Carga pressórica cumulativa e risco cardiovascular em pacientes diabéticos

Conheça um estudo com objetivo de estimar a associação entre carga pressórica e eventos cardiovasculares maiores.

Pacientes hipertensos têm o controle pressórico avaliado com base em medidas de pressão arterial (PA) isoladas, medidas em um momento único e consideradas adequadas quando estão abaixo de um valor de corte pré-definido. Esta abordagem pode não ser tão adequada, pois as medidas de PA variam ao longo do tempo e nem sempre a última medida reflete o controle pressórico real. 

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O tempo que o paciente permanece abaixo da meta de pressão é conhecido como tempo no alvo, com a sigla TITRE (do inglês, Time on Target) e é um novo marcador de risco cardiovascular. Esse marcador incorpora o tempo em que a pressão fica na meta, porém não avalia a magnitude da elevação da PA. A carga pressórica, que é o tempo em que o paciente fica acima da meta durante as 24 horas, poderia trazer informações interessantes, porém também não avaliar a magnitude da elevação da PA. 

Baseado nisso, surgiu o conceito de carga pressórica cumulativa, medida que relaciona a magnitude do aumento da PA ao longo do tempo e que parece ter relação com lesão de órgão alvo. Essa medida é definida como a área sob a curva expressa em unidade de mmHg pelo tempo. Porém, há poucos estudos sobre este assunto. 

Foi feito, então, um estudo com o objetivo de estimar a associação entre carga de pressão sistólica cumulativa ao longo de 24 meses e eventos cardiovasculares maiores. Outro objetivo é, também, determinar se esta medida é um preditor de eventos melhor que PA sistólica (PAS) média, TITRE de PAS e variabilidade das medidas de PAS isoladas em consultas (desvio padrão). 

Lipoproteína a e escore de cálcio como preditores de risco cardiovascular 

Métodos

O estudo foi controlado e randomizado, em formato 2 x 2. Avaliou os efeitos do tratamento de hipertensão e de diabetes em desfechos vasculares em pacientes com diabetes tipo 2. 

Foram randomizados 11140 pacientes com diabetes tipo 2 e alto risco cardiovascular, em 215 centros de 20 países. Metade dos participantes recebia dose fixa de perindopril 4mg associado a indapamida 1,25mg ou placebo e glicazida, com o objetivo de controle intensivo do diabetes (alvo de hemoglobina glicada menor que 6,5%) ou controle de diabetes com tratamento padrão do local. Após o término do estudo, 8494 pacientes continuaram sendo acompanhados no longo prazo. 

Para esta análise, foram incluídos 9338 participantes, que tiveram medidas de PAS em 6 ocasiões: 3, 4, 6, 12, 18 e 24 meses. O corte de PAS foi definido em 130 mmHg, baseado nas diretrizes mais atuais. A medida TITRE de PAS foi calculada como a porcentagem de tempo abaixo da PA alvo ao longo do seguimento.

A PAS média foi calculada pela média das medidas em cada ocasião e o desvio padrão da PAS, calculado a partir das mesmas seis medidas. A medida de PAS longitudinal foi estimada com base em interpolação linear, o que possibilitou o cálculo da carga de pressão sistólica cumulativa. 

O seguimento foi realizado por 24 meses ou até a ocorrência do primeiro evento cardiovascular que compunha o desfecho primário do estudo: morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio (IAM) não fatal e acidente vascular cerebral (AVC) não fatal. O desfecho secundário eram os componentes do desfecho primário e mortalidade por todas as causas. 

Resultados 

Quanto às características dos pacientes, a idade média era de 65 anos e 42% eram mulheres. Ao avaliar os pacientes com maior carga de pressão sistólica cumulativa, estes eram mais velhos (67 x 65 anos) e com maior prevalência de fatores de risco cardiovasculares tradicionais, exceto história de doença coronária e tabagismo, mais comuns nos com menor carga de pressão sistólica cumulativa. 

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A medida de carga de pressão sistólica cumulativa teve forte correlação com PAS média e TITRE de PAS, porém não teve relação com desvio padrão da PAS. 

Dos 9.338 pacientes, 217 tiveram um evento cardiovascular maior em 2 anos. No seguimento médio de 7,6 anos 1649 pacientes tiveram um evento cardiovascular maior e 1615 morreram, sendo 660 por morte cardiovascular, 491 por IAM e 674 por AVC. O risco de ter um evento cardiovascular maior aumentou de forma linear com o aumento da carga de pressão sistólica cumulativa (p < 0,001), com o quartil mais alto associado a 24% de risco de evento cardiovascular maior comparado ao quartil mais baixo.

Tendência semelhante foi observada para mortalidade por todas as causas (p = 0,001), mortalidade cardiovascular (p < 0,001) e IAM (p < 0,001), porém não para AVC (p = 0,492). 

Cada aumento na carga de pressão sistólica cumulativa foi associado com aumento de 14% no risco de eventos cardiovasculares maiores (HR 1,14; IC95% 1,09-1,20), 13% no risco de mortalidade por todas as causas (HR 1,13; IC95% 1,13-1,18), 19% no risco de IAM (HR 1,19; IC95% 1,10-1,29) e 10% no risco de AVC (HR 1,10; IC95% 1,02-1,18).

Níveis mais altos das outras medidas de PAS também foram associados a maior risco de desfecho primário e secundário, exceto TITRE de PAS em relação À mortalidade por todas as causas e AVC e o desvio padrão da PAS em relação a AVC. 

A carga de pressão sistólica cumulativa se manteve como preditor independente de risco, mesmo após ajuste para os fatores de risco tradicionais. 

Considerações 

Neste estudo, a carga de pressão sistólica cumulativa foi associada à ocorrência de eventos cardiovasculares e mortalidade em pacientes diabéticos, independente de outros fatores de risco.  

Essa medida incorpora tanto a duração quanto a magnitude da exposição à PAS em uma única medida e mostrou ser um preditor de risco superior às outras medidas que avaliam a PA, o que mostra sua importância e possível contribuição futura em algoritmos de predição de risco.

Mensagem prática 

Estes dados também reforçam a necessidade de se tratar a hipertensão de forma precoce, no intuito de minimizar a exposição prolongada a níveis de PAS aumentados, seja com medidas não farmacológicas ou associado a medicação, caso indicado.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Nelson Wang, Katie Harris, Pavel Hamet, Stephen Harrap, Giuseppe Mancia, Neil Poulter, Bryan Williams, Sophia Zoungas, Mark Woodward, John Chalmers, Anthony Rodgers, Cumulative Systolic Blood Pressure Load and Cardiovascular Risk in Patients With Diabetes, Journal of the American College of Cardiology, Volume 80, Issue 12, 2022, Pages 1147-1155, ISSN 0735-1097, https://doi.org/10.1016/j.jacc.2022.06.039.