Dexmedetomedina ou propofol: qual droga causa mais delírio no pós-operatório?

Estudo comparou dexmedetomedina e propofol e sua correlação com delírio após cirurgia ortopédica em idosos.

O delírio no pós-operatório é uma complicação que gera hospitalização prolongada, atrasa a recuperação e aumenta a morbidade especialmente nos idosos. Além disso, é um fator de risco para a demência. Como sua etiologia é multifatorial, é difícil de tratar ou prevenir.

Fatores que podem contribuir para o delírio são a idade avançada e cirurgia ortopédica, por exemplo.

É bem estabelecido que a administração no período perioperatório de dexmedetomedina está associada com menor incidência de delírio após anestesia geral e que a incidência de delírio após cirurgia cardíaca é menor quando é utilizado dexmedetomedina comparado com propofol.

Nesse estudo, o interesse era comparar as duas drogas e sua correlação com delírio após cirurgia ortopédica em idosos submetidos a raquianestesia com sedação.

Dexmedetomedina ou propofol qual droga causa mais delírio no pós-operatório

Métodos

O espaço amostral consistia de pacientes adultos com 65 anos ou mais, que iriam fazer cirurgia de membros inferiores sob raquianestesia. Aqueles que recusaram sedação e aqueles que já possuíam deficiências visuais ou cognitivas, problemas neuropsiquiátricos ou doenças cerebrovasculares foram excluídos. Foi um estudo randomizado conduzido em dois grupos de igual tamanho. Como as drogas possuem cores e métodos de infusão diferentes, o anestesiologista que anestesiou esses pacientes estava ciente da medicação aplicada. Contudo, o pesquisador que coletou e analisou os dados não sabia da medicação utilizada.

Leia também: Síndrome da infusão de propofol

Nenhum dos pacientes recebeu medicação pré-anestésica. Todos estavam monitorizados com pressão arterial não invasiva, cardioscopia e oximetria de pulso. A raquianestesia foi feita em decúbito lateral, com uma agulha do tipo Quincke 25G, entre L3-L4 ou L4-L5, com uma abordagem mediana ou paramediana. Foi utilizado 2 a 3 mL de bupivacaína hiperbárica 5 mg/mL com fentanil 10-20 microgramas intratecal.

A sedação somente foi iniciada após o bloqueio espinhal adequado e foi titulada durante toda a cirurgia pelo anestesista.

No grupo em que foi administrado o propofol, foi utilizada uma bomba alvo controlada ajustada para uma concentração efeito de 1 a 2 microgramas/mL, sendo interrompida quando o curativo estava sendo aplicado no sítio cirúrgico.

Já a dexmedetomedina foi inicialmente administrada a 1 microgramas/kg em 10 minutos seguida de 0,1 a 0,5 microgramas/kg/h, tendo sua administração encerrada quando os pontos no subcutâneo e pele foram iniciados (cerca de 30 minutos antes de interromper o propofol, em comparação com o outro grupo).

A hipotensão foi tratada com fenilefrina ou efedrina e a bradicardia com atropina.

Avaliação pós-operatória

Foi utilizado o “confusion assessment method” (CAM) para determinar a ocorrência de delirium pois é uma ferramenta feita para ser utilizada por médicos que não são psiquiatras e possui uma sensibilidade de 94 a 100% e especificidade de 90 a 95%. O pesquisador que não sabia qual droga foi administrada utilizou a avaliação até o terceiro dia de pós-operatório. Se em algum dos dias a avaliação resultou como positiva, o caso era classificado como delirium.

O desfecho primário era a incidência de delírio. Já o desfecho secundário eram variáveis hemodinâmicas (pressão arterial e frequência cardíaca).

Resultados

Dentre os 785 selecionados para o estudo, 37 foram excluídos. Posteriormente, algumas cirurgias foram canceladas. Restaram então 366 participantes em cada grupo.

A função cognitiva basal não diferiu entre os dois grupos. O delirium pós-operatório foi significativamente menor no grupo dexmedetomidina do que no grupo propofol (3,0% vs. 6,6%; odds ratio, 0,42; IC 95%, 0,201 a 0,86; P = 0,036). Ademais, o delirium pós-operatório foi relatado com mais frequência no primeiro dia de pós-operatório nos dois grupos.

Saiba mais: Revisão sistemática e metanálise avalia os fatores de risco no delirium pediátrico

A PAM foi maior no grupo dexmedetomidina (P < 0,001), sendo usadas concentrações menores de fenilefrina (1,06 microgramas · kg-1 · h-1 vs. 1,76 microgramas · kg-1 · h-1, respectivamente; P = 0,049). Porém, a PAM do grupo dexmedetomidina foi significativamente menor na SRPA (P < 0,001; fig. 2A; tabela 2), exigindo assim uma quantidade maior de fenilefrina do que o grupo propofol (0,25 microgramas · kg-1 · h-1 vs. 0,21 microgramas· kg-1 · h-1, respectivamente; P = 0,002). Além disso, a FC foi menor no grupo dexmedetomidina, seja na sala operatória ou na sala de recuperação pós anestésicos.

Discussão

Inúmeros estudos observam uma frequência menor de delirium no paciente sedado com dexmedetomedina comparado com o propofol na UTI. Alguns mecanismos são propostos para justificar esse efeito. Por exemplo, a dexmedetomedina não atua na inibição da liberação de acetilcolina e não provoca muita depressão respiratória e hipoxemia.

Uma lacuna desse estudo foi que a dor pós-operatória e a necessidade de analgésicos — considerados fatores de risco para a ocorrência de delirium pós-operatório — não foram avaliados.

Mensagem prática

Os pacientes sedados com dexmedetomidina podem ter menor incidência de delirium quando comparados à sedação com propofol, sugerindo gigantesco benefício da dexmedetomidina! Considere utilizar essa droga em seu arsenal terapêutico, especialmente nos idosos.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Hyun-Jung Shin, Sun Woo Nam, Heeyeon Kim, Subin Yim, Sung-Hee Han, Jung-Won Hwang, Sang-Hwan Do, Hyo-Seok Na; Postoperative Delirium after Dexmedetomidine versus Propofol Sedation in Healthy Older Adults Undergoing Orthopedic Lower Limb Surgery with Spinal Anesthesia: A Randomized Controlled Trial.  Anesthesiology 2023; 138:164–171. DOI: 10.1097/ALN.0000000000004438

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