Manejo da obesidade ao longo da vida da mulher

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2016, 40% das mulheres estavam acima do peso e 15% conviviam com a obesidade.

A obesidade é definida pela OMS como um acúmulo anormal ou excessivo de adipócitos que colocam sua saúde em risco. O método mais comum de cálculo da obesidade é através do IMC. A obesidade é uma doença crônica, progressiva, redicivante e tratável, além de ser multifatorial e consequência de uma doença neurocomportamental.

A prevalência da obesidade vem aumentando nos centros urbanos enquanto que os quadros de desnutrição persistem nas áreas rurais.

Manejo da obesidade ao longo da vida da mulher

Análise recente

Em um trabalho do International Journal of Gynaecology & Obstetrics em janeiro de 2023 uma grande revisão sobre o manejo da obesidade em diferentes fases da vida da mulher trouxe sugestões para o manejo dessas situações.

O período relacionado à gravidez (pré-concepção, pré-natal e puerpério) é uma grande oportunidade para o trabalho de conscientização e tratamento da obesidade na vida das mulheres. A FIGO tem sugerido utilizar esse período onde a mulher frequenta regularmente os serviços de saúde como uma das melhores oportunidades de orientações e tratamento da obesidade feminina. Além do impacto na saúde orgânica existe um impacto social que pode ser dirimido.

