Alta hospitalar qualificada pode reduzir internações?

Pensando nos benefícios ao paciente e e nos custos em saúde para o sistema, como intervir de modo a reduzir readmissões após alta hospitalar?

No Brasil e no mundo o maior desafio de um sistema de saúde é sua articulação enquanto “sistema”. Em outros termos, isso guarda relação direta com o diálogo entres os níveis (ou nichos, em uma perspectiva horizontalizada) de atenção. Desse modo, fazer com que o serviço de saúde nos cenários hospitalares complexos dialogue com os setores ambulatoriais é peça chave para garantir: integralidade, longitudinalidade e coordenação de cuidado.

Para aqueles que, assim como eu, trabalham nos cenários de atenção primária é sempre uma angústia grande quando um paciente adentra um serviço hospitalar, e um desafio grande assegurar o seguimento deste paciente após sua alta. Quanto menor a integralidade e coordenação de cuidado, mais e mais o paciente manifesta sintomas agudos novos necessitando dos serviços de urgência e emergência ou nova hospitalização.

Com um pensamento de rede e sistema de saúde, esse vai e vem a que se submete o paciente acaba pesando muito na conta final do sistema de saúde, seja ele público ou suplementar. Em 2017, nos Estados Unidos, desde que um programa para diminuição de readmissões hospitalares foi instituído, serviços em que a reinternação é alta além do custo em si do cuidado em saúde os hospitais passaram a ser penalizados com encargos e multas. Naquele ano, os encargos somaram mais de US$ 528 milhões.

Pensando-se então nos benefícios ao paciente ou usuário do serviço de saúde e nos custos em saúde para o sistema, como intervir de modo a reduzir internações e readmissões hospitalares?

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Alta qualificada

Para responder a essa pergunta, pelo menos em parte, uma equipe americana conduziu uma coorte retrospectiva para tentar identificar se um serviço de alta qualificada, em que o paciente sai do hospital com uma consulta agendada com o seu médico generalista no pós-alta , é capaz de reduzir as readmissões hospitalares e reinternações desnecessárias.

O grupo estudou um serviço de saúde israelense, revisando todas as altas hospitalares entre setembro de 2008 e outubro de 2015. Foram avaliados os desfechos após 30 dias da alta de todos os pacientes adultos acima de 18 anos que apresentaram períodos de internação durante os anos de estudo. Pacientes que permaneceram em observação em serviços de urgência e emergência não foram incluídos.

Os pesquisadores levaram ainda em conta: o agendamento e o comparecimento à consulta agendada para avaliar se haveria alterações no número de reinternações ou comparecimento à serviços de pronto-atendimento. Foi considerado como alta qualificada aquela em que o agendamento com o médico de atenção primária ocorreu nos primeiros sete dias após a alta. Contudo, consideraram para análise de sensibilidades períodos de até 14 dias após a alta.

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Resultados

O que os pesquisadores encontraram foi que entre mais de 17 mil internações, o uso de agendamentos precoces ocorreu em 31,9% dos casos. Entres os pacientes que passaram pelo processo, houve uma adesão à consulta de retorno muito maior em pacientes com retorno precoce (inferior à sete dias) e entre eles houve uma redução de 3,8 (IC 95%, -5,2,-2,4) nas chances de readmissões hospitalares em 30 dias, além disso uma redução de 1,6 (IC 95%, -3,2,-0,04) pontos nas chances de se comparecer a um serviço de urgência e emergência.

Embora o estudo apresente limitações metodológicas importantes, ele retoma uma discussão extremamente pertinente. Ainda que a redução na probabilidade de reinternação não tenha sido significativa neste estudo (o que não é o mais encontrado na literatura, que aponta esse caminho como de alta efetividade), ela foi responsável por aumentar muito a adesão à consulta de retorno. Isso por sua vez, facilita um maior vínculo com o serviço de saúde e por isso garante um cuidado mais próximo ao paciente.

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Como isso muda a sua prática? Independente do ponto em que você trabalhe no sistema de saúde, a grande chave de resposta aqui é o contato com o serviço de outros nichos de atenção. Se você é profissional que atua em cenários de maior complexidade com internações, verifique o plano de alta do paciente com maior rigor a fim de proporcionar o seguimento de transição ambulatorial o mais precoce possível.

Por outro lado, se você é profissional que atua na outra ponta, em cenários ambulatoriais e vai receber o paciente pós alta, facilite o processo de comunicação reforçando as pontes entre os cenários de atenção, proporcionando melhores seguimentos e qualidade de serviços.

Referência bibliográfica:

  • Felippe O Marcondes, MD, Paawan Punjabi, MD, Lauren Doctoroff, MD, Anjala Tess, MD, Sarah O’Neill, MBA, Timothy Layton, PhD, Kramer Quist, BS, Ateev Mehrotra, MD, MPH, Does Scheduling a Postdischarge Visit with a Primary Care Physician Increase Rates of Follow-up and Decrease Readmissions?. Published Online Only September 18, 2019. DOI: 10.12788/jhm.3309

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