Como garantir a segurança de crianças no trânsito?

Neste artigo especial, vamos abordar os cuidados necessários para manter a segurança de crianças e adolescentes durante grandes eventos como o Carnaval.

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Em todo o mundo, os acidentes de trânsito são responsáveis por mais de 1 milhão de mortes e aproximadamente 10 milhões de lesões incapacitantes e permanentes anualmente. A maior parte ocorre em países de média e de baixa renda1,2. Dados do relatório de 2018 da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que, no Brasil, houve 38.651 mortes por acidentes de trânsito em 2015 e uma estimativa de 41.007 acidentes rodoviários fatais em 20163.

Este número exorbitante de óbitos anuais no Brasil ocorre devido a diversos fatores, como o aumento progressivo do número de veículos circulantes, o crescimento da população (industrial e urbano), a escassez de conhecimento da população sobre medidas de segurança no trânsito, a carência de uma legislação efetiva, a certeza da impunidade e as péssimas condições de rodovias1.

As crianças são bastante vulneráveis a traumatismos no trânsito por suas características peculiares de falta de noções sobre perigo, sua autonomia, curiosidade, controle motor ainda em desenvolvimento e anseio em imitar os mais velhos1. Nos traumas relacionados ao trânsito, a energia presente é a mecânica, havendo grande impacto do corpo com superfícies rígidas e transmissão de energia cinética superior à capacidade da criança em conseguir absorvê-la. Dessa forma, diferentes graus de intensidade estão presentes nestes tipos de trauma.

Portanto, é extremamente relevante que o pediatra compreenda os recursos de segurança que reduzam os efeitos da energia cinética em diversos tipos de trauma e oriente os pais em relação a estes recursos1. Além disso, o Carnaval está aí. Além do aumento do fluxo de veículos, as ruas estarão lotadas de pessoas4. É importante que o pediatra oriente os pais a estarem mais atentos neste período.

criança trânsito

Crianças e jovens pedestres

Crianças e adolescentes têm elevado risco de atropelamentos. Fatores associados a este risco englobam: idade entre três a 12 anos, meninos, atravessar a rua em outro local que não seja a faixa de pedestres, quantidade de ruas a serem atravessadas, horário de escola, áreas de recreação e habitações sem quintal. Ademais, o elevado número de veículos circulantes, as péssimas condições de calçadas e ruas, a sinalização ruim, a falta de ensino direcionado para a segurança de pedestres e a frequente impunidade aos infratores estão associadas também a este risco1.

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O Quadro 1 mostra os principais tipos de atropelamento de acordo com a faixa etária. Lembrem-se sempre que os menores de 10 anos nunca devem enfrentar qualquer tipo de trânsito sem a supervisão de um adulto1. As crianças devem ser sempre conduzidas de mãos dadas com os adultos, particularmente ao atravessar as ruas, sempre na faixa de pedestre e respeitando-se a sinalização4.

Quadro 1: Riscos de atropelamento de acordo com a faixa etária.

Faixa etária Riscos de atropelamento
2 anos Entradas de garagens
4 anos Estacionamentos
6 anos Passam a correr em outros locais, com quadras
10 anos Cruzamentos
Adolescentes (10 a 15 anos) Patins e skates
>15 ou 16 anos Ingestão de álcool ou uso de drogas

Fonte: Adaptado de Blank & Waskman, 2017.1

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, é obrigação do pediatra assumir uma posição política em defesa da segurança da criança e do jovem, engajando-se nas iniciativas promotoras da segurança, através de, por exemplo, inclusão da temática em consultas de puericultura e indicação de materiais audiovisuais, envolvendo as famílias neste processo2. O Quadro 2 contém as principais medidas para a proteção do pedestre recomendadas pela OMS.

Quadro 2: Medidas eficazes na proteção de pedestres segundo a Organização Mundial de Saúde.

