O risco de recorrência do AVC em pacientes com AVC ou AIT prévios chega a 10% nos primeiros meses e a tentativa de reduzir esse risco tem sido com uso de antiplaquetários. Novas estratégias têm mostrado melhora nos desfechos, porém ainda há um risco residual e o aumento do risco de sangramento com o uso desse tipo de medicação. Até o momento nenhum anticoagulante mostrou benefício na prevenção desses eventos na fase precoce.
O fator XIa parece estar associado a aumento do risco de AVC isquêmico e um estudo prévio de fase 2, o AXIOMATIC-TKR, que avaliou o milvexian no contexto de prevenção de eventos no pós operatório de artroplastia de joelho mostrou que ocorre diminuição de trombose venosa profunda com baixo risco de sangramento.
Baseado nisso foi feito esse estudo de fase 2, o AXIOMATIC SSP, que testou a medicação milvexian em pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) ou acidente isquêmico transitório (AIT). O objetivo principal era estimar a relação dose-resposta do milvexian em pacientes com AVC isquêmico ou AIT.
Métodos
Os pacientes incluídos tinham mais de 40 anos, AVC isquêmico não lacunar agudo leve a moderado (NIHSS ≤ 7) ou AIT de alto risco (escore ABCD2 ≥ 6) com evidência de doença aterosclerótica. A randomização ocorria até 48 horas do início dos sintomas e a medicação era dada em até seis horas após a realização da ressonância.
Foram incluídos 2366 pacientes de 27 países. A idade média era 71 anos e 64% eram homens. Os pacientes foram randomizados para receber uma de cinco doses possíveis da medicação (25, 50, 100 ou 200mg 2x ao dia ou 25mg uma vez ao dia) ou placebo diariamente por 90 dias. Todos os participantes receberam aspirina e clopidogrel por 21 dias e após esse período aspirina até 90 dias. Ressonância magnética foi realizada na chegada e com 90 dias.
Resultados
O desfecho primário de eficácia era ocorrência de AVC isquêmico sintomático ou infarto cerebral visto na ressonância em 90 dias. O desfecho secundário de segurança era sangramento maior, definido como tipos 3 a 5 na classificação de BARC.
Houve redução numérica do risco de AVC isquêmico em todas as doses, exceto na de 200 mg duas vezes ao dia, com as doses de 25 a 100mg duas vezes ao dia mostrando redução de 30% no risco relativo comparado ao placebo. Apesar de a taxa de eventos do desfecho primário ter sido numericamente menor com as doses de 50 e 100 mg duas vezes ao dia, não parece ter havido um efeito dose resposta.
A ocorrência de sangramento maior foi baixa no geral, com um aumento discreto de sangramento comparado ao placebo nas doses a partir de 50 mg duas vezes ao dia. Não houve aumento de sangramento maior e não ocorreu nenhum sangramento fatal no estudo.
Mensagem prática
Como conclusão temos que não houve uma relação dose resposta da dose da medicação neste estudo porém houve redução de risco relativo de 30% em três braços do estudo, comparados ao placebo, sem aumento de sangramento. Baseado nesses resultados, esta medicação pode ser avaliada em um estudo de fase 3.
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