Efetividade de vacina contra meningococo B em crianças menores de 5 anos

Estudo avaliou a efetividade da vacina 4CMenB em prevenir doença invasiva em crianças menores de 60 meses de idade.

A doença meningocócica invasiva é uma doença associada a alta mortalidade. Com a introdução da vacina contra o sorogrupo C nos esquemas vacinais ao redor do mundo, o sorogrupo B passou a ter maior importância epidemiológica, tornando-se o principal agente de doença na Europa.

A vacina 4CMenB é uma vacina recombinante que se mostrou capaz de diminuir a incidência de doença invasiva, com estudos de imunogenicidade na população geral e pediátrica. A efetividade estimada nos estudos da vacina varia entre 59,1% e 93,6%, dependendo do esquema utilizado. Acredita-se que, uma vez que os antígenos presentes na 4CMenB não são exclusivos do sorogrupo B, a vacina também possa oferecer proteção contra outros sorogrupos.

Na Espanha, a vacina meningocócica conjugada C foi introduzida no sistema público para todas as crianças desde 2000 e a 4CMenB para indivíduos considerados de alto risco para doença meningocócica invasiva, tais como aqueles que já tiveram doença invasiva por Neisseria meningitidis previamente, asplênicos, pessoas com deficiência de complemento ou receptores de transplante de células hematopoiéticas. Um estudo publicado na The New England Journal of Medicine procurou avaliar a efetividade da vacina 4CMenB em prevenir doença invasiva em crianças menores de 60 meses de idade.

Efetividade de vacina contra meningococo B em crianças menores de 5 anos

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo caso-controle com dados secundários obtidos de registros nacionais, conduzido na Espanha. Os casos constituíram-se de crianças com menos de 60 meses de idade nascidos e residentes na Espanha e que tenham recebido um diagnóstico laboratorialmente confirmado — por cultura ou PCR — de doença meningocócica invasiva entre os anos de 2015 e 2019. Cada caso foi pareado com 4 controles de aproximadamente a mesma idade.

Foram captados dados em relação a presença de condições de alto risco para doença meningocócica invasiva, informações sobre data inicial da doença, apresentação clínica (meningite, sepse, ambos ou outro), admissão em unidade de terapia intensiva, e desfecho clínico (recuperação, sequelas — amputação, dano neurológico ou comprometimento auditivo — ou morte).

Os participantes foram classificados em relação ao seu status vacinal como: não vacinados, receberam primeira dose nos 14 dias anteriores ou no dia do início dos sintomas, vacinados parcialmente, e completamente vacinados.

Resultados

Foram localizadas 334 notificações de doença meningocócica invasiva. Dessas, 28 foram excluídas porque não estavam dentro dos critérios de idade do protocolo. Com isso, 306 casos foram incluídos, sendo 243 (79,4%) tinha doença pelo sorogrupo B, 5 (1,6%), pelo sorogrupo C, 20 (6,6%), pelo sorogrupo W, 7 (2,3%), pelo sorogrupo Y, e 3 (1,0%) por sorogrupos não tipáveis. Em 28 casos (9,2%), o sorogrupo não pode ser testado.

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Em relação à apresentação clínica, foram identificados 102 (33,3%) casos de meningite, 118 (38,6%) casos de sepse, 76 (24,8%) casos de meningite com sepse e 10 (3,3%) casos de outras condições. Duzentos e quatro (67,7%) casos foram admitidos em unidade de terapia intensiva, 16 (5,2%) morreram e 27 (8,8%) sobreviveram com sequelas. Já em relação ao status vacinal, dos 306 casos, 35 (11,4%) tinham recebido pelo menos uma dose de 4CMenB, sendo 16 (5,2%) completamente vacinados, 18 (5,9%) eram parcialmente vacinados, e 1 (0,3%) tinham recebido a primeira dose dentro dos 14 dias anteriores ao início da doença.

Quando o status vacinal da 4CMenB foi comparado entre os 306 casos e os 1.224 controles, a efetividade da vacinação completa foi de 76% (IC 95% = 57 – 87) para doença meningocócica invasiva causada por qualquer sorogrupo. A vacinação parcial teve uma efetividade de 54% (IC 95% = 18 – 74). Quando crianças menores de 134 dias, com condições de alto risco e as que não haviam sido vacinadas contra o sorogrupo C foram excluídas da análise, as estimativas foram semelhantes às encontradas na análise global: 78% (IC 95% = 59 – 88) para os completamente vacinados e 54% (IC 95% = 17 – 74%) para os parcialmente vacinados. Para casos graves, vacinação completa teve uma efetividade de 71% (IC 95% = 43 – 86).

A efetividade parece ser maior em crianças com menos de 24 meses (88%; IC 95% = 68 – 95) do que os que tinham entre 24 e 59 meses de idade (53%; IC 95% = 1 – 78). Análises post hoc não mostraram diferença na efetividade em crianças completamente vacinadas de acordo com o número de doses (2 vs. > 2) ou tempo desde a última dose de vacina (< 12 meses vs. ≥ 12 meses). Contudo, entre as crianças que receberam a primeira dose antes dos 24 meses, a efetividade foi de 84% (IC 95% = 67 – 93), enquanto, entre as que receberam a primeira dose após essa idade, a efetividade foi de 35% (IC 95% = -65 – 74).

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Efetividade contra doença pelo sorogrupo B foi estimada comparando-se 243 casos e seus respectivos 972 controles. Para os que apresentavam pelo menos uma dose, a efetividade foi de 64% (IC 95% = 41 – 78), de 71% (IC 95% = 45 – 85) para os completamente vacinados, e de 50% (IC 95% = 3 – 75%) para os parcialmente vacinados. Com auxílio de técnicas de sequenciamento genético, a vacinação com 4CMenB mostrou-se efetiva tanto contra sorogrupos B esperados de serem cobertos pela vacina quanto contra cepas em que não se esperava cobertura. Para os sorogrupos não-B, a efetividade foi de 82% (IC 95% = 21 – 96) para a vacinação com pelo menos uma dose e de 92% (IC 95% = 28 – 99) para vacinação completa.

Mensagens práticas sobre a efetividade de vacina 

  • Vacinação com a 4CMenB foi efetiva na prevenção de doença meningocócica invasiva, com números de aproximadamente 76% contra doença por qualquer sorogrupo, 71% contra doença do sorogrupo B, e 92% contra sorogrupos não B.
  • A efetividade parece ser menor quando a vacinação se inicia após 2 anos de idade.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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