo recente separou os dez maiores mitos dentro da Infectologia, listaremos aqui os principais pontos sobre as doenças infecciosas.

Estamos vivendo a era da medicina moderna, que evolui cada vez mais rápido em termos de conhecimento e com a capacidade de integração de várias áreas da ciência. Isso faz com que tenhamos que nos reinventar diariamente dentro da nossa prática clínica. À luz do exposto, um artigo recente separou os 10 maiores mitos dentro da Infectologia. Vamos destrinchar aqui:

Top 10 mitos em doenças infecciosas

O Streptococcus pneumoniae é a maior causa de pneumonia adquirida na comunidade

Um estudo recente definiu que os vírus, principalmente o rinovírus, são os maiores responsáveis por pneumonia comunitária grave que requerem internação hospitalar. Assim, reforça-se a necessidade de incluir PCR multiplex para vírus respiratórios no manejo diagnóstico desses pacientes, além de reforçar a necessidade de novas terapias como antivirais ou imunoglobulinas.

É necessário aguardar entre 48-72 horas por cultura e antibiograma

Desde a introdução do método de ionização/dessorção a laser assistida por matriz acoplada a espectrometria de massa por tempo de voo (MALDI-TOF MS) é possível a identificação bacteriana ou fúngica em hemocultura em 6 horas.

Não se deve usar um antimicrobiano que tenha se mostrado resistente in vitro

Para certas infecções por Klebsiella pneumoniae resistentes à carbapenêmicos (KPC), para as quais as opções terapêuticas podem não estar disponíveis ou não terem eficácia comprovada cientificamente, recomenda-se levar em conta a concentração inibitória mínima (MIC) ao definir a abordagem terapêutica.

Para isolados bacterianos com MIC entre 4-8 micrograma/mL (em alguns casos até mesmo 16 micrograma/mL), estudos recentes sugerem que a infusão prolongada de altas doses de carbapenêmicos é uma opção quando combinada com um agente suscetível (como tigeciclina, colistina ou fosfomicina). Além disso, há relatos que mostram que a combinação ertapenem/meropenem também pode ser eficaz ao se tratar infecções por KPCs.

A conduta para todo paciente séptico é a mesma

Os ensaios clínicos controlados randomizados que avaliaram terapias adjuvantes para sepse não consideraram a necessidade de personalizar as prescrições e alguns estudos recentes mostram que a resposta às medicações testadas seria muito diferente em alguns subgrupos.

A Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ESCMID), inclusive, publicou um parecer recente que sugere a incorporação de um gerenciamento personalizado dos pacientes sépticos.

Higiene oral com clorexidina é fundamental para prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV)

Evidências recentes sugerem que o uso de clorexidina pode aumentar o risco de morte em pacientes internados. Além disso, não há redução significativa no risco de desenvolver PAV entre pacientes de cirurgia não cardíaca, o que tem feito o uso rotineiro da substância ser reconsiderado.

Antibióticos inalatórios são boas opções para tratamento de PAV por germes multirresistentes

Observando o uso de antibióticos inalatórios para tratar/prevenir infecções respiratórias em pacientes com fibrose cística, muitos intensivistas começaram a utilizar essa opção para tratar pacientes com PAV ou traqueobronquite. Até pouco tempo era considerada uma opção para pacientes com infecções por germes multirresistentes (como Acinetobacter ou Pseudomonas) e estudos observacionais sugeriam eficácia com poucos relatos de eventos adversos.

Entretanto, evidências fracas foram encontradas ao focar no subgrupo de pacientes em ventilação mecânica e com um risco considerável de broncoespasmo, hipoxemia e outras complicações respiratórias. Assim, novos estudos ainda devem ser realizados.

A associação de colistina ou amicacina é a ideal para o tratamento de infecções por germes multirresistentes

Um estudo recente mostrou que uma dose de ataque de colistina para pacientes com PAV por Acinetobacter baumannii não melhorou o desfecho clínico, porém, foi associada à nefrotoxicidade. Além disso, outro estudo recente falhou em demonstrar redução na mortalidade por PAV por KPC ao utilizar-se colistina ou amicacina. O ideal é que o tratamento desses pacientes seja feito com agentes alternativos, como ceftolozane-tazobactam.

A dosagem dos antimicrobianos é sempre a mesma

O estudo observacional multicêntrico DALI, que foi conduzido em uma rede de unidades de terapia intensiva na Europa, demonstrou que muitos pacientes em uso de doses recomendadas de cefalosporinas apresentavam níveis plasmáticos menores que o alvo ideal de PK/PD.

Isso ocorre, em parte, pelo aumento do volume de distribuição associado à ventilação mecânica e ao choque séptico. Assim, deve haver personalização da prescrição do antimicrobiano através de uma dosagem maior e infusão prolongada (ou mesmo contínua).

Todo paciente com pneumonia que necessita de suporte intensivo tem infecção causada por bactéria

A epidemia de Influenza de 2009 levou a maior disponibilidade de técnicas de diagnóstico de vírus respiratórios e, assim, muitos episódios de pneumonia grave que previamente eram diagnosticadas como bacteriana ou etiologia desconhecida, hoje são identificadas como causadas pelo vírus Influenza. Além disso, a administração de oseltamivir a esses pacientes tornou-se padrão.

Vale ressaltar a importância de se pensar e complicações fúngicas: um subgrupo de pacientes com CD4/CD18 baixo e trombocitopenia foi associado a complicações adicionais por aspergilose pulmonar invasiva. Novos estudos estão sendo feitos, por isso, buscando avaliar a eficácia da administração preventiva de posaconazol nos pacientes com linfocitopenia grave.

A mortalidade pelo vírus ebola é próxima a 100%

O surto de ebola em 2014 chegou à Europa através de pacientes repatriados e casos secundários e eles foram tratados em unidades de terapia intensiva bem equipadas e pudemos observar menor mortalidade. Assim, a mortalidade alta observada no continente africano (em diversas doenças infecciosas) reflete os limites escassos de recursos.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Rello J, Alp E, Vandana KE. Infectious diseases: the 10 common truths I never believed. Intensive Care Medicine. 2018;45(2):243–245, 22 jun. 2018. DOI: 10.1007/s00134-018-5272-z

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