Por que também devo considerar a DPOC na minha prática clínica?

Apesar de prevalente, o diagnóstico da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é frequentemente tardio, sendo fundamental incentivar a discussão sobre essa patologia.

Este conteúdo foi produzido pela PEBMED em parceria com Chiesi de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma patologia complexa que atinge cerca de 10% da população mundial. [1] Estima-se que em 2012, cerca de 3 milhões de pessoas morreram da doença [2], sendo considerada a terceira principal causa de morte no mundo. [1]

É uma doença inflamatória crônica das vias aéreas definida pela presença de limitação permanente ao fluxo de ar associado à sintomatologia respiratória como tosse, expectoração, presença de muco, chiado e dispneia. [3] É o resultado da interação entre a exposição ambiental, tempo, e a carga genética de cada indivíduo, apresentando um comportamento insidioso e progressivo. [4] É considerada uma doença prevenível e tratável, de forma que a identificação das pessoas sob risco, permite um diagnóstico mais precoce e melhores intervenções terapêuticas. [5] Além disso, são indivíduos cronicamente inflamados que possuem maior risco de desenvolver mais de uma comorbidade, principalmente por estar associado ao tabagismo.

Ouça também: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica: diagnóstico e tratamento [podcast]

Por que também devo considerar a DPOC na minha prática clínica

Fatores de risco para DPOC

O maior fator de risco ainda é o cigarro [6], embora evidências atuais ressaltem a importância da DPOC em não tabagistas devido à exposição ambiental. [7] A relação entre envelhecimento, susceptibilidade genética e exposição ambiental criam o cenário propício ao desenvolvimento da DPOC. [8] Apesar de acometer o pulmão, é uma doença sistêmica definida por um processo inflamatório crônico, o qual agrava e acelera a arteriosclerose e a resistência insulínica. [9] Por conseguinte, outras comorbidades acabam por desempenhar um papel central no prognóstico desses pacientes. [9] As principais comorbidades associadas são hipertensão arterial, dislipidemia, doença cardiovascular, diabetes melitus, osteoporose e sarcopenia. [10]

A prevalência de insuficiência cardíaca e DPOC nas coortes estudadas variam de 5 a 24% dos pacientes. [9] Logo, os pacientes com DPOC são encontrados em ambulatórios de outras especialidades que não a pneumologia, sendo fundamental a investigação para um diagnóstico não somente diferencial como também concomitante a outros que possam estar presentes. [11]

A DPOC apresenta alta prevalência em diversas coortes. Embora seu diagnóstico seja simples, a partir de uma espirometria, com frequência há pacientes de risco que não são diagnosticados, com taxas variando de 56 a 86%, de acordo com a coorte analisada. [12] No Brasil, estima-se que 6 milhões de pessoas têm DPOC, porém apenas 12% têm o diagnóstico. [13] Estima-se que o diagnóstico da DPOC seja tardio em cerca de 85% dos casos, perdendo-se a chance de tratamento e de evitar exacerbações, a qual é a principal forma de perda da função pulmonar. [14]

Progressão da doença

O quadro clínico geralmente se apresenta por dispneia progressiva, com intolerância aos esforços, associada a tosse e expectoração frequente. A tosse crônica, por exemplo, não somente é um dos sintomas cardinais da DPOC. Ela também é uma das principais responsáveis pela precária qualidade de vida dos pacientes. Sua presença gera isolamento social, depressão e redução da capacidade laborativa. [15]

A DPOC engloba diversas apresentações como o enfisema e a bronquite. Com frequência, os pacientes apresentam as duas condições, podendo variar em gravidade e em sintomatologia. A bronquite crônica corresponde à presença de tosse e de secreção, gerados pela hiperprodução de muco secundário à hiperplasia das células de Goblet do epitélio respiratório, atingindo os brônquios e bronquíolos. Já o enfisema é uma condição na qual os septos alveolares são destruídos como resultado da exposição à fumaça de cigarro, gases irritantes e material particulado.

Frente à suspeição do diagnóstico, a espirometria é a peça principal para confirmá-la. A partir de uma manobra de expiração forçada, consegue-se avaliar o volume expirado no primeiro segundo (VEF1) e a capacidade vital forçada (CVF). A relação entre os dois, após a prova broncodilatadora, define a presença de distúrbio ventilatório obstrutivo, caso essa relação seja menor que 0,7. [4] Além disso, ainda permite classificar em graus de gravidade, a partir dos valores de VEF1 obtidos. Embora não seja de alto custo, é evidente na prática clínica, que a solicitação de espirometria ocorre aquém do que se deveria. [14, 16] Diversas são as justificativas, mas indubitavelmente a falta de acesso e a baixa confiabilidade na interpretação dos dados contribuem bastante para essa lacuna. [17]

