Transmissão transgeracional de comportamento suicida e seu impacto na avaliação de pacientes em risco

A compreensão da transmissão transgeracional de comportamento suicida é essencial na adequada avaliação clínica e terapêutica de pacientes.

A melhor compreensão da transmissão transgeracional de comportamento suicida tem papel essencial na adequada avaliação clínica e terapêutica de pacientes que apresentem ideação suicida ou comportamentos relacionados. Estudo recentemente publicado no Lancet Psychiatry confirma resultados de outras investigações observacionais acerca da associação desse tipo de desfecho entre gerações (pais e filhos). Seus resultados sugerem a importância da arguição detalhada do histórico familiar de suicídio para avaliação de paciente em risco.

Transmissão transgeracional de comportamento suicida e seu impacto na avaliação de pacientes em risco

Metodologia e população

Trata-se de uma coorte retrospectiva que fez uso de registros nacionais com cobertura da maior parte da população da Dinamarca. Dessa forma foram incluídos todos os indivíduos nascidos depois de 1953 que moraram no país entre 1980 e 2016.

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Os desfechos utilizados foram tentativa de suicídio e morte por suicídio (retirado dos registros nacionais utilizando os códigos da CID em diferentes edições) em indivíduos a partir de 10 anos de idade. Os autores justificam tal decisão pela baixa incidência de suicídio e tentativas de suicídio em crianças abaixo de 10 anos na Dinamarca. Já as variáveis de exposição foram tentativa de suicídio e morte por suicídio nos pais desses indivíduos, com contagem do tempo de exposição a partir do primeiro evento.

Foram construídos dois modelos através de métodos de regressão para controle de potenciais variáveis de confusão ou modificadoras de efeito como: período no qual ocorreu o suicídio, idade dividida em grupos, presença de irmãos, pais separados, idades dos pais no nascimento, nível socioeconômico e educacional dos pais, e diagnóstico prévio de transtorno mental nos pais. O primeiro modelo ajustou apenas o período histórico em que ocorreu o suicídio e a idade enquanto o segundo modelo levou em consideração o restante das características listadas.

Resultados

Em ambos os modelos indivíduos expostos a tentativa de suicídio, morte por suicídio ou ambos através dos pais apresentaram incidência maior de tentativas de suicídio e de morte por suicídio comparadas através da razão entre as incidências (IRR – sigla em inglês de incidence rate ratio). A incidência de morte por suicídio em indivíduos expostos a morte por suicídio de algum dos pais foi de 2 a 3 vezes maior se comparado aos não expostos:

  • Modelo 1: IRR = 3,18 (IC 95% 2,84–3,58)
  • Modelo 2: IRR = 2,35 (IC 95% 2,09–2,65)

Além disso o estudo traz resultados importantes que possibilitam maior detalhamento da associação transgeracional do comportamento suicida como:

  • Método de suicídio: Indivíduos expostos a morte por suicídio dos pais apresentaram 2 vezes maior chance de utilizar método violento do que aqueles expostos apenas a tentativas de suicídio dos pais (Odds Ratio=2,0 [IC 95% 1,7-2,3]). Além disso destaca-se a evidência encontrada de transmissão transgeracional do método de suicídio utilizado.
  • Idade da exposição: Indivíduos expostos tanto a tentativas quanto a morte por suicídio de pelo menos um dos pais entre os 2 e 5 anos de idade apresentaram maior incidência de transmissão do comportamento suicida (em ambos os modelos) se comparado a crianças mais velhas e adolescentes.

Limitações

O estudo em questão tem caráter retrospectivo e pode sofrer com problemas de aferição do desfecho por conta da coleta de registros nacionais além de viés de confusão por variáveis não controladas. Os autores argumentam para uma provável subestimação das incidências uma vez que nem todo indivíduo com comportamento suicida apresenta-se para cuidados médicos. Além disso sua validade externa limita-se ao período histórico e país estudado sendo importante a validação do achado no Brasil.

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Mensagens Práticas

  • O estudo em questão traz evidências importantes acerca da transmissão transgeracional de comportamento suicida entre pais e filhos incluindo concordância com o tipo de comportamento (tentativa, morte por suicídio e método utilizado).
  • Comportamento suicida materno comparado ao paterno e exposição em indivíduos mais novos (especialmente em indivíduos de 2-5 anos) apresentaram maior força de associação.
  • Incluir histórico familiar detalhado de comportamento suicida (considerando caraterísticas descritas acima) pode auxiliar o clínico na identificação de populações de maior risco.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Ranning A, Madsen T, Hawton K, Nordentoft M, Erlangsen A. Transgenerational concordance in parent-to-child transmission of suicidal behaviour: a retrospective, nationwide, register-based cohort study of 4.419.642 individuals in Denmark. The Lancet Psychiatry [Internet]. 27 de março de 2022 [citado 11 de abril de 2022];0(0). Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(22)00042-6/fulltext

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