  • Ambiente planejado para a segurança do pedestre
  • Medidas de engenharia para separar pedestres de veículos
  • Playgrounds cercados e afastados de ruas movimentadas
  • Cercas impedindo o cruzamento de vias mais movimentadas
  • Calçadas limpas e próprias para uso em toda sua extensão
  • Tráfego de automóveis desviado da proximidade de escolas
  • Ruas com mão única e estacionamento restrito
  • Limites de velocidade baixos e controlados efetivamente por leis bem aplicadas
  • Controles eletrônicos de velocidade e/ou quebra-molas
  • Controle efetivo do ato de beber e dirigir
  • Transporte público adequado e acessível
  • Pedestres com vestimentas mais visíveis
  • Design de veículos para proteção de pedestres

Fonte: Adaptado de Blank & Waskman (2017) e Sociedade Brasileira de Pediatria (2017)1,2.

Crianças e jovens passageiros de automóveis

As seguintes recomendações são prioritárias para a segurança de crianças em automóveis: uso de dispositivo de contenção apropriado para a idade e para o tamanho da criança e corretamente instalado durante todo o período da viagem; crianças com menos de 13 anos de idade devem estar sempre no banco traseiro do automóvel.

Atenção deve ser dada ao fato que os assentos de segurança específicos para crianças apresentam características peculiares para cada fase do desenvolvimento, desde a alta da maternidade até que a criança/adolescente atinja a altura de 145 cm, quando então poderá utilizar os cintos de segurança1. Lembrem-se que agora no Carnaval, a atenção deve estar redobrada, pois haverá muitos motoristas embriagados nestes dias tumultuados4. O Quadro 3 apresenta os quatro estágios para a segurança de crianças como passageiras de automóveis.

Estágio Tipo de assento Comentários Observações
1 Assento infantil tipo bebê-conforto, voltado para trás A criança deve usar este assento do nascimento até que tenha atingido o limite máximo de peso ou de altura recomendados pelo fabricante (pelo menos até 2 anos). Assento de costas para o painel do veículo, de preferência no meio do banco traseiro, preso pelo cinto de segurança ou por presilhas para assentos infantis, se disponíveis. A criança deve viajar obrigatoriamente no banco de trás do veículo
2 Assento infantil tipo cadeirinha, voltado para a frente Criança com mais de 2 anos ou acima do limite máximo de peso ou de altura permitido para o assento infantil tipo bebê-conforto. Cadeirinha com cintos de segurança próprios, pelo maior tempo possível, até atingir a altura ou o peso limitados pelo fabricante. Diversos modelos podem acomodar crianças até 22 kg (durante todo o período pré-escolar). O menor limite máximo de peso nas cadeirinhas de segurança disponíveis é de 18 kg (entre 3 e 7 anos). A criança deve viajar obrigatoriamente no banco de trás do veículo
3 Assento infantil de elevação ou booster Criança com peso ou estatura acima do limite máximo disponível permitido para a cadeirinha de segurança deve usar este assento de elevação até atingir a estatura de 145 cm (entre 9 e 13 anos). O cinto de segurança deve se adaptar com perfeição (porção subabdominal passando pela pelve, porção do ombro passando pelo meio do ombro e do tórax e pés encostando no assoalho). Se o carro apenas tiver cintos subabdominais no banco de trás, o assento de elevação não deve ser usado. A criança deve viajar obrigatoriamente no banco de trás do veículo
4 Cinto de segurança Altura mínima de 145 cm e peso de 36 kg. As costas têm que tocar no encosto do assento, joelhos dobrados confortavelmente, pés no chão e cinto se segurança passando pelo tórax e pela pelve. Todas as crianças até 13 anos devem viajar no banco de trás.

Fonte: Adaptado de Blank & Waskman, 2017.1

Adolescentes

As recomendações dos pediatras para a segurança de adolescentes no trânsito incluem:

  • Orientar sobre a não utilização de bebidas alcóolicas ou drogas;
  • Uso do cinto se segurança em qualquer veículo (menores de 13 anos ou acima de 13 anos que não atingiram a 145 cm de estatura devem usar assento de elevação – ainda que a legislação brasileira considere até 10 anos);
  • Não tentar dirigir qualquer tipo de automóvel antes dos 18 anos e sem habilitação;
  • Adolescentes com idades entre 10 e 12 anos ainda devem andar acompanhados na rua;
  • Orientar sobre as regras de trânsito para pedestres;
  • Usar capacetes ao andar de bicicleta ou moto1.

