Albumina é melhor que cristaloide em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca?

Estudo testou a hipótese de que a albumina reduziria pelo menos um evento adverso maior em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca com CEC.

Pacientes submetidos a cirurgia cardíaca com uso de circulação extra corpórea (CEC) necessitam de uma solução no circuito da CEC e a solução com albumina, que tem efeito coloidosmótico, mostrou alguns possíveis benefícios, como preservar o glicocálice endotelial, efeitos antioxidativos e anti-inflamatórios.

Alguns estudos prévios mostraram que a albumina pode ser melhor que os cristaloides nessa situação, com melhor manutenção da função cardíaca, menor queda de plaquetas e menor ganho de fluidos. Outros efeitos como na função renal e na quantidade de sangramento pelos drenos são controversos ou sem muita diferença em relação a solução salina. Os dados em relação a reposição volêmica no intra e pós-operatório também são controversos.

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Baseado nisso, foi feito um estudo (ALBICS trial) com objetivo de comparar a segurança e eficácia da albumina a 4% ao grupo Ringer acetato como solução utilizada na CEC e como reposição volêmica no intra e pós-operatório de pacientes submetidos a cirurgia cardíaca com CEC. A hipótese é que a albumina reduziria pelo menos um evento adverso maior.

Albumina é melhor que cristaloide em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca?

Características do estudo e população envolvida

Foi um estudo unicêntrico, randomizado, duplo cego, que comparou as soluções de albumina a 4% e Ringer acetato em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca em um hospital na Finlândia.

Os critérios de inclusão eram pacientes entre 18 e 90 anos que seriam submetidos a cirurgia cardíaca eletiva ou de urgência única ou combinada (revascularização, reparo ou troca valvar, correção de raiz de aorta ou aorta ascendente).

Os critérios de exclusão eram cirurgia de emergência, por doenças congênitas, infecção, insuficiência cardíaca (IC) ou síndrome de baixo débito cardíaco, doença renal crônica terminal, hemofilia, recusa em receber transfusão, uso de clopidogrel, ticagrelor, prasugrel, apixabana ou rivaroxabana nos 3 dias antes da cirurgia.

As soluções foram utilizadas de forma cega, tanto na solução da CEC e durante a cirurgia quanto nas primeiras 24 horas após ou até a alta da UTI (o que ocorresse primeiro), em um volume máximo de 3.200 mL. Após esse período o Ringer acetato era utilizado para todos.

O desfecho primário de efetividade era o número de pacientes com pelo menos 1 evento adverso maior durante o período de 90 dias. Os eventos adversos maiores compreendiam: mortalidade por todas as causas, injúria miocárdica, IC nova ou síndrome de baixo débito com necessidade suporte inotrópico ou mecânico, necessidade de reabordagem cirúrgica, AVC, arritmias graves, sangramento maior, infecção com comprometimento do processo de reabilitação e insuficiência renal aguda (IRA).

O desfecho secundário era o número total de eventos adversos maiores, incidência de eventos adversos cardíacos (morte cardíaca, IAM, IC, arritmias), quantidade de transfusão realizada, balanço hídrico total, perda sanguínea pelos drenos, IRA, dias livres de ventilação mecânica, dias fora da UTI em 90 dias, dias em casa em 90 dias e mortalidade em 90 dias.

Resultados

De 2017 a 2020, foram analisados dados de 1.386 pacientes. As características de base foram semelhantes entre os dois grupos, com idade média de 65 anos, maioria do sexo masculino e maioria submetida a cirurgia de revascularização miocárdica isolada.

Pacientes do grupo albumina receberam uma média de 2.150 mL de fluidos, sendo 994 mL no intraoperatório e 1.033 mL na UTI, enquanto os do grupo Ringer receberam uma média de 3.298 mL, sendo 1.909 mL no intraoperatório e 919 mL na UTI, com diferença estatística entre os dois grupos (p < 0,001).

Pelo menos um evento adverso maior ocorreu em 257 pacientes (37,1%) do grupo albumina e em 234 pacientes (33,8%) do grupo Ringer, sem diferença estatística. A ocorrência de injúria miocárdica foi menor no grupo albumina (p < 0,001), porém a ocorrência de sangramento, necessidade de reoperação e infecção foi maior (p = 0,01, p = 0,001 e p = 0,02, respectivamente). Não houve diferença entre os outros componentes do desfecho primário.

Em relação aos desfechos secundários, o balanço hídrico foi significativamente menor no grupo albumina, porém esse grupo teve maior débito pelos drenos e maior necessidade de transfusão de hemácias e plaquetas.

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Comentários e conclusão

Esse estudo mostrou que o uso de albumina a 4% comparado ao Ringer acetato em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca com CEC não reduziu o risco de eventos adversos maiores em 90 dias.

Apesar de haver menor injúria miocárdica no grupo albumina, não houve diminuição de IC ou arritmias, ou seja, apesar de os biomarcadores serem mais baixos não houve grande repercussão clínica. Além disso, o grupo com albumina teve maior ocorrência de sangramento, reoperação e infecção.

Sendo assim, não há evidência para uso de albumina como solução preferencial aos cristaloides no contexto de cirurgia cardíaca.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Pesonen E, et al. Effect of 4% Albumin Solution vs Ringer Acetate on Major Adverse Events in Patients Undergoing Cardiac Surgery With Cardiopulmonary BypassA Randomized Clinical Trial. JAMA. 2022;328(3):251-258. DOI: 10.1001/jama.2022.10461