Sabemos que as doenças reumáticas são capazes de gerar grandes limitações funcionais e, consequentemente, piorar a qualidade de vida dos pacientes. Apesar de algumas doenças apresentarem tratamentos farmacológicos eficazes para prevenir dano e progressão da doença, como a artrite reumatoide (AR) e a gota, os resultados são desanimadores em outras situações, como a osteoartrite (OA). Desse modo, medidas não farmacológicas para auxiliar na redução da progressão de doenças musculoesqueléticas se tornam importantes.
Nos diversos documentos publicados pela OMS, há clara menção aos efeitos benéficos de uma dieta balanceada, exercícios físicos, interrupção do tabagismo e do etilismo, mas as informações são para o público geral, não direcionadas aos pacientes com doenças reumáticas.
Por isso, a European League Against Rheumatism (EULAR) publicou recentemente um documento de consenso entre especialistas para endereçar essa questão.
Resumo das recomendações
1) Princípios gerais (todos com grau de recomendação D)
As mudanças no estilo de vida devem se somar ao tratamento farmacológico instituído e não há intuito de substituí-lo. Todo paciente com doença reumática deve desenvolver um estilo de vida saudável, que auxiliará tanto nas queixas musculoesqueléticas quanto em outras questões (por exemplo, risco cardiovascular aumentado).
As recomendações sobre estilo de vida saudável publicadas pela OMS são também aplicáveis aos pacientes com doenças reumáticas e devem ser discutidas periodicamente com os pacientes portadores desses agravos.
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2) Exercícios físicos
Os exercícios físicos são benéficos em diversos domínios da saúde, inclusive para os sintomas musculoesqueléticos. Nesses casos, há melhora da dor, função e da qualidade de vida (grau de recomendação A).
O exercício físico deve ser estimulado em todos os pacientes com doenças reumáticas. Eles devem se engajar em atividades compatíveis com suas limitações e tentar progredir conforme a possibilidade.
Tantos os exercícios aeróbicos quanto de fortalecimento são recomendados, com objetivo de se atingir, pelo menos, uma moderada intensidade. Eles podem ser realizados individualmente ou em grupo, de preferência acompanhado por um educador físico, se possível. No entanto, exercícios realizados em domicílio também devem ser encorajados.
Dentre as doenças com maior benefício do exercício físico, destacam-se a OA e as espondiloartrites.
3) Dieta
Uma dieta balanceada é parte fundamental na obtenção de um estilo de vida mais saudável. No entanto, os pacientes devem ser orientados que o consumo de determinados alimentos ou dietas específicas são pouco prováveis de provocarem um grande benefício nos desfechos das doenças reumáticas.
4) Peso corporal
Pacientes com doenças reumáticas devem objetivar um peso saudável. Caso o paciente apresente sobrepeso ou obesidade, ele deve aderir a dietas saudáveis e exercícios físicos com o objetivo de conseguir uma perda ponderal controlada e intencional.
5) Consumo de álcool
O consumo de álcool deve ser discutido com os pacientes, especialmente quando da introdução de tratamentos com potencial hepatotóxico.
Segundo os autores, consumo de álcool em baixos quantidades é pouco provável de impactar negativamente o desfecho da maioria das doenças reumáticas. No caso da AR, consumo moderado de álcool se associa com um maior risco de reativação da doença e piora de comorbidades. No caso da gota, o consumo moderado também se associa com um maior número de crises agudas.
6) Tabagismo
O tabagismo deve ser fortemente combatido. O uso de produtos do tabaco se associa com uma piora dos sintomas, da função, da atividade e progressão da doença, além de piora das comorbidades em todas as doenças reumáticas.
Pacientes portadores de AR devem ser informados que o tabagismo impacta negativamente a resposta aos tratamentos com DMARDs.
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7) Trabalho
Segundo os autores, atividades laborais são benéficas para os desfechos de saúde de pacientes com doenças reumáticas.