Quais são as novidades sobre sedoanalgesia em Pediatria?

Artigo recente destaca com grande clareza as novidades das últimas diretrizes sobre sedoanalgesia pediátrica.

Otimizar o controle da dor e estresse nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica é um desafio e uma prioridade. Diante disso, Mondardini, Sperotto, Daverio e Amigoni publicaram um artigo em fevereiro de 2023 no European Journal of Pediatrics com as novidades das diretrizes recentemente publicadas da Society of Critical Care Medicine de 2022 e da Italian Society of Neonatal and Pediatric Anesthesia and Intensive Care também de 2022 sobre sedoanalgesia em Pediatria e seus pontos de vista. Aqui destacaremos os principais pontos discutidos nesse artigo.

Quais são as novidades sobre sedoanalgesia em Pediatria

Sobre a analgesia

Em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), os pacientes são muito expostos à dor e desconforto, sendo que os estímulos dolorosos de forma repetida em neonatos podem causar dismaturação cerebral primária com comprometimento do neurodesenvolvivento a curto e longo prazo.

É fundamental usar ferramentas validadas que mensurem a dor do paciente e permitam o tratamento adequado da dor e a escolha do(s) analgésico(s) a ser(em) usado(s) conforme a potência, ainda existe grande variabilidade nas estratégias usadas por neonatologistas e intensivistas pediátricos. Também é importante investir em medidas de controle da dor não farmacológicas e permitir a presença dos pais. Pacientes sem dor demandam menos sedação, ficando mais estáveis hemodinamicamente e têm melhor prognóstico.

Leia também: CBMEDE 2022: Sedação e analgesia na emergência pediátrica

Ainda não está estabelecido qual é o melhor analgésico. Em UTIs Pediátricas europeias e norte-americanas, a principal escolha atual de analgesia são os opioides com o tipo de opioide sendo escolhido conforme farmacocinética, vantagens e desvantagens de cada medicação, sendo o fentanil escolhido geralmente de 1ª linha conforme Daverio e colaboradores (2022), e Kudchadkar, Yaster e Punjab (2014).

O uso neonatal de opioides em infusão contínua durante ventilação mecânica ainda é controverso por conta de eventos adversos a curto prazo (ex. maior tempo de ventilação mecânica, hipotensão arterial e piora de tolerância à dieta) e longo prazo (ex. comprometimento neuropsicomotor). O uso de fentanil ou remifentanil endovenoso ou intranasal é ideal para intubação endotraqueal.

Recomendam usar anti-inflamatórios não esteroidais e paracetamol no tratamento adjuvante de dor forte aguda, assim como considerar o uso de bloqueios periféricos e técnicas neuroaxiais no tratamento de dor localizada.

Sobre a sedação

As últimas diretrizes defendem o