Uso de glicocorticoides para o manejo da síndrome do intestino curto em pediatria

O uso de glicocorticoides em pacientes com SBS é uma alternativa em pacientes que tenham processo inflamatório intestinal comprovado. Saiba mais.

A síndrome do intestino curto (em inglês: short bowel syndrome – SBS) é uma condição grave caracterizada pelo quadro clínico de desabsorção, podendo levar à desnutrição e óbito. Em geral, é resultado de afecções do trato gastrointestinal, como enterocolite necrotizante, gastrosquise, volvo intestinal e/ou outras doenças obstrutivas que resultam em ressecção de algum segmento do intestino. Em sua grande maioria, os pacientes com SBS necessitam de nutrição parenteral (NP) em alguma fase do tratamento. Com o estabelecimento e avanços dos programas de reabilitação intestinal, hoje há uma menor taxa de mortalidade e maior possibilidade de desmame da NP e de progressão da dieta.

No entanto, em uma minoria de pacientes com SBS, há uma manutenção de um processo inflamatório intestinal crônico, resultando em dificuldade de progressão da dieta de forma plena e suspensão da NP.

glicocorticoides

Estudo sobre glicocorticoides

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, realizou um estudo descritivo retrospectivo, através da avaliação de registros do programa de reabilitação intestinal de 2006 a 2017 de pacientes pediátricos portadores de SBS e com dificuldade de progressão da dieta e desmame da NP, sem resposta aos tratamentos convencionais e que fizeram uso de glicocorticoides.

Para esses pacientes,  foi administrada uma dose inicial de prednisolona oral 1 mg/kg/dia durante 2 a 4 semanas. Após esse período, a dose foi reduzida progressivamente, seguida de  transição para budesonida de 3 a 9 mg/dia. Além disso,   em crianças com inflamação intestinal distal e/ou colite (evidenciadas por endoscopia seguida de biópsia), a sulfassalazina foi acrescentada ao tratamento na dose de 50 a 60 mg/kg/dia, dividida em 3 tomadas. Os autores afirmam que não havia para esses pacientes qualquer indício ou sugestão de doença inflamatória intestinal, que poderia ser um fator de confusão.  

Após a avaliação do quadro clínico e epidemiológico dos pacientes, os resultados relevantes obtidos foram:

  • Um total de 15 pacientes participaram do  estudo, sendo 6 meninos e 9 meninas;
  • Dos 15 pacientes, 10 tinham como diagnóstico principal a gastrosquise como causa do intestino curto;  
  • Do ponto de vista do comprimento do intestino delgado remanescente, os segmentos variaram de 20 a 108 centímetros (cm), com mediana de 46 cm;
  • De 15 pacientes, 8 tiveram triagem para doença celíaca negativa. Os outros 7 não foram testados, devido à não exposição ao glúten antes do diagnóstico de inflamação intestinal crônica;
  • A idade média de início dos glicocorticoides foi de, aproximadamente, 3,3 anos;
  • Todos os pacientes começaram a receber NP 1 a 2 semanas após o nascimento;
  • Sete dos 15 pacientes conseguiram desmamar NP em algum momento;
  • A maioria (11/15) dos pacientes teve redução significativa na contagem de calorias proveniente da NP após o início da terapia com glicocorticoides; 
  • Para as 7 crianças que desmamaram a NP, a duração média do tratamento com glicocorticoides foi de 5 meses; 
  • Dos  15 pacientes, 6  apresentaram contagem de eosinófilos significativa em seu achado patológico inicial. Cinco desses 6 pacientes conseguiram desmamar a NP com o uso de glicocorticoides e dois pacientes  tiveram recidiva após a interrupção dos glicocorticoides. 

Discussão e conclusão

O uso de glicocorticoides em pacientes com SBS é uma alternativa em pacientes que tenham processo inflamatório intestinal comprovado associado a dificuldade para desmame da NP e consequente transição da dieta para via enteral. O estudo em questão aponta benefícios dessa terapia na promoção da tolerância à alimentação enteral. No entanto, a escolha do glicocorticoide precisa ser individualizada, assim como a sua indicação.

Cerca de metade dos pacientes deste estudo obtiveram autonomia enteral, porém 4 não conseguiram diminuir o suporte com a NP. Nesse contexto, se insere a possibilidade de que esses pacientes poderiam se beneficiar do uso do recém-aprovado análogo sintético do peptídeo-2 (GLP-2) para a SBS pediátrica, o teduglutide. O teduglutide aumenta a adaptação intestinal e, potencialmente, a autonomia enteral. 

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Um ponto de questionamento é a não compreensão do mecanismo exato da inflamação intestinal crônica e do motivo pelo qual alguns pacientes desenvolvem esse processo inflamatório e outros não. Assim, novas perspectivas sobre o manejo da SBS e novos estudos com uma maior amostra são necessários para melhor entendimento e manejo assertivo dos pacientes. 

Referências bibliográficas:

  • Cohran V. C. (2021). Glucocorticoid Therapy in Short Bowel Syndrome: A New Fork in the Road?. Journal of pediatric gastroenterology and nutrition, 73(1), 1–2. https://doi.org/10.1097/MPG.0000000000003105
  • Wang, F., Gerhardt, B. K., Iwansky, S. N., Hobson, B., Logan, S., Mercer, D. F., & Quiros-Tejeira, R. E. (2021). Glucocorticoids Improve Enteral Feeding Tolerance in Pediatric Short Bowel Syndrome With Chronic Intestinal Inflammation. Journal of pediatric gastroenterology and nutrition, 73(1), 17–22. https://doi.org/10.1097/MPG.0000000000003058

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