Internação de bebês por desnutrição atinge maior nível em 13 anos, indica pesquisa

Em 2021, o país teve 113 internações por desnutrição para cada 100 mil bebês nascidos vivos, proporção que era de 75 por 100 mil em 2011.

Em 2021, as internações de bebês menores de um ano chegaram ao maior nível em 13 anos, segundo estudo divulgado pelo Observatório de Saúde da Infância (Observa Infância), em parceria com a Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A pesquisa foi baseada em dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), que apontam 2.979 hospitalizações nessa faixa etária ao longo do ano passado, o que equivale ao número alarmante de oito internações por dia.

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O levantamento alerta ainda para um possível agravamento da situação este ano, uma vez que até 30 de agosto a taxa média diária de hospitalizações era de 8,7 por dia, o que representa um crescimento de 7% em relação ao patamar atingido em 2021.

Internação de bebês por desnutrição atinge maior nível em 13 anos, indica pesquisa

Possíveis causas

O coordenador do Observa Infância e pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Cristiano Boccolini, aponta algumas causas que podem estar ligadas a essa piora na desnutrição de bebês, como a alta acumulada no preço dos alimentos, o aumento da informalidade no trabalho e a redução da renda dos trabalhadores.

“Às vezes, a mulher tem que conseguir um “bico” ou um trabalho, um subemprego, ou um trabalho em condições informais ou mesmo formais, mas que não dispõe mais da licença maternidade de quatro meses, férias ou não dispõe de nenhuma rede de proteção que ampare ela a manter o aleitamento materno, e acaba tendo que comprar leites ou fórmulas”, explicou Cristiano Boccolini.

O pesquisador ainda complementou outras possíveis causas ligadas a esse problema de saúde pública: a falta de acesso a saneamento básico e a água potável, que expõe os pequenos a infecções, como pneumonias e diarreias, que podem agravar um quadro já existente ou iniciar um quadro de desnutrição.

Bebês negros são os mais afetados

O estudo mostra ainda que, a cada três internações de bebês menores de um ano por desnutrição, duas são de bebês negros. É importante destacar que esse dado considera apenas as internações em que foi informada a raça/cor dos bebês e as hospitalizações que ocorreram entre janeiro de 2018 e agosto de 2022.

Vale destacar que existem problemas no registro dessa informação, uma vez que uma em cada três internações não informa a raça/cor do bebê. Cristiano Boccolini frisa que é necessário melhorar muito a identificação por raça e cor nos sistemas de informação.

“Mesmo assim, é possível afirmar que temos uma proporção maior de crianças pretas e pardas internadas por desnutrição”, disse o pesquisador, complementando que a taxa de hospitalizações por desnutrição a cada 100 mil bebês nascidos vivos tem aumentado no Brasil desde 2016, e a alta acumulada em 2021 já representa um aumento de 51% em relação a 2011.

Regiões do país com mais internações

A alta na taxa de hospitalizações é mais acentuada na região Centro-Oeste, onde houve aumento de 30% de 2020 para 2021.

Ainda assim, o Nordeste é a região do Brasil onde há mais internações por desnutrição no primeiro ano de vida, com 171 hospitalizações a cada 100 mil bebês nascidos vivos.

Vale ressaltar que apesar da alta na taxa nacional de internações, a taxa de mortalidade por desnutrição na mesma faixa etária está em queda constante no país desde 2009 e chegou à menor marca em 2020, último ano com dados consolidados.

Sequelas da desnutrição infantil

“As consequências a médio e longo prazo são praticamente irreversíveis. Tem um impacto considerável na capacidade cognitiva dessa criança, que pode ser afetada por quadros de desnutrição grave, na formação dos órgãos internos que mais à frente, na idade adulta, podem levar a doenças como hipertensão, diabetes e até obesidade”, exemplificou Cristiano Boccolini, acrescentando que, com a persistência do quadro de desnutrição ao longo da vida, a criança estará mais exposta a quadros graves de doenças infecciosas.

Ministério diz não reconhecer dados de pesquisa sobre desnutrição em bebês

O Ministério da Saúde informou não reconhecer dados sobre hospitalizações por desnutrição no Brasil divulgados pelo Observatório de Saúde da Infância, em parceria com a Fiocruz.

“É importante esclarecer que as informações utilizadas não contêm qualquer respaldo oficial ou científico e estão em desacordo com as informações enviadas ao Ministério da Saúde pelos entes federativos. Ao contrário do que está sendo falado por alguns veículos de comunicação, dados oficiais do Ministério da Saúde apontam queda na mortalidade infantil de cerca de 70%, se comparado ao período de 2008 a 2021”, destacou o ministério, por meio de nota.

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De acordo com o comunicado da pasta, de 2008 a 2021 houve um declínio de 15% no registro em internações a cada 100 mil nascidos. De 2010 a 2021, o ministério diz ter identificado redução de 9% em internações hospitalares provocadas por desnutrição de zero a um ano de idade. “A melhoria deste indicador é observada ainda quando comparada à evolução de 2010 a 2021 quando o Brasil registrou diminuição de 2% nas internações”.

Em nota divulgada após o comunicado do Ministério da Saúde, a Fiocruz reiterou que a pesquisa trabalhou com dados públicos disponíveis em fontes oficiais da pasta. “O levantamento sobre aumento das internações por desnutrição, sequelas da desnutrição e causas associadas em bebês menores de um ano foi realizado a partir do SIH, em 10 de outubro de 2022, por meio do Tabnet, do DataSUS”.

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