  1. Ambiente intrauterino e seu impacto na saúde infantil: pais obesos impactam negativamente nas gerações futuras por modificações epigenéticas tanto maternas quanto paternas em seus respectivos gametas, assim como nos embriões e fetos.
  2. Otimização da saúde: IMC pode ser usado na gestação a partir de 18 semanas, apesar de não ser muito confiável pelas mudanças corporais maternas. Fora da gravidez a medida da circunferência da cintura é melhor parâmetro em pacientes de IMC 25-35. Recomenda-se o screening para obesidade como rotina usando o IMC. Para o tratamento e seguimento a Escala de obesidade de Edmonton pode ser melhor, já que considera parâmetros metabólicos, físicos e aspectos psicológicos na avaliação.
  3. O tratamento deve incluir: mudança de comportamento, terapia nutricional, exercício físico, seguimento psicológico e comportamental, farmacoterapia e até eventuais procedimentos cirúrgicos.
  4. Cuidados centrados na família: muitas causas da obesidade estão relacionadas a costumes familiares. Ainda não existem evidencias suficientes que sugiram que mudanças centradas na família possam otimizar resultados perinatais.
  5. Educação e treinamento dos prestadores de cuidados à saúde: muitos profissionais não estão preparados para uma abordagem adequada à mulher obesa. Programas de treinamento tanto técnicos como de apoio psicológico que incluam obesidade podem otimizar o cuidado à saúde feminina.
  6. Tecnologia: o uso de programas web, aplicativos para celulares e aparelhos weareble são bem vindos como facilitadores do tratamento,
  7. Abordagem das causas principais da obesidade: gravidez é uma janela de oportunidades para inserção do diagnóstico, tratamento e orientações sobre obesidade. Programas de saúde pública em países de baixa renda ou em desenvolvimento tem focado na desnutrição, mas a abordagem da obesidade precisa ser lembrada também. As relações entre obesidade e desnutrição devem ser priorizadas.
  8. Implicações na saúde da mulher obesa:
    • Doenças gastrointestinais e hepáticas: alta prevalência de doença hepática gordurosa não alcoólica, sendo a segunda causa mais comum de transplante hepático e carcinoma hepatocelular. Obesidade, sexo feminino e multiparidade tem associação com colelitíase e suas complicações como colicistite. Todas as mulheres com obesidade grau 3 ou mais devem ser avaliadas para colelitíase. Obesas tem maiores chances de deficiências de folato, vitaminas B1, B12 e vitamina C. A gravidez pode exacerbar essas deficiências.
    • Neoplasias relacionadas a obesidade: a obesidade aumenta o risco de neoplasia endometrial, renal, esofagiana, ovariana e mamária nas mulheres na pós menopausa. A ação da obesidade se dá diretamente no eixo insulina-IGF-1, hormônios sexuais (aumentando a aromatização periférica com produção estrogênica) e mecanismos no tecido adiposo. A cirurgia bariátrica pode diminuir a incidência de cânceres de mama e endometrial. Mulheres com sangramento uterino anormal e obesas devem ser prontamente referenciadas para investigação endometrial (principalmente com antecedente de ovários policísticos).
    • Doenças renais: a adiposidade com sua compressão visceral renal ou por mudanças metabólicas e inflamatórias parecem ser os mecanismos de disfunção renal. Nas gestantes obesas associa-se a síndrome metabólica com fator de risco para pré-eclâmpsia, glomerulonefrite persistente puerperal, nefropatia diabética e doenças renais terminais todas com fator de risco a obesidade. Ainda com mecanismo obscuro obesos podem apresentar carcinoma renal, elevação de triglicerídeos e glicemia de jejum.
    • Sistema respiratório: a dispneia causada pela obesidade diminui a PaO2 e eleva a PaCO Além dessas, a apneia obstrutiva do sono é evento comum entre obesas.
    • Sistema vascular: mulheres com IMC ≥ 30 tem risco 4x maior de eventos tromboembólicos, principalmente após cesáreas. A profilaxia para TVP deve ser iniciada no 1º dia pós-parto e mantida por e semanas após partos normais e por 6 semanas nas puérperas de cesárea.
  9. Saúde ginecológica e reprodutiva:
    • Preventiva: adequação de mobiliário para atendimento de pacientes obesas, além de vestuário apropriado. Medidas que facilitem o acesso dessas mulheres e não as afastem dos serviços de saúde.
    • Uso de especulo vaginal apropriado e manobras para acesso ao colo uterino de modo a obter amostra significativa para preventivo colo uterino.
    • Considerar consulta prévia para avaliar possíveis traumas relacionados ao atendimento com dificuldade de exames pélvicos passados por adiposidade vaginal. Agendamento com pessoal habilitado nessas situações.
    • Endométrio: pela associação com displasias todo sangramento uterino anormal deve ser investigado cuidadosamente.
    • Mama: a mama contem adipócitos predominantemente. Seu excesso é fator de risco para câncer de mama pelo aumento de fatores de crescimento, mediadores inflamatórios como citocinas e aumento da atividade de aromatases fazendo conversão em estrogênio.
    • Ovário: mulheres obesas na pós-menopausa têm mais risco de câncer de ovário. Uma história familiar cuidadosa e a vigilância em exames de rotina pode ajudar.
    • Contracepção: o risco de TVP em obesas usando contraceptivos combinados é 2x maior quando comparadas com mulheres de peso normal. a abordagem individualizada é importante, mas de um modo geral o uso de contracepção com progestágenos é a melhor escolha (injetável, implante, DIU) ou o uso de DIU não hormonal.
    • Contracepção emergência: não há dados suficientes para escolha em mulheres obesas em idade reprodutiva. A FIGO sugere uma dose dobrada de levonorgestrel pode ser efetivo.
  10. Menopausa: obesidade e tabagismo pioram em muito os sintomas vasomotores. A terapia de reposição hormonal é controversa pelos riscos de câncer de mama, TVP e doenças cardiovasculares nessa população. Opções como gabapentina, clonidina, paroxetina, venlafaxina e cimicífuga podem ser usados para alívio dos sintomas vasomotores.
  11. Osteoporose: não há consenso no risco maior de desenvolvimento de osteoporose. Descontinuação de uso de álcool e tabaco devem ser estimulados, atividade física deve ser sugerida como medida para evitar risco de quedas.
  12. Depressão: depressão está associada com obesidade e transição menopausa. Mudança de imagem corporal, estigmas discriminatórios pela obesidade, abuso de substancias e condições psiquiátricas pré existentes são fatores de risco para piora na menopausa.

Mensagem final

Pesquisas futuras devem ser focadas no treinamento pessoal dos prestadores de cuidados a saúde e pesquisa das causas da obesidade e suas interpelações. Intervenções efetivas em otimização de ações de saúde para entender e evitar as morbidades relacionadas a obesidade nas mulheres podem ser chaves para auxílio a essas pessoas. O tratamento não pode ser generalizado.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Maxwell, CV, Shirley, R, O’Higgins, AC, et al. Management of obesity across women's life course: FIGO Best Practice Advice. Int J Gynecol Obstet. 2023;160(Suppl. 1):35- 49. DOI:10.1002/ijgo.14549

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