ACR 2020: destaques sobre artrite reumatoide

A artrite reumatoide, por sua importância, prevalência e avanços no tratamento, apresentou um grande volume de publicações no congresso.

Dando sequência aos destaques do ACR Convergence 2020, vamos agora para a artrite reumatoide (AR). A artrite reumatoide, devido à sua importância clínica, prevalência e recentes avanços no seu tratamento, apresentou um grande volume de trabalhos publicados no congresso. Dessa forma, vou selecionar alguns dos estudos que mais me chamaram a atenção. Nesse evento, um grande destaque foi dado para os inibidores da JAK, visto que essa classe de medicações foi a mais recentemente incorporada à prática clínica.

Médicos discutem artigos sobre artrite reumatoide apresentados no ACR 2020

Estudos com medicamentos

Uma grande quantidade de estudos a respeito do upadacitinibe (inibidor seletivo da JAK-1) foram apresentados nesse congresso. Dentre eles, foram divulgados dados adicionais do SELECT-EARLY, SELECT-MONOTHERAPY e SELECT-COMPARE. Na extensão do SELECT-EARLY, a superioridade do upadacitinibe em relação ao metotrexato (medida através das respostas ACR20, ACR50, ACR70, DAS28-PCR ≤ 3,2 e CDAI≤ 10) se manteve ao longo de 72 semanas, em pacientes virgens de tratamento com metotrexato.

Com relação aos desfechos de segurança, o upadacitinibe apresentou eventos adversos mais frequentemente que o metotrexato, com destaque para herpes zóster, infecções oportunistas e elevação de CK. Perfurações gastrointestinais foram infrequentes, porém predominaram no grupo upadacitinibe 30 mg/dia. O risco de TVP/TEP foi numericamente semelhante entre os grupos analisados. Na extensão de 84 semanas do estudo SELECT-MONOTHERAPY, que avaliou o uso de upadactinibe como monoterapia, também não foi encontrado nenhum novo evento adverso significativo; além disso, a monoterapia com upadacitinibe demonstrou uma eficácia sustentada ao longo de 84 semanas.

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Por fim, a extensão de 72 semanas do estudo SELECT-COMPARE, que comparou a eficácia do upadacitinibe vs. adalimumabe, demonstrou que a combinação upadacitinibe + metotrexato foi superior ao adalimumabe + metotrexato ao longo de todo o seguimento, com respostas ACR20/50/70 de 64/51/38% vs. 53/38/25% (p≤0,01/0,001/0,001), na semana 72. Além disso, os autores concluíram que o upadacitinibe + metotrexato apresentou um perfil de risco/benefício favorável.

Winthrop et al. apresentaram os dados de segurança de longo prazo do baricitinibe (inibidor seletivo da JAK 1 e 2), com seguimento de até 8,4 anos. Nesse estudo, foram incluídos pacientes de diversos trials patrocinados pela indústria farmacêutica (análise All-BARI-RA — JADB, JADA, JADC, JADN, RA-BEAM, RA-BEACON, RA-BUILD, RA-BEGIN, RA-BALANCE e RA-BEYOND), gerando 13.148 pacientes-ano. A mediana de seguimento foi de 4,2 anos. Os principais resultados foram: a incidência de infecções sérias, herpes zóster, eventos cardiovasculares maiores, TVP/TEP e câncer de pele não melanoma se mantiveram estáveis ao longo do tempo. Aparentemente não houve aumento no risco de malignidades após ajuste pela idade. O risco de morte aumentou ao longo do seguimento, porém nenhuma causa específica se destacou; após ajuste pela idade, os autores concluíram que não houve um aparente aumento nas taxas de morte.

Os resultados de 52 semanas do estudo FINCH 1 (fase 3, N = 1417), que comparou o filgotinibe (outro inibidor seletivo da JAK-1) + MTX vs. adalimumabe + MTX, também foram apresentados no ACR 2020. Pacientes que estavam no grupo placebo de estudos anteriores foram randomizados para receber filgotinibe 100 ou 200 mg. A proporção de pacientes com DAS28-PCR < 2,6 (ou remissão clínica) na semana 52 foi de 54% para o filgotinibe 200 mg vs. 43% para o filgotinibe 100 mg vs. 46% para o adalimumabe (p = 0,024 para filgotinibe 200 mg vs. adalimumabe). Essa diferença também foi observada para CDAI ≤ 2,8 e remissão Booleana, com melhores resultados para o filgotinibe. Isso mostra que a eficácia do filgotinibe observada na semana 12 nos estudos prévios foi mantida até a semana 52. Nenhum evento de segurança novo foi reportado nesse estudo.

Diretrizes da ACR para o tratamento farmacológico da artrite reumatoide

Para finalizar, foi apresentado o rascunho dos novos guidelines da ACR para o tratamento farmacológico da artrite reumatoide. Nessa apresentação, foi destacada a importância do metotrexato em monoterapia como primeira linha de tratamento em pacientes naïve com doença em atividade moderada a alta, quando comparado com outras opções de DMARDs sintéticos convencionais, biológicos ou sintéticos alvo específicos. Recomenda-se que se inicie com via oral e se considere a troca pela via subcutânea, em caso de ausência de controle inicial. Com relação ao corticoide, foi sugerido que um dos objetivos de tratamento é manter o paciente sem corticoide, especialmente no longo prazo, mesmo naqueles com doença em atividade moderada a alta.

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Um dado que chama atenção é que, para pacientes naïve com doença em atividade leve a moderada, o uso de hidroxicloroquina pode ser considerada, em detrimento de outros DMARDs sintéticos convencionais. Para pacientes já em tratamento, devemos sempre buscar o treat-to-target (T2T); em caso de dependência de corticoide, devemos realizar a troca ou adição de DMARD, visando a suspensão do corticoide. Os autores recomendam que, para pacientes com doses máximas de MTX e atividade persistente, devemos considerar início de biológico ou DMARD sintético alvo específico (vs. terapia tríplice com MTX + sulfassalazina + hidroxicloroquina). Caso o médico deseje realizar o desmame do tratamento (que não foi endossado pelo grupo de trabalho), dar preferência para redução de dose, sem suspensão. Caso ele opte pela suspensão, ela deve ser feita, preferencialmente, com desmame gradual (vs. interrupção abrupta).

Com relação aos esquemas de desmame, os autores sugerem que, em caso de uso de terapia tríplice, preferir a retirada da sulfassalazina (vs. hidroxicloroquina); para MTX + biológico ou DMARD alvo específico, preferir o desmame gradual do metotrexato. Vale lembrar que o documento ainda não foi publicado e que, por se tratar de um rascunho, pode sofrer alterações até sua publicação. Não foram divulgados maiores detalhes sobre esta publicação, que está programada para o início de 2021.

Referências bibliográficas:

  • American College of Rheumatology. Abstract Supplement ACR Convergence 2020. Arthritis Rheumatol. 2020. doi:10.1002/art.41538.

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