Influência da microbiota nas escolhas alimentares

Cada indivíduo possui uma microbiota intestinal única e devemos nos lembrar que os genes da nossa microbiota superam os genes do nosso genoma.

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É fundamental compreendermos como ocorrem as escolhas alimentares, pois as mesmas terão consequências não só a curto, mas a longo prazo para a saúde e o bem-estar do indivíduo.  Algumas questões inquietantes a serem respondida são: como decidimos o que comemos e quais sistemas fisiológicos e neurobiológicos estão envolvidos nessas decisões? Como a microbiota interfere neste processo? As escolhas diárias do que alimentar são mecanismos complexos, envolvendo interações metabólicas, hormonais e circuitos cerebrais subjacentes à tomada de decisões dietéticas. Recentemente, o papel da microbiota intestinal tem crescido em importância neste complexo sistema de escolhas alimentares.1,2

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Neurociência cognitiva da tomada de decisões

Todos os dias tomamos várias decisões em nossas vidas, sendo o que comer uma das decisões mais frequentes.  Fatores como fome, estresse, depressão, mecanismos internos de recompensa são citados na literatura.1  Fatores afetivos que surgem das interações entre o ambiente e o sistema nervoso central também são importantes por determinarem valor aos alimentos no momento da escolha.1,3 A neurociência cognitiva da tomada de decisões nestas escolhas já está bem estabelecida.1 

Hormônios neuropeptídeos gastrointestinais na regulação das decisões de ingestão alimentar

Fisiologicamente, a sensação de fome deve desencadear a ingestão alimentar, enquanto a sensação de saciedade deve encerrar esta ingestão. Ambas as sensações são comunicadas ao cérebro por sinais neurais, hormonais e metabólicos. A Grelina, também conhecida como o “hormônio da fome”, produzida pelo estômago estimula a alimentação sendo considerada um orexígeno. Por outro lado sinais anorexígenos (insulina, leptina, colecistocinina, GLP-1 – Glucagon-like Peptide-1 e PYY) diminuem a necessidade de se alimentar e promovem a sensação de saciedade.1 

Interação microbiota-intestino-cérebro

Cada indivíduo possui uma microbiota intestinal única e devemos nos lembrar que os genes da nossa microbiota superam os genes do nosso genoma em cerca de 150 para 1, mostrando a relevância do mesmo. A microbiota intestinal pode ser influenciada pela genética do hospedeiro, medicamentos, tipo de dieta e  estilo de vida, desde o nascimento até o envelhecimento.  Durante toda a vida do ser humano, toneladas de alimentos passam pelo tubo digestório e junto com eles bactérias entram no corpo podendo também colonizar o trato gastrointestinal.  Um número crescente de estudos confirma a relação entre a composição da microbiota intestinal e a regulação do apetite, do humor e da massa corporal.4 

Como o microbiota poderia afetar a tomada de decisões alimentares?

Evidências crescentes sugerem um papel crucial da microbiota intestinal no desenvolvimento da obesidade e podem nortear o estudo sobre escolhas alimentares. Mas quais podem ser os mecanismos subjacentes a esta ligação entre a microbiota intestinal, as escolhas alimentares pouco saudáveis ​​e a alimentação excessiva? Como já apresentado, a microbiota intestinal e o cérebro comunicam-se bidirecionalmente através das vias sistêmicas e neurais que compõem o eixo cérebro-intestino-microbiota, sendo o nervo vago a principal via neural da comunicação intestino-cérebro. A composição da microbiota intestinal pode influenciar o processamento de recompensas alimentares e a tomada de decisões por meio de metabólitos como os ácidos graxos de cadeia curta, um importante produto da fermentação da microbiota. Alterações na composição da microbiota intestinal por uso de antibióticos levaram a redução da Grelina plasmática; níveis mais elevados de Grelina estão associados a maior sensibilidade e impulsividade à recompensa.3 Estudos mostraram que microrganismos vivos podem influenciar o sistema da Grelina modulando o receptor GHS-R1a, entre eles os Lactobacillus e Bifidobacterium.  Já foi proposto que o bloqueio da sinalização da Grelina por meio de manipulação da microbiota intestinal poderia ajudar pacientes com sobrepeso, além de ajudar que aqueles que já perderam peso evitem o reganho ponderal. Um ciclo de feedback entre comportamento dietético, microbiota intestinal e o processamento de recompensas alimentares também já foi proposto.  A  composição microbiana varia de acordo com os padrões alimentares e sinalização microbiana intestinal através de metabólitos bacterianos, peptídeos intestinais, neurotransmissores e vias imunológicas afetando a tomada de decisões dietéticas no sistema nervoso.4,5

É provável que tanto as escolhas alimentares afetem a composição da microbiota, quanto a microbiota intestinal afete as respostas cerebrais aos alimentos e a forma como escolhemos o que comemos.5 Os comportamentos relevantes para as decisões dietéticas, tais como impulsividade e busca de recompensas são sensíveis às alterações microbianas intestinais, Figura 1.

Decisões alimentares
Decisões alimentares

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Conclusão

Compreender as escolhas alimentares requer avaliação das complexas interações entre o metabolismo de uma pessoa, os circuitos cerebrais subjacentes à tomada de decisões dietéticas e o microbiota intestinal. Embora os estudos experimentais sejam estimulantes, ainda não podem ser aplicados diretamente na prática clínica. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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