Infecção microbiana na etiologia de doenças como Alzheimer e diabetes

Dentre as doenças com possível origem infecciosa, estão o Alzheimer, diabetes e aterosclerose. Saiba como ocorre a infecção em cada uma delas.

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Devido aos avanços nos estudos moleculares e conhecimento sobre a fisiopatologia de doenças, o foco da Saúde Pública tem sido surpreendido pela possibilidade de agentes infecciosos estarem definitivamente associados a patologias crônicas comuns nos dias atuais.

A possibilidade dessa associação pode levar a novos tratamentos terapêuticos, talvez revolucionando as condutas frente às doenças crônicas, assim como permite explicar como os processos patológicos podem ser mais similares do que se imaginava.

Dentre as doenças com possível origem infecciosa, encontram-se o Alzheimer, diabetes e aterosclerose, as quais envolvem proteínas deletérias, e o processo inflamatório desempenha um papel em cada uma delas. Adicionalmente, essas doenças se tornam mais comuns com o avanço da idade, e podem contribuir como risco para a outra.

Assim como foram reconhecidas pelo prêmio Nobel, as descobertas sobre a associação de retrovírus como causa de câncer (Michael Bishop e Harold Varmus, 1989), da origem infecciosa da gastrite e da úlcera céptica (Barry Marshall e Robin Warren, 2005) e do câncer cervical associado ao HPV (Harald zur Hausen, 2008), surgem questionamentos sobre a possível origem infecciosa do Alzheimer, diabetes e ateroesclerose. Será?

Infecção microbiana

A infecção viral e a doença de Alzheimer

Os pesquisadores têm aprofundado os estudos em função da formação de placas amiloides e da proteína tau na fisiopatologia dessa doença. Um estudo realizado por Ruth F. Itzhaki, da Universidade de Manchester no Reino Unido, em 1997, indicou que 60% dos pacientes com a doença de Alzheimer apresentavam o vírus herpes simplex tipo 1 (HSV1) em tecido cerebral e o gene para a apolipoproteína E (APOE-ε4), sendo predominante em indivíduos > 70 anos.

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E sugere-se que a presença desse gene resultava em menor resistência ao vírus latente, levando a lesões cerebrais e em outras regiões anatômicas. Outros pesquisadores detectaram o DNA viral em placas amiloides e a proteína tau em culturas de células infectadas com HSV1, levando à conclusão que tais estruturas proteicas servem como mecanismo de defesa contra o vírus.

As proteínas também exibiram atividade antimicrobiana pela inibição do crescimento de Escherichia coli e Candida albicans. Esses achados sugerem a possibilidade de que supressão viral poderia ser uma forma precoce de evitar o desenvolvimento do Alzheimer e outras demências, como suportado por outros estudos.

A infecção viral e outras desordens neurológicas e cardiovasculares

Outros estudos evidenciam a associação de infecções virais com a esquizofrenia, epilepsia, Parkinson e depressão, a partir do conceito de que os príons consistem em produtos antimicrobianos. A inferência de que a APOE-ε4 aumenta o risco para a doença de Alzheimer, oclusão vascular, redução do fluxo sanguíneo cerebral e também à hiperlipidemia.

Adicionalmente, as lesões ateroescleróticas contém a proteína beta-amiloide. Alguns pesquisadores suportam a teoria de que a infecção leva à inflamação, inclusive à produção de 25-hidroxicolesterol para a defesa contra os vírus, em uma cascata que leva ao acúmulo intracelular de ésteres de colesterol e lipídeos, oclusão vascular e a doença.

A infecção e a diabetes

A maioria dos pesquisadores acredita que um patógeno dispara a resposta imune que evolui para um ataque autoimune ao pâncreas na diabetes tipo 1. Sabe-se que a predisposição genética é a base da patologia, mas a prevalência varia em populações geneticamente similares, mesmo entre gémeos idênticos. Já foi descrita a evolução da diabetes tipo 1 em pacientes após infecção por caxumba, parainfluenza, herpes simplex, enterovírus e outros patógenos.

E o mesmo pode ser observado na diabetes tipo 2? Doenças como periodontite, infecção por Helicobacter pylori e Borrelia estão também associadas com a diabetes. Reconhece-se que os depósitos de proteína beta-amiloide e amilina, de maneira semelhante ao Alzheimer, estão presentes em mais de 95% dos pacientes com diabetes tipo 2, sugerindo que tais estruturas atuam como mecanismos antimicrobianos, não necessariamente eficazes.

Algumas hipóteses ou esclarecimentos adicionais, baseados em investigações científicas, ainda estão sob avaliação mas estejamos cientes de que futuramente podemos ser surpreendidos por novos achados sobre associações nos próximos anos.

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Referências:

  • Itzhaki RF, Lin WR, Shang D, Wilcock GK, Faragher B, Jamieson GA. Herpes simplex virus type 1 in brain and risk of Alzheimer’s disease. Lancet. 1997;349:241-244.
  • Itzhaki RF. Corroboration of a major role for herpes simplex virus type 1 in Alzheimer’s disease. Front Aging Neurosci. 2018;10:324.
  • Soscia SJ, Kirby JE, Washicosky KJ, et al. The Alzheimer’s disease-associated amyloid β-protein is an antimicrobial peptide. PLoS One. 2010;5:e9505.
  • Tzeng NS, Chung CH, Lin FH, et al. Anti-herpetic medications and reduced risk of dementia in patients with herpes simplex virus infections—a nationwide, population-based cohort study in Taiwan. Neurotherapeutics. 2018;15:417-429.

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