Disbiose intestinal: o que é e como evitar?

A disbiose intestinal é uma condição associada a diversas doenças, contribuindo para os seus desenvolvimentos e gravidade.

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A microbiota intestinal pode ser considerada um órgão adicional que contribui para o bem-estar do organismo hospedeiro. Os trilhões de microrganismos que colonizam o trato gastrointestinal influenciam nosso organismo tanto local, quanto sistemicamente, com importante papel na transformação de nutrientes, fornecimento de vitaminas, imunidade de mucosa, comunicação cérebro-intestino, intestino-pulmão, intestino-coração e até mesmo a progressão de tumores.1 Assim como outros órgãos, o funcionamento adequado da microbiota intestinal depende de uma composição celular estável, que, no caso da microbiota humana, consiste principalmente de bactérias dos filos Bacteroidetes, Firmicutes, Actinobacteria e, em menor proporção, Proteobacteria. Além disso, vírus, fungos, eucariontes e arqueas também compõem esse grande ecossistema.2 Grandes alterações na proporção entre esses filos ou a expansão de novos grupos bacterianos levam a um desequilíbrio que promove doenças, o que é conhecido como disbiose. A redução da diversidade microbiana e o crescimento de Proteobacteria, incluindo Escherichia coli e espécies Klebsiella, são características típicas da disbiose.1,3

O recente desenvolvimento de técnicas de sequenciamento da unidade 16S do RNA ribossomal bacteriano resultou em uma explosão de trabalhos que reforçam a importância da microbiota intestinal na regulação da saúde e da doença.1 Já em 400 a.C., Hipócrates afirmava que “a morte está nos intestinos” e “a má digestão é a origem de todo mal”.4 Atualmente, um número crescente de doenças está associado à disbiose intestinal, que, em alguns casos, contribui para o desenvolvimento e/ou gravidade da doença. A disbiose é uma característica, por exemplo, das doenças inflamatórias intestinais (DII), como retocolite ulcerativa e doença de Crohn, mas também de doenças intestinais funcionais, metabólicas, autoimunes, distúrbios mentais e neurológicos.1,5

Disbiose intestinal o que é e como evitar

O que gera a disbiose?

Fatores precipitantes para a disbiose incluem alterações genéticas, estresse, dieta, consumo de álcool, infecção e exposição a medicamentos, incluindo antibióticos e outras drogas, como inibidores de bomba de prótons e anticoagulantes. A dieta é um elemento importante que afeta a microbiota intestinal.1 Variações naturais na ingestão de alimentos causam mudanças transitórias na composição microbiana, embora componentes predominantes, como carne, peixe e fibras, tenham efeitos duradouros na microbiota e deixem assinaturas típicas caracterizadas por mudanças em grupos bacterianos específicos. A mudança na composição dos alimentos, bem como a escassez ou excesso de alimentos, afetam a microbiota intestinal. A ausência de nutrientes no intestino, como ocorre durante a nutrição parenteral, aumenta os níveis de Proteobacteria, que promovem a inflamação na parede mucosa e eventualmente causam a quebra da barreira epitelial. Por outro lado, o excesso de nutrientes leva à obesidade, que também está associada à disbiose e a distúrbios metabólicos inflamatórios.1 A exposição repetida a antibióticos pode desestabilizar a microbiota intestinal e promover o crescimento de bactérias patogênicas resistentes a antibióticos. No entanto, alguns antibióticos também exercem uma ação eubiótica ao promover a expansão de bactérias benéficas pela supressão de patobiontes. Um exemplo típico desse efeito eubiótico é o rifaximina, que contribui para aumentar a diversidade microbiana no intestino de pacientes com DII e melhorar os sintomas da síndrome do intestino irritável.1

Resolvendo e evitando a disbiose

Quando ocorre a disbiose, a restauração do microbioma em direção a um estado saudável pré-disbiose pode começar de forma orgânica com a remoção do fator desencadeante (por exemplo, antibiótico) ou por meio de abordagens terapêuticas específicas. Uma abordagem altamente acessível para a restauração de uma microbiota saudável é a suplementação de agentes prebióticos ou probióticos.3 Os probióticos, definidos como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro”, têm a intenção de ter efeitos moduladores positivos no microbioma intestinal, inclusive por meio de efeitos pleiotrópicos. A saúde intestinal pode ser preservada por meio de uma dieta saudável, rica em fibras, e do uso adequado/racional de medicamentos. Em situações específicas, médicos e nutricionistas podem indicar a suplementação de probióticos, escolhendo a melhor cepa, ou combinação de cepas, para o diagnóstico estabelecido. Em situações extremas, pode-se ainda lançar mão do transplante de microbiota intestinal.3,5

Apesar de todas as limitações existentes, o entendimento das relações hospedeiro-microbiota abre uma nova janela terapêutica para dezenas de doenças. Certamente, a medicina do futuro será moldada pela microbiota.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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