CROI 2021: impacto da vacinação e das variantes do SARS-CoV-2 na imunidade

Em um dos simpósios do CROI 2021, discutiu-se a imunidade elicitada pela infecção natural por SARS-CoV-2 e pela vacinação.

Em um dos simpósios da Conference on Retoviruses and Opportunistic Infections (CROI) 2021, discutiu-se a imunidade elicitada pela infecção natural por SARS-CoV-2 e pela vacinação. Resultados de diversos trabalhos foram apresentados, versando tanto sobre o braço humoral quanto o braço celular da resposta imune ao vírus.

paciente sendo vacinado para ter imunidade ao SARS-CoV-2

Imunidade ao SARS-CoV-2

Inicialmente, deu-se destaque aos resultados que procuram avaliar a duração da imunidade após uma infecção natural. Estudos iniciais mostram que os anticorpos anti-RBD da proteína S das classes IgM e IgA decaem mais rapidamente do que os anticorpos IgG após resolução da infecção. Para os títulos de anticorpos neutralizantes, esses começam a subir duas a três semanas após a infecção, declinando rapidamente após sua resolução.

A avaliação da capacidade neutralizante de amostras de plasma convalescente mostra declínio semelhante, acompanhada de queda pronunciada de anticorpos da classe IgM. Especula-se diante desse resultado que a maior parte dos anticorpos neutralizantes seja composta por anticorpos dessa classe.

Apesar da queda nos níveis de anticorpos, após dez semanas do início dos sintomas, a citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpo (ADCC) permaneceu em níveis sustentados, mostrando que a participação da resposta humoral, mesmo que por via indireta, ainda está presente.

De forma interessante, após uma dose da vacina de mRNA da Pfizer/BioNTech, os níveis de anticorpos, anticorpos neutralizantes e de ADCC aumentam.

Resposta celular

Em outro trabalho, a resposta celular também foi avaliada por meio do seguimento longitudinal de uma coorte de profissionais de saúde. Observou-se que os voluntários que apresentaram infecção mantinham aumento de células B de memória de forma sustentada mesmo após 200 dias do início dos sintomas.

Com a vacinação desses profissionais, foi observado que 1 dose da vacina da Pfizer foi capaz de elicitar, nos indivíduos com história de Covid-19 prévio, respostas de produção de IgG anti-RBD da proteína S, de células B de memória derivadas de IgA e respostas de células T-CD4 e T-CD8. Quando comparados com indivíduos sem infecção prévia, as respostas celulares à primeira dose foram significativamente maiores nos indivíduos previamente infectados, embora a resposta de células T-CD8 pareça ser melhor com duas doses em ambos os grupos.

Títulos de anticorpos

Um terceiro estudo avaliou duas coortes: uma composta também por profissionais de saúde e outra por pacientes hospitalizados por Covid-19, mas com quadros de gravidade variável. A avaliação da produção de anticorpos neutralizantes foi semelhante ao encontrado nos estudos anteriores: pico na produção com duas a três semanas do início dos sintomas, com valores maiores nos com doença mais grave.

Entretanto, um período de observação maior mostrou que, 300 dias após o início dos sintomas, os voluntários com maiores títulos de anticorpos ainda os possuíam em nível detectável. Após 150 a 180 dias após o início dos sintomas, observou-se redução de 2x nos títulos de anticorpos neutralizantes e de 2,4x após 300 dias, mantendo, embora de forma menor, atividade contra a variante do Reino Unido (B.1.1.7).

A análise de amostras de voluntários infectados por essa variante também mostrou que os anticorpos produzidos possuem reação cruzada com o vírus da linhagem original.

Resposta vacinal

Ainda abordando a resposta vacinal, uma das apresentações orais mostrou os resultados de uma coorte de 33 profissionais de saúde contendo indivíduos com (13 indivíduos: dez mulheres e três homens) e sem (20 indivíduos: dez mulheres e dez homens) história prévia de infecção que foram vacinados com a vacina de mRNA da Pfizer/BioNTech em que foram avaliadas a resposta imune basal, após a 1ª dose e após a 2ª dose.

Para anticorpos IgG anti-S1 e anticorpos neutralizantes, voluntários previamente infectados apresentarem grande aumento nos títulos mensurados após a 1ª dose, mantendo níveis estáveis após a 2ª. Para os sem história prévia de infecção, a aumento nos títulos de anticorpos IgG e neutralizantes após a 1ª dose foi menos pronunciado, alcançando níveis comparáveis aos com exposição anterior após a 2ª dose.

A avaliação de avidez mostrou alta avidez dos anticorpos após a 1ª dose em indivíduos com infecção prévia, sem aumento com a dose posterior, enquanto indivíduos naive apresentam avidez baixa na 1ª dose, que aumenta com a 2ª dose.

Quando testados contra as novas variantes, ambos os grupos apresentaram aumento dos níveis de anticorpos neutralizantes após as duas doses da vacina, mas os títulos foram maiores nos com infecção prévia. Para ambos os grupos, os títulos de anticorpos neutralizantes foram menores diante da variante da África do Sul (B1351) do que com as variantes de Nova Iorque (D164G) e do Reino Unido (B1.1.7).

Mensagens práticas

  • Indivíduos com infecção natural pelo SARS-CoV-2 parecem apresentar pico de produção de anticorpos de curta duração, mas com uma resposta celular de memória mais duradoura.
  • Em indivíduos com infecção prévia, uma única dose de vacina de mRNA foi capaz de elicitar aumento expressivo em marcadores de resposta humoral e celular, com poucos ganhos após a segunda dose. Esses resultados sugerem que talvez pessoas que já se infectaram possam ter esquema vacinal com apenas uma dose, o que está sendo investigado.
  • Parece haver reação cruzada entre os anticorpos neutralizantes produzidos em resposta às diferentes variantes.

Confira outros destaques do CROI:

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