Injeção de células-tronco associada a cirurgias de revascularização do miocárdio

Estudo recentemente publicado avaliou o efeito do implante de células-tronco durante a cirurgia de revascularização miocárdica (CRM).

Pacientes com indicação de revascularização miocárdica por doença arterial coronária (DAC) multiarterial estável têm benefício em redução de mortalidade, infarto e necessidade de nova abordagem quando a revascularização é completa, ou seja, quando todos os vasos com obstrução importante são tratados. Nesses casos, a normalização das alterações de perfusão está associada a melhora da sobrevida, porém algumas vezes não é possível realizar a revascularização completa, geralmente por impossibilidade técnica decorrente de leitos distais finos.

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O implante de células-tronco parece influenciar o desenvolvimento de novos vasos e melhorar a disfunção endotelial, resultando na melhora da perfusão em estudos com animais. Estudos prévios que utilizaram a injeção de células mononucleares autólogas de medula óssea durante a cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) avaliaram seus efeitos na recuperação da função ventricular, sem encontrar muitos benefícios.

Baseado nesses dados, recentemente foi publicado um estudo que avaliou o efeito desse tipo de tratamento na perfusão miocárdica. Abaixo encontram-se os principais pontos.

Injeção de células-tronco associada a cirurgias de revascularização do miocárdio

Métodos

Foi estudo brasileiro, multicêntrico, randomizado, duplo cego, placebo controlado, que dividiu os pacientes em dois grupos: um que recebeu células tronco e um que recebeu placebo (solução salina) na CRM. Os pacientes eram randomizados após a aspiração das células da medula óssea, já no centro cirúrgico.

Os critérios de inclusão eram idade entre 18 e 80 anos, angina ou equivalente anginoso decorrente de DAC obstrutiva vista na angiografia, presença de isquemia miocárdica vista por dois exames de imagem diferentes, impossibilidade de revascularização completa de acordo com o Heart Team.

Os pacientes eram excluídos se tivesses fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) menor que 25%, expectativa de vida menor que 1 ano, câncer ou alterações hematológicas nos últimos 5 anos, doença cardíaca grave de outra causa, síndrome coronariana aguda nos 3 meses anteriores ou doença renal crônica dialítica.

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Antes da randomização todos os pacientes tinham 100 mL de medula óssea aspirada e os pacientes recebiam esse material ou placebo na região do miocárdio isquêmico não revascularizável. O cirurgião cardíaco decidia quais segmentos deveriam ser injetados, a partir da avaliação da angiografia.

O desfecho primário era melhora da isquemia miocárdica regional avaliada por ressonância magnética cardíaca (RMC) em 1, 6 e 12 meses após a cirurgia. Os desfechos secundários eram melhora da perfusão global, melhora da FEVE e da classe funcional da angina. O desfecho primário de segurança era ocorrência de eventos cardiovasculares e cerebrais maiores no primeiro mês de pós-operatório.

Resultados

Foram randomizados 143 pacientes, sendo 77 para o grupo intervenção e 66 para o grupo placebo. Os grupos eram semelhantes, compostos majoritariamente por homens em uso de medicação otimizada, a maioria já tinha feito um procedimento de revascularização previamente e a FEVE era preservada e não mudou após a CRM.

Após 1 ano houve redução global da isquemia nos 2 grupos, mostrando benefício da cirurgia. No grupo intervenção, a utilização de células tronco levou a melhora adicional da isquemia regional (p = 0,047) e o melhor resultado ocorreu na avaliação de 1 mês, com redução da isquemia em 50% no grupo intervenção. Não foram encontradas outras diferenças nos desfechos avaliados.

Conclusão sobre injeção de células-tronco na cirurgia de revascularização miocárdica

Este estudo mostrou que a utilização de células-tronco em associação ao tratamento cirúrgico das coronárias tem benefício em redução de isquemia nos pacientes que não conseguem ter uma revascularização completa, sem aumentar eventos adversos.

Ainda há diversos pontos a serem definidos com maior precisão, como a quantidade de material a ser utilizado e a técnica para realização deste procedimento, incluindo a melhor via de injeção. Maior entendimento e definição desses pontos pode inclusive ajudar a melhorar os resultados e talvez, futuramente, os pacientes possam ter mais benefício com a utilização da técnica.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Gowdak LHW. Additional improvement in regional myocardial ischemia after intracardiac injection of bone marrow cells during CABG surgery. Front Cardiovasc Med. 2023 Feb 7;10:1040188. DOI: 10.3389/fcvm.2023.1040188. eCollection 2023.