Como a pandemia de Covid-19 impactou os casos de bronquiolite viral aguda (BVA)?

Estudo tentou estimar qual foi o impacto da pandemia de Covid-19 nos atendimentos de bronquiolite viral aguda (BVA) no setor de Emergência.

A bronquiolite viral aguda (BVA) é a principal causa de internação hospitalar durante o período epidêmico, sendo transmitida por gotículas, aerossol ou superfícies contaminadas com um dos vírus respiratórios causadores da BVA. Na Itália, esse período epidêmico tende a ocorrer entre setembro e março. No Brasil, esse período pandêmico tende a ocorrer de janeiro a agosto, com variações entre as regiões brasileiras.

Desde o surgimento da pandemia de Covid-19, foram adotadas medidas sanitárias como isolamento social, uso de máscaras faciais e intensificação da higiene das mãos, que também influenciaram na transmissão de outros vírus respiratórios.

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Curatola e colaboradores publicaram em abril de 2021 na revista Pediatric Pneumology estudo analítico retrospectivo transversal na Emergência de um hospital universitário italiano terciário de Roma que atende em média 15mil pacientes de 1 mês a 18 anos de idade anualmente para estimar qual foi o impacto real da pandemia de Covid-19 nos atendimentos de BVA no setor de Emergência. Para isso, compararam o número de atendimentos na Emergência de lactentes com bronquiolite e insuficiência respiratória aguda, excluindo aqueles com rinite, faringite, bronquite, pneumonia e outras doenças infecciosas, de fevereiro de 2020 a 2021 comparando com o mesmo período dos cinco anos anteriores. Descreveremos aqui quais foram as principais contribuições deste estudo.

Como a pandemia de Covid-19 impactou os casos de bronquiolite viral aguda?

Resultados

Esse estudo mostrou uma redução de 42% dos atendimentos pediátricos no geral em 2020 comparado aos cinco anos anteriores (7.873 atendimentos em 2020 vs. uma média anual dos cinco anos anteriores de 13.488 atendimentos/ano). Enquanto ao o número de atendimentos na Emergência de lactentes com BVA reduziu em 84% de 1.045 dos últimos cinco anos para 33 casos em 2020 durante a pandemia de Covid-19.

Não houve diferenças significativas entre as características demográficas dos lactentes com BVA na pandemia e antes da pandemia nem da taxa de internação hospitalar (39,4% vs. 33,4% com P valor de 0,45). O principal agente etiológico da BVA dessa coorte na pandemia continuou sendo o vírus sincicial respiratório, sem diferença significativa para os cinco anos anteriores. Não foram detectados lactentes com BVA com swab positivo para SARS-CoV2, entretanto uma limitação do estudo foi que no início da pandemia houve falta de kits de PCR para detecção de SARS-CoV2 no hospital estudado. Enquanto a taxa de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica por BVA teve redução significativa de 4,7% nos cinco anos anteriores para 0% com P valor < 0,05. Na análise por regressão logística multivariada de fatores de risco associados com atendimentos de lactentes com BVA na Emergência, idade mais baixa foi considerada um fator de risco (OR 0,9, IC 95% de 0,86 a 0,95 e P valor < 0,01), enquanto a pandemia de Covid-19 e a prematuridade não foram consideradas fatores de risco.

Discussão e Conclusão

Mesmo durante a pandemia, as creches e escolas funcionaram no outono e no inverno de 2020 em Roma, então Curatola e colaboradores atribuem a redução dos casos de bronquiolite viral aguda (BVA) na pandemia de Covid-19 às medidas não farmacológicas como uso de máscaras e higiene das mãos. É importante que sejam feitos estudos no Brasil para avaliar qual foi o impacto da pandemia de Covid-19 nos casos de BVA.

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O que observei em minha prática clínica e ao conversar com vários pediatras do Rio de Janeiro é que o número de casos no primeiro semestre de 2020 parece ter diminuído, entretanto o número de casos e internações voltou a aumentar no segundo semestre de 2020. A pandemia de Covid-19 certamente está nos ensinando a reforçar as medidas de higiene, não subestimar quadros que aparentemente possam ser só “resfriados”, isolando de forma mais rápido essas pessoas e evitando a disseminação dos vírus com o uso de máscaras faciais. Infelizmente, a pandemia de Covid-19 no Brasil ainda está longe de ser controlada, então é importante que os profissionais de saúde continuem conscientizando a população sobre manter o uso das máscaras faciais, higiene das mãos e evitar aglomerações mesmo se a pessoa já estiver vacinada.

Referências bibliográficas:

  • Curatola A, Lazzareschi I, Bersani G, Covino M, Gatto A, Chiaretti A. Impact of Covid‐19 outbreak in acute bronchiolitis: lesson from a tertiary italian emergency department. pediatric pulmonology. 2021;1–5. doi: 10.1002/ppul.25442
  • Tumba KT, Comaru T, Machado C, Ribeiro M, Pinto LA. Tendência temporal das hospitalizações por bronquiolite aguda em lactentes menores de um ano no Brasil entre 2008 e 2015. Rev. paul. pediatr. [Internet]. 2020 [cited  2021  May  20]; 38:e2018120. doi: 10.1590/1984-0462/2020/38/2018120.

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