AHA 2020: Repor ferro em pacientes com insuficiência cardíaca é benéfico?

O estudo AFFIRM-AHF testou se a infusão de ferro venoso em pacientes com insuficiência cardíaca aguda e deficiência de ferro era benéfica.

As diretrizes brasileiras recomendam a reposição de ferro venoso em pacientes com deficiência, mesmo sem anemia, para melhora de sintomas e redução do número de internações. A deficiência de ferro é vista pela dosagem de ferritina e através da saturação de transferrina. Entretanto a indicação é baseada em estudos pequenos, alguns com desfecho neutro.

O estudo AFFIRM-AHF, apresentado no congresso da American Heart Association (AHA 2020) testou se a infusão de ferro venoso em pacientes com insuficiência cardíaca aguda e deficiência de ferro era benéfica ou não.

imagem de coração de paciente com insuficiência cardíaca

Ferro e insuficiência cardíaca

Tratou-se de um estudo randomizado, duplo cego, placebo controlado. Foram 1132 pacientes, 567 no grupo do ferro venoso (carboximaltose férrica) e 565 no grupo placebo. Os participantes receberam de 500 a 2000mg baseados no peso ou nível de hemoglobina.

A idade média dos pacientes era de 71 anos, 44% eram mulheres e 41% eram diabéticos. O seguimento foi de 52 semanas.

Os critérios de inclusão foram:

  • Hospitalização por quadro agudo de insuficiência cardíaca;
  • A estabilização clínica do paciente e eligibilidade para alta hospitalar;
  • Ferritina serica < 100 ng/mL ou ferritina entre 100 e 299 ng/mL e saturação de transferrina < 20%;
  • Fração de ejeção do VE <50%.

Os critérios de exclusão foram:

  • Síndrome coronariana aguda, ataque isquêmico transitório ou AVC nos últimos 30 dias;
  • Cirurgia ou procedimento de revascularização nos últimos 30 dias;
  • Hemoglobina < 8 g/dL ou > 15 g/dL;
  • Infecção ativa necessitando antibióticos;
  • Infusão venosa de ferro nos últimos 3 meses ou reposição de ferro oral > 100 mg/dia no último mês.

O desfecho primário foi o total de internações por IC e morte cardiovascular em 52 semanas. Os desfechos secundários foram morte cardiovascular e o total de hospitalização por IC separadamente.

Resultados

  • O desfecho primário ocorreu em 52,5% dos pacientes do grupo da reposição de ferro e 67,6% no grupo placebo ( 0,79, 95% CI 0,62–1,01, p=0,059);
  • Os desfechos secundários, em relação a morte cardiovascular ocorreu em 13,8% dos pacientes com reposição de ferro e 14,2% no grupo placebo (0,96, 95% IC 0·70–1,32, p=0,81);
  • Já as internações por IC ocorreram em 48,9% no grupo da reposição de ferro e 53,5% do grupo placebo (0,80, 95% CI 0,66–0,98, p=0,030).

Análise: A reposição de ferro em pacientes deficientes, com quadro agudo de IC se beneficiam de reposição de ferro venoso em relação a novas internações por IC, entretanto não houve beneficio em relação a mortalidade.

Mensagem prática

Pouco muda na prática clínica uma vez que a reposição de ferro tem indicação IIa em nossas diretrizes, entretanto o estudo dá mais robustez as evidências, de redução de internações sem mexer na mortalidade.

Acompanhe as novidades do AHA 2020 com a gente! Veja mais:

 

Referência bibliográfica:

  • Ponikowski P, Kirwan BA, Anker SD, et al., on behalf of the AFFIRM-AHF Investigators. Ferric carboxymaltose for iron deficiency at discharge after acute heart failure: a multicentre, double-blind, randomised, controlled trial. Lancet 2020;Nov 13

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