AIDS 2022: Infectologistas discutem epidemiologia, quadro clínico e tratamento de monkeypox

A epidemia de monkeypox também foi tema de uma das sessões da 24th International AIDS Conference em Montreal, Canadá.

Contando com apresentações de representantes da Organização Mundial de Saúde (OMS), foram discutidos importantes dados relativos à epidemiologia, quadro clínico e tratamento de monkeypox.

AIDS 2022 Infectologistas discutem epidemiologia, quadro clínico e tratamento de monkeypox

Epidemiologia – como está a situação no mundo?

Desde 01 de janeiro de 2022, a OMS já recebeu relatos de casos confirmados de monkeypox de todas as suas 6 regiões, contemplando 78 países e territórios ao redor do mundo. Até o dia 31 de julho, 21.256 casos foram relatados à organização, incluindo 5 mortes confirmadas pela doença (3 na Nigéria e 2 na República Centro-Africana) e 5 outras ainda a serem confirmadas (1 no Brasil, 2 na Espanha, 1 na Índia e 1 em Gana). Investiga-se o papel da imunossupressão nesses casos fatais.

Atualmente, a maior parte dos casos ocorre na Europa e na América. O perfil epidemiológico dos pacientes é majoritariamente de indivíduos do sexo masculino (98,8%) e de homens que fazem sexo com homens (98,1%). Nos casos em que há dados sobre possíveis formas de transmissão, a via sexual foi implicada em 94,2%. Festas, bares e grandes aglomerações foram locais de exposição frequentemente relatados.

Apesar de os casos fora do continente africano terem alcançado maior atenção, também há um aumento expressivo de infecções pelo Monkeypox virus em países da África Central e Ocidental, onde o vírus é considerado endêmico.

Até 27 de julho, no ano de 2022, foram relatados 292 casos confirmados nessas regiões, o que representa 2% dos casos do surto atual. Há uma predominância de pacientes do sexo masculino e a mediana de idade dos casos é de 25 anos. Destaca-se que, dos indivíduos em que há registro da idade, 38,7% estavam na faixa etária entre 0 – 17 anos, sendo 12,5% entre 0 – 4 anos, o que configura um importante acometimento de crianças e adolescentes nesses locais.

Quadro clínico do monkeypox

O quadro clínico pode ser dividido em duas fases: uma fase invasiva precoce, que é seguida por uma fase eruptiva.

A fase invasiva é classicamente leve com sintomas que duram poucos dias. Inicia-se após o período de incubação, que, na coorte de pacientes de Londres, teve duração média de 8,5 dias (IC 95% = 6,6 – 10,9 dias). Dos sintomas relatados, os mais frequentes foram: febre (66%), astenia (64%), mialgia (36%), cefaleia (32%) e dor de garganta (14%).

Chama a atenção de 17% dos pacientes avaliados não apresentaram sintomas prodrômicos e, nos em que eles estavam presentes, 64% já apresentavam lesões cutâneas de forma concomitante. Somente em 36%, as lesões se desenvolveram após o pródromo, em um período de 2 a 4 dias.

Na fase eruptiva, as lesões cutâneas são a principal característica, podendo se apresentar em uma variedade de formas e mesmo em diferentes estágios de evolução de forma simultânea. Na coorte inglesa, 99% dos pacientes apresentaram pelo menos 1 lesão característica, com 31% com lesão em um único local e 33% em mais de 3 regiões anatômicas.

A região ano-genital foi a mais frequentemente acometida (93%), com presença de lesões peniana em 56% e lesões perianais em 47%. Como essa distribuição reflete as práticas sexuais dos indivíduos acometidos, levanta-se a hipótese de inoculação direta tenha um papel na distribuição das lesões.

Além das lesões cutâneas, linfonodomegalia inguinal, geralmente bilateral, também foi um achado frequente, estando presente em 62% dos casos.

Apesar de ser uma doença tida como tendo um curso predominantemente benigno, algumas complicações têm sido observadas. Casos de proctite têm se destacado, sendo caracterizados por dor intensa e que podem estar acompanhados ou não de lesões perianais. Celulite e formação de abscessos são outras complicações relativamente comuns. Lesões faríngeas ulceradas com odinofagia associada e lesões conjuntivais já foram relatadas, mas são eventos raros. Ainda assim, hospitalização é rara. Segundo dados da OMS, dos casos confirmados reportados, 9% necessitaram de internação, sendo metade para cuidados clínicos.

Tratamento para monkeypox

O tratamento é basicamente de suporte, focando em analgesia e hidratação. Casos de proctite podem necessitar de analgésicos mais fortes, laxativos e enemas de mesalazina, enquanto abscessos podem exigir drenagem e antibioticoterapia.

Em relação ao uso de antivirais, não existe tratamento aprovado especificamente para monkeypox, mas alguns fármacos aprovados para Orthopoxvirus vêm sendo avaliados. Seu uso é considerado indicado somente em casos graves, incluindo indivíduos que precisem ser hospitalizados pelo quadro clínico, crianças < 8 anos e gestantes. Até o momento, tecovirimat, cidofovir e brincidofovir são as drogas com ação in vitro ou em modelo animal aprovadas para uso.

Vacinação

Pela OMS, não há recomendação para vacinação em massa. Vacinas contra varíola de segunda e terceira geração podem ser úteis contra monkeypox, nos casos de profilaxia pós-exposição de contatos (preferencialmente em até 4 dias para prevenir a doença e 4 a 14 dias para redução de sintomas), e como profilaxia pré-exposição de profissionais de saúde com alto risco de exposição e profissionais de laboratório que trabalham com Orthopoxvirus ou que realizam testes diagnósticos para monkeypox.

Confira mais da cobertura do Portal PEBMED na AIDS 2022:

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.