WONCA 2022: 10 passos para reduzir as emissões de carbono da sua prática clínica

Saúde planetária e emissões de carbono na prática clínica foram temas de um painel no WONCA 2022. Saiba mais no Portal PEBMED.

Umas das maiores agendas globais da contemporaneidade é a mudança climática pela qual passamos. Desde a revolução industrial, o volume de emissões de carbono não para de crescer e com isso o agravamento do efeito estufa modifica nosso clima e impacta nossas condições de vida. Logicamente isso impacta também nossa saúde. 

Há alguns anos, isso vem sendo alvo específico da área da saúde com um setor de estudo dedicado ao tema: saúde planetária – ou ainda saúde global, em algumas traduções. Essas condições ambientais são um importante determinante social de saúde e doença, por consequência grande objeto de atenção dos médicos de família e comunidade.  

Saúde planetária foi tema de algumas conferências recentes da WONCA, e nesta 27ª conferência europeia marcou não só presença enquanto painel específico como também foi tema transversal em outras sessões. Em uma dessas sessões, o médico de família e comunidade francês Emmanuel Prothon abordou os impactos que o setor de saúde apresenta sobre as emissões de carbono. Além disso, ele propôs dez práticas que de modo individual podemos adotar em nosso cotidiano para contribuir para a melhora da saúde planetária e ‘descarbonizar’ – neologismo com ambiguidades que o professor utiliza para denominar o ato de reduzir as emissões de carbono pela prática médica – nossa prática em ordem de impacto e prioridades.

emissões de carbono

1) Desprescreva

Cerca de 54% das emissões de carbono ligadas à área da saúde estão associadas às prescrições médicas de medicamentos e dispositivos médicos. Conduzir a desprescrição de medicamentos desnecessários ou que podem ser otimizados em monoterapia ou potencializados por medidas não farmacológicas pode ser um importante meio de reduzir nossa pegada de carbono. Para desprescrever de maneira responsável muitas ferramentas clínicas podem ser utilizadas, algumas delas você encontra aqui no Portal.

2) Se atente ao uso de dispositivos inalatórios seguros 

Muitos dos dispositivos inalatórios disponíveis no mercado possuem HFC em seu veículo de dispersão. Esse gás é potencialmente letal em relação à saúde global, sendo 1.400 vezes mais potente no efeito estufa que o gás carbônico. O impacto da pegada de carbono por dispositivos que contenham HFC anualmente equivale às emissões de um voo entre Londres e Nova York, por exemplo.  

Dispositivos inalatórios seguros, do ponto de vista da saúde planetária, são aqueles que utilizam talco seco como veículo de distribuição, como aqueles fármacos que são inalados em cápsulas, por exemplo. Outra forma de distribuição segura, do ponto de vista ambiental, é a utilização de nebulização como veículo para o princípio ativo.  

3) Evite deslocamentos desnecessários dos pacientes 

Emissões ligadas ao transporte de pacientes somam 33% das emissões anuais vinculadas ao cuidado em saúde médio de uma equipe de saúde na Suíça. Essas emissões poderiam ser reduzidas minimizando os deslocamentos de pacientes entre unidades de saúde ou mesmo para visitar uma unidade de saúde. Para isso, o uso da telemedicina e de atendimentos remotos tem um impacto alto e de baixo custo para gerar uma prática clínica mais verde. 

4) Use bicicletas como meio de transporte 

Emissões ligadas ao transporte de profissionais de saúde somam 12,5% das emissões anuais vinculadas ao cuidado em saúde médio de uma equipe de saúde na Suíça. Essas emissões poderiam ser reduzidas utilizando meios de transporte que não emitam partículas de carbono, como o uso de bicicletas. 

Entendendo que na realidade brasileira o uso desse modal de transporte pode ser dificultado por questões estruturais da nossa realidade, algumas possibilidades como utilizar transportes coletivos, utilização de caronas, otimizar o uso de veículos para colaboradores que participem do mesmo time de saúde, por exemplo, podem ser medidas que embora não sejam totalmente limpas como andar de bicicleta, já podem contribuir com a redução das emissões. 

