Desfechos a longo prazo do uso de betabloqueador para doença coronária estável

Estudo de coorte analisou pacientes com doença aterosclerótica coronária (DAC) estável submetidos a procedimentos cardíacos invasivos desde 2008.

Os betabloqueadores (BB) são utilizados com frequência em pacientes com doença aterosclerótica coronária (DAC) estável, com melhora dos sintomas anginosos. Apesar disso, não há evidência que essa classe de medicação tenha algum outro benefício, como redução de mortalidade, encontrada nos casos de doença coronária aguda.

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A maioria dos estudos que avaliaram DAC estável incluíram pacientes que já estavam em uso de BB e muitas vezes não tinham documentação da DAC por exames. Baseado nisso, foi feito um estudo que avaliou a associação do início recente do tratamento com BB e desfechos cardiovasculares a longo prazo em pacientes com DAC estável confirmada angio graficamente.

Desfechos a longo prazo do uso de betabloqueador para doença coronária estável

Métodos do estudo

Foi estudo de coorte populacional, retrospectivo, que incluiu pacientes de Ontario, no Canada. Os dados foram obtidos de um registro prospectivo que inclui todos os pacientes submetidos a procedimentos cardíacos invasivos desde 2008. Dados sobre o uso de medicação foram obtidos a partir de outros registros.

Os pacientes tinham idade entre 66 e 105 anos, DAC obstrutiva (> 50% em tronco de coronária esquerda ou > 70% em qualquer artéria epicárdica principal) diagnosticada em exame eletivo entre 2009 e 2019. Foram excluídos pacientes com insuficiência cardíaca (IC), infarto agudo do miocárdio (IAM) no ano anterior ao exame e os submetidos a revascularização cirúrgica nos três meses após o exame, assim como os com comorbidades não cardíacas graves.

O uso do BB foi considerado quando prescrito nos 90 dias antes ou após o exame. Foram considerados todos os BB, exceto carvedilol e sotalol, pois em Ontario, essas medicações são usadas apenas para tratamento de IC ou fibrilação atrial (FA) respectivamente.

Os desfechos foram avaliados a partir de 90 dias da realização do exame e o desfecho primário era composto por primeira ocorrência de mortalidade por todas as causas e internação por IC ou IAM. O desfecho secundário era composto pelos componentes individuais do desfecho primário, morte cardiovascular, revascularização, internação por acidente vascular cerebral (AVC), ida à emergência por angina instável e hipoglicemia (desfecho de segurança).

Resultados

Angiografia eletiva foi realizada em 294.966 pacientes no período analisado. Desses, 49% tinham menos de 66 ou mais de 105 anos e 13% tinham angiografia prévia, sendo excluídos do estudo. Aproximadamente um terço do restante também foi excluído por ter IC, IAM ou comorbidades clínicas graves. Do restante, 28% foram excluídos por não ter DAC obstrutiva e 41% por já utilizar BB, restando assim, 28.039 pacientes.

Dos pacientes avaliados, 45,3% estavam no grupo com BB e 54,7% no grupo sem BB. A maioria utilizou bisoprolol (66%), metoprolol (28,7%) e atenolol (4,6%). Pacientes do grupo BB tinham idade menor (72,8 x 73,3 anos), predomínio do sexo masculino (66,6% x 65,9%), tinham menos frequentemente doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e doença arterial periférica (DAP). Ainda, era mais frequente terem exames de alto risco isquêmico e presença de doença multiarterial. Após análise que avaliou o peso do tratamento, os dois grupos eram bem parecidos entre si.

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A incidência cumulativa do desfecho primário em 5 anos foi de 14,3% no grupo BB e 16,1% no grupo sem BB, com redução absoluta de risco de 1,8% e NNT para prevenir um evento cardiovascular maior de 56 em 5 anos (HR 0,92; IC 95% 0,86-0,98, p = 0,006). Não houve diferença na análise de subgrupos.

O grupo que usou BB teve redução relativa de 8% no risco de internação por IAM (p = 0,031). Não houve diferença em relação a mortalidade e internação por IC, assim como para morte cardiovascular, angina instável, AVC e revascularização subsequente.

Comentários e conclusão

Neste estudo, pacientes com DAC documentada por exame de angiografia, que não tinham IC ou IAM recente, tiveram benefício pequeno, porém significativo, com uso de BB. Houve redução do risco relativo em 8% e redução do risco absoluto em 1,8% na ocorrência do desfecho composto de mortalidade por todas as causas e internação por IC ou IAM no seguimento de 5 anos, quando comparado ao não uso de BB.

Estes resultados foram obtidos às custas de redução de internações por IAM e os resultados foram consistentes em todos os subgrupos.

Mensagem prática

O mecanismo que justificaria o benefício do BB não é totalmente compreendido e algumas hipóteses são a redução da progressão da doença coronária, prevenção da ruptura da placa e redução da agregação plaquetária. Apenas a redução da frequência cardíaca não parece ser suficiente para gerar uma resposta cardioprotetora. Assim, mais estudos randomizados sobre uso de BB em pacientes com doença aterosclerótica coronária (DAC) estável são necessários confirmar os resultados e entender seu mecanismo protetor, já que é classe de medicação segura e barata.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Godoy LC, Farkouh ME, Austin PC, Shah BR, Qiu F, Jackevicius CA, Wijeysundera HC, Krumholz HM, Ko DT. Association of Beta-Blocker Therapy With Cardiovascular Outcomes in Patients With Stable Ischemic Heart Disease. J Am Coll Cardiol. 2023 Jun 20;81(24):2299-2311. DOI: 10.1016/j.jacc.2023.04.021.

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