Ciclistas e motociclistas

Os pediatras devem orientar os pais e os pacientes, a partir de determinada fase, sobre as regras de segurança para ciclistas. Estas regras são extensivas a motociclistas adultos (Quadro 4).

 

Antes de sair com a bicicleta
Verificar se a bicicleta é do tamanho adequado para a criança. O tamanho é considerado adequado quando a criança é capaz de colocar os pés no chão por inteiro, mesmo sentada no banco.

Checar a altura certa do banco: o banco estará com a altura adequada quando a perna da criança ficar levemente dobrada com o pé apoiado no pedal, evitando sobrecargas no joelho quando pedalar.

Colocar adesivos refletores nos paralamas traseiro e dianteiro e nos pedais.Verificar os freios, calibrar pneus e checar se as correntes da bicicleta estão limpas e lubrificadas.

 

Ao sair com a bicicleta
Usar sempre o capacete em qualquer lugar, em todos os percursos e durante todo o tempo do trajeto.

Ajustar corretamente os capacetes na cabeça de forma que, caso oscile, puxe a pele da testa e das têmporas.

Usar vestimentas de fácil visualização, com cores vibrantes (laranja, amarelo, verde claro).

Nunca usar a bicicleta sob efeito de álcool.

Evitar andar de bicicleta à noite.

Não utilizar fones de ouvido enquanto pedala.

Não usar calçados que possam ficar instáveis durante a pedalada ou que possam enroscar nos pedais.

Andar por ciclovias, sempre que elas forem disponíveis.Sempre andar pelo lado direito.

Sempre andar junto com o fluxo do trânsito e nunca contra ele.

Manter as mãos sempre no freio ou próximas a ele.Sempre estar preparado para parar.

Atenção a condições de periculosidade na pista: lombadas, pedregulhos, areia, poças de água, depressões, folhas molhadas.

Cuidado com cruzamentos.

Usar sinais de mão.

Obedecer à sinalização.

Comporta-se com a bicicleta como se estivesse em um automóvel.Andar, no mínimo, a 1 metro de distância de automóveis estacionados (alguém saindo do carro pode abrir a porta de forma inesperada e machucar o ciclista).

Fonte: Adaptado de Blank & Waskman, 2017.1

Estes cuidados no trânsito devem ser tomados não somente no Carnaval, mas durante todo o ano. Neste ano, a Semana Global de Segurança no Trânsito, em sua sexta edição, será realizada de 6 a 12 de maio de 2019.

Leia mais matérias do Especial de Carnaval:

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Referências:

  1. BLANK, D.; WASKMAN, R. D. Segurança no Trânsito. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Tratado de Pediatria. Barueri, São Paulo: Editora Manole, 2017. Volume 1. Cap. 2. p. 75-80.
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Prevenção das mortes no trânsito é tema de campanha da ONU que tem o apoio da SBP. 2017. Disponível em: http://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/prevencao-das-mortes-no-transito-e-tema-de-campanha-da-onu-que-tem-o-apoio-da-sbp/. Acesso em: 27 de fev. 2019.
  3. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global status report on road safety 2018. 2019. Disponível em: https://www.who.int/violence_injury_prevention/road_safety_status/2018/en/. Acesso em: 27 de fev. 2019.
  4. TUDO RONDÔNIA. Carnaval livre de acidentes de trânsito em Rondônia pede a contribuição de todos. 2019. Disponível em: https://www.tudorondonia.com/noticias/carnaval-livre-de-acidentes-de-transito-em-rondonia-pede-a-contribuicao-de-todos,27754.shtml. Acesso em: 27 de fev. 2019.

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