Mensagem final

Nos últimos anos, a facilidade de utilização das terapias inalatórias trouxe um grande avanço na abordagem terapêutica do paciente com DPOC. Embora avanços tenham acontecido, inevitavelmente, a principal estratégia para redução de mortalidade recai no diagnóstico precoce, permitindo intervenção no estilo de vida, cessação do tabagismo e prevenção de exacerbação. Dessa forma, é fundamental que o diagnóstico da DPOC não fique restrito apenas ao pneumologista. Afinal, o paciente tabagista ou ex-tabagista, com ou sem sintomas respiratórios, está presente no consultório do cardiologista, do clínico geral e do endocrinologista, entre outras especialidades. Somente com a pesquisa ativa e o diagnóstico precoce, pode-se desacelerar efetivamente a perda de função pulmonar, evitando um pior desfecho e melhorando a qualidade de vida do paciente.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • [1] Adeloye D, Chua S, Lee C, Basquill C, Papana A, Theodoratou E, Nair H, Gasevic D, Sridhar D, Campbell H, Chan KY, Sheikh A, Rudan I; Global Health Epidemiology Reference Group (GHERG). Global and regional estimates of COPD prevalence: Systematic review and meta-analysis. J Glob Health. 2015 Dec;5(2):020415. DOI: 10.7189/jogh.05.020415
  • [2] Maters CD, Loncar D. Projections of global mortality and burden of disease from 2002 to 2030. Plos Med. 2006; 3 (11)e442. DOI: 10.1371/journal.pmed.0030442
  • [3] Celli B, Fabbri L, Criner G, Martinez FJ, Mannino D, Vogelmeier C, Montes de Oca M, Papi A, Sin DD, Han MK, Agusti A. Definition and Nomenclature of Chronic Obstructive Pulmonary Disease: Time for Its Revision. Am J Respir Crit Care Med. 2022 Dec 1;206(11):1317-1325. DOI: 10.1164/rccm.202204-0671PP
  • [4] Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) {homepage na internet]. Global strategy for the diagnosis, management, and prevention of chronic obstructive pulmonary disease, 2023 [acesso em 09 maio 2023]. Disponível em:  https://goldcopd.org/2023-gold-report-2/
  • [5] Leap J, Arshad O, Cheema T, Balaan M. Pathophysiology of COPD. Crit Care Nurs Q. 2021 Jan/Mar;44(1):2-8. DOI: 10.1097/CNQ.0000000000000334
  • [6] Halpin DMG, Celli BR, Criner GJ, Frith P, López Varela MV, Salvi S, Vogelmeier CF, Chen R, Mortimer K, Montes de Oca M, Aisanov Z, Obaseki D, Decker R, Agusti A. The GOLD Summit on chronic obstructive pulmonary disease in low- and middle-income countries. Int J Tuberc Lung Dis. 2019 Nov 1;23(11):1131-1141. DOI: 10.5588/ijtld.19.0397
  • [7] Yang IA, Jenkins CR, Salvi SS. Chronic obstructive pulmonary disease in never-smokers: risk factors, pathogenesis, and implications for prevention and treatment. Lancet Respir Med. 2022 May;10(5):497-511. DOI: 10.1016/S2213-2600(21)00506-3
  • [8] Shrine N, et al. Multi-ancestry genome-wide association analyses improve resolution of genes and pathways influencing lung function and chronic obstructive pulmonary disease risk. Nat Genet. 2023 Mar;55(3):410-422. DOI: 10.1038/s41588-023-01314-0
  • [9] Smith M, Wrobel J. Epidemiology and clinical impact of major comorbidities in patients with COPD. Int J Chron Obstruct Pulmon Dis. 2014;9(1):871-888. DOI: 10.2147/COPD.S49621
  • [10] Divo M, et al. Comorbidities and risk of mortality in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care Med. 2012 Jul 15;186(2):155-61. DOI: 10.2147/COPD.S49621
  • [11] Cho EE, Mecredy GC, Wong HH, Stanbrook MB, Gershon AS. Which Physicians Are Taking Care of People With COPD? Chest. 2019 Apr;155(4):771-777. DOI: 10.2147/COPD.S49621.
  • [12] Diab N, Gershon AS, Sin DD, Tan WC, Bourbeau J, Boulet LP, Aaron SD. Underdiagnosis and Overdiagnosis of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Am J Respir Crit Care Med. 2018 Nov 1;198(9):1130-1139. DOI: 10.1164/rccm.201804-0621CI
  • [13] Menezes AMB, et al. Chronic obstructive pulmonary disease in five latin american cities (the PLATINO study): a prevalence study. Lancet 2005; 366:1875-81. DOI: 10.1016/S0140-6736(05)67632-5
  • [14] Jones RCM, et al. Opportunities to diagnose chronic obstructive pulmonary disease in routine care in the UK: a retrospective study of a clinical cohort. Lancet Respir Med. 2014; 2(4): 267–276. DOI: 10.1016/S2213-2600(14)70008-6
  • [15] Emilsson ÖI. The burden and impact of chronic cough in severe disease. Curr Opin Support Palliat Care. 2022 Dec 1;16(4):183-187. DOI: 10.1097/SPC.0000000000000623
  • [16] Buffels J, Degryse J, Liistro G. Diagnostic certainty, co-morbidity and medication, in a primary care population with presumed airway obstruction: the DIDASCO2 study. Prim Care Respir J. 2009, 18:34–40. DOI: 10.3132/pcrj.2008.00047
  • [17] Albers M, et al. Predictive value of lung function below the normal range and respiratory symptoms for progression of chronic obstructive pulmonary disease. Thorax. 2008;63: 201–07. DOI: 10.1136/thx.2006.068007