Síndrome do intestino irritável, FODMAPS e probióticos

A dieta e microbiota apresentam papel de destaque na patogênese da síndrome do intestino irritável (SII).

Este conteúdo foi produzido pela PEBMED em parceria com Cellera Farma de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.

A síndrome do intestino irritável (SII) é uma doença gastrointestinal funcional crônica, mais comum em mulheres, que acomete cerca de 4-11% da população mundial.1,2 É caracterizada por episódios recorrentes de dor/desconforto abdominal associados a alteração do hábito intestinal e forma das fezes, conforme definido pelo consenso de ROMA IV.1 A SII está associada a importante redução da qualidade de vida e produtividade no trabalho, sendo responsável por até 40-60% de todas as consultas nas clínicas de Gastroenterologia.1,3 A patogênese é complexa e parcialmente compreendida, mas sabe-se que alterações psicológicas, genéticas, da microbiota intestinal e do eixo cérebro-intestino exercem papel crucial.1

Nesse contexto, a dieta FODMAP, conhecida por seu baixo grau de fermentação intestinal, tem sido utilizada no tratamento da doença. Sabe-se que a ingestão de oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis (FODMAPs) levam a maior secreção de água pelo trato gastrointestinal e aumento da fermentação no cólon, produzindo, assim, ácidos graxos de cadeia curta e gases que podem levar à distensão luminal e ao desencadeamento de sintomas em pacientes com SII com hipersensibilidade visceral.4 Por outro lado, a disbiose intestinal, peculiar da SII, também pode agravar os sintomas. Nessa seara, probióticos poderiam prevenir o supercrescimento bacteriano através da melhora da barreira intestinal, competição por receptores do epitélio intestinal e produção de substâncias ativas, como ácidos graxos de cadeia curta.5

Síndrome do intestino irritável, FODMAPS e probióticos

Dieta FODMAP

A dieta com baixo teor de FODMAP é constituída de 3 etapas, uma fase restritiva, com duração de 4-8 semanas, seguida da fase de reintrodução e individualização de acordo com a tolerância do paciente.4 A dieta FODMAP é capaz de aliviar os sintomas de 50-70% dos pacientes com SII, especialmente a produção de gases e desconforto abdominal, porém é acompanhada do risco teórico de desnutrição se mal orientada.6 Diversos estudos demonstram ainda que a redução na ingestão de FODMAPS altera significativamente a composição da microbiota intestinal, a qual é afetada pela falta de mono, di e oligossacarídeos.5,6 É descrita uma redução na quantidade e diversidade de bactérias intestinais, especialmente da abundância de Bifidobacteria, Clostridium, Faecalibacterium prausnitzii.6,7 A realização da dieta FODMAP conjuntamente com administração de probióticos poderia restaurar as espécies de Bifidobacterium.8 Alguns autores acreditam que a eficácia da dieta dependa da composição da microbiota intestinal individual. Entre os adultos, os pacientes que respondem significativamente à dieta apresentam níveis mais elevados de Bacteroides fragilis, Acinetobacter, Ruminiclostridium, Streptococcus e Eubacterium.9

Probióticos

Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Probióticos como Lactobacillus, Lactococcus, Bifidobacterium e Streptococcus são capazes de produzir ácidos graxos de cadeia curta, os quais desempenham um papel central na manutenção intestinal através de sua ação anti-inflamatória.5 Além disso, os probióticos têm o potencial de modular a motilidade gastrointestinal, diminuir a hipersensibilidade visceral e melhorar a permeabilidade intestinal. Um estudo usando uma mistura de probióticos para tratamento da SII (Lactobacillus rhamnosus GG, L. rhamnosus LC705, Bifidobacterium breve Bb99 e Propionibacterium freudenreichii sp. Shermanii) demonstrou uma redução de 42% no escore de sintomas versus 6% no grupo placebo.10 Embora diversos autores tenham apontado que os probióticos são eficazes no tratamento da SII, ainda não está claro quais combinações, espécies ou cepas de probióticos são mais eficazes. Uma meta-análise de rede sugeriu que Lactobacillus (RR 1,74, IC95% 1,22–2,48) e Bifidobacterium (RR 1,76, IC95% 1,01–3,07) podem ser os probióticos mais eficazes no tratamento da SII.5

Conclusão

Dieta e microbiota apresentam papel de destaque na patogênese da SII. Embora alguns medicamentos possam aliviar os sintomas da SII, não existe ainda uma opção de tratamento que funcione para todos os pacientes. A dieta com baixo teor de FODMAPs é uma estratégia clinicamente eficaz para controle dos sintomas, porém é extremamente desafiadora de ser implementada na prática clínica. O Colégio Americano de Gastroenterologia recomenda testar, por período limitado, a dieta baixa em FODMAP em pacientes com SII para melhorar os sintomas globais.11 Já a suplementação de probióticos é uma importante frente de pesquisas no tratamento da SII, dada a importância do microbioma intestinal nessa condição. A melhor evidência hoje para os probióticos é o alívio dos sintomas, mas novos estudos são ainda necessários para se determinar o melhor tipo de probiótico para alívio da SII e manutenção do equilíbrio da microbiota intestinal durante uma dieta FODMAP.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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