5) Arquitetura verde 

Sistemas de climatização são importante fonte de emissão em unidades de saúde. Seja com aquecimento ou resfriamento. Otimizações arquitetônicas, além de utilização de dispositivos mais verdes para execução dessa atividade podem tornar as estruturas físicas das unidades de saúde mais ecológicas e sustentáveis, reduzindo emissões de carbono é razão de climatização e ambiência de nossas unidades de saúde. 

6) Otimização de espaços físicos 

A distribuição inteligente de equipes de saúde de modo estratégico em um território pode otimizar em muito as emissões ligadas à construção de espaços físicos para alocação de equipes de saúde sejam em níveis de atenção primários, secundário ou terciário. A otimização das taxas de ocupação de unidades já construídas impacta as práticas de saúde reduzindo emissões de carbono, gastos com energia elétrica e custos indiretos de saúde. Uma redução de utilização de um espaço físico de 102 m² por uma equipe de saúde para um espaço de 60 m² no mesmo prédio já construído, representa uma redução de custos da ordem de € 2.125,00 por ano, além de uma economia de 5,7 toneladas de partículas de CO2 que não seriam emitidas. 

7) Otimize o cuidado com resíduos 

Os cuidados com o lixo em unidade de saúde perpassam mais de uma necessidade de atenção. A primeira delas é o correto uso do lixo hospitalar. O impacto ambiental do uso de lixo hospitalar para descarte de resíduos comuns gera um impacto ambiental alto. Para isso, tanto o manejo e rotinas adequados para os resíduos dessa natureza, quando a não utilização desnecessária desse meio de descarte de resíduos pode gerar uma alta redução de emissões. 

Além disso, aplicar os 3R’s da sustentabilidade (reduzir, reutilizar e reciclar) dentro de unidades de saúde para os outros tipos de resíduo também causa um alto impacto direto e indireto. De modo direto os resíduos gerados diminuem e de modo indireto a cultura de sustentabilidade atinge usuários do sistema, profissionais atuantes no serviço, a comunidade em que o serviço está inserido, levando um modo de vida sustentável além dos muros do serviço de saúde. 

8) Caminhe e pedale com seus pacientes 

Quando o profissional de saúde está engajado em hábitos de vida saudáveis, as chances de seus pacientes também aderirem a esses hábitos são superiores aos pacientes seguidos por profissionais sem hábitos saudáveis. Criar grupos de caminhada e ciclismo ligados aos serviços de saúde em que os profissionais desse serviço se engajem e participem dos grupos tem um alto impacto na ativação comportamental dos pacientes para hábitos saudáveis. 

Esse tipo de medida não tem pegada de carbono, é uma medida limpa e segura de modo direto. De modo indireto, é o tipo de intervenção que irá modificar a maior parte das condições crônicas não transmissíveis, reduzindo as emissões associadas ao manejo desses cenários clínicos, e prevenir que esses agravos surjam em indivíduos sem essas condições já estabelecidas, o que evitará emissões associadas a elas.  

9) Promova dietas saudáveis 

Pelas mesmas razões do item anterior promover dietas saudáveis impacta as emissões ligadas aos serviços de saúde direta e indiretamente. Um ponto importante a destacar aqui é que sensibilizar os pacientes sobre as maneiras de produção dos alimentos que consomem e ingerem também reduz indiretamente as pegadas de carbono de outras áreas, aumentando o impacto sobre a sustentabilidade. 

10) Gerencie os recursos financeiros de saúde com um olhar verde

Olhar com sustentabilidade para a alocação de recursos do setor saúde também impacta as emissões indiretas do setor. Seja escolhendo fornecedores, prestadores ou montando estratégias para otimização de gastos com energia, manejo de resíduos ou mesmo ações de educação em saúde planetária, destinar atenção financeira de nossa prática para saúde global muda a maneira como o serviço de saúde se relaciona com o grande desafio de sustentabilidade ambiental e nosso compromisso com o mundo que deixaremos para as gerações futuras.

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