Fraturas de colo do fêmur podem ser tratadas com parafusos canulados mesmo em idosos?

Tratamento de fraturas do colo do fêmur pode ser por fixação interna (parafusos canulados ou DHS) ou artroplastia total/parcial do quadril.

O tratamento de fraturas do colo do fêmur pode ser realizado por fixação interna (com parafusos canulados ou DHS) ou artroplastia total ou parcial do quadril. Há debate considerável sobre qual seria a melhor forma de tratamento nas fraturas desviadas em pacientes com mais de 60 anos. A fixação interna apresenta como vantagem ser uma cirurgia mais curta, com menor perda sanguínea, porém com maior risco de necrose avascular, pseudoartrose ou consolidação viciosa e maior chance de revisão.

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O último grande guideline NICE (National Institute of Health and Care excellence) não foi capaz de sugerir um método de tratamento como melhor devido à falta de evidências. Na literatura, não existem estudos avaliando a longo prazo a taxa de mortalidade e revisão de fraturas desviadas de colo do fêmur tratadas com parafusos canulados. Foi publicado esse mês na revista Bone and Joint Open, um estudo com o objetivo de descrever, com um follow-up mínimo de 5 anos, a taxa de sobrevida de pacientes de 60 anos ou mais com fraturas desviadas do colo intracapsulares (Garden I ou II) tratadas com parafusos canulados.

Fraturas de colo do fêmur podem ser tratadas com parafusos canulados mesmo em idosos

O estudo

Foi desenvolvido um estudo de coorte retrospectivo de pacientes com idade maior ou igual a 60 anos, Garden I ou II nas radiografias ou TC, tratados com parafusos canulados entre março de 2013 e março de 2016 no Hospital Universitário de Cardiff (País de Gales). Foram colhidos dados demográficos incluindo idade, sexo e escore ASA. As radiografias foram avaliadas quanto à classificação de Garden e quanto ao ângulo de tilt posterior (maior ou menor que 20 graus) na radiografia em perfil pelo método de Palm. O desfecho primário avaliado foi necessidade de nova cirurgia (revisão, remoção do material de síntese ou curativo cirúrgico) enquanto o secundário foi mortalidade.

Um total de 114 operações foram realizadas em 112 pacientes com idade média de 80,2 anos (DP 8,9). A mortalidade em 30 dias e em um ano foi de 1% (n = 1) e 13% (n = 15), respectivamente. A média de follow-up foi de 6,6 anos. As estimativas de Kaplan-Meier mostraram uma sobrevida de 95% em um ano e 90% em cinco anos (intervalo de confiança de 95% 84% a 95%) para pacientes tratados com parafusos canulados. Nove pacientes foram submetidos à nova cirurgia do quadril: quatro revisões para artroplastia total do quadril, uma revisão para hemiartroplastia, três remoções de parafusos e um curativo cirúrgico por hematoma. O tilt posterior foi avaliado em 106 pacientes e cirurgia subsequente foi necessária em dois dos seis pacientes identificados com ângulo posterior > 20° (p = 0,035 vs ângulo < 20°). Dos 100 pacientes com ângulo < 20°, a sobrevida em cinco anos foi de 91%, com sete pacientes necessitando de nova cirurgia.

Conclusão

O estudo conclui que pacientes maiores ou igual a 60 anos com fraturas Garden I ou II podem ser tratados com parafusos canulados sem altas taxas de revisão e com baixa mortalidade a longo prazo. Associado a isso, é importante ter cautela nas fraturas com tilt dorsal maior que 20 graus, preferindo-se nesses casos a artroplastia.

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Para a nossa prática, é preciso atentar para um fator não citado no estudo, que é a existência de doença degenerativa (artrose) do quadril prévia. Por estarmos falando de pacientes idosos, temos maior chance de estar frente a essa associação, tornando a artroplastia mais vantajosa para esses pacientes.

Referências bibliográficas:

  • Boktor J, Badurudeen A, Rijab Agha M, Lewis PM, Roberts G, Hills R, Johansen A, White S. Cannulated screw fixation for Garden I and II intracapsular hip fractures : five-year follow-up and posterior tilt analysis. Bone Jt Open. 2022 Mar;3(3):182-188. doi: 10.1302/2633-1462.33.BJO-2021-0215.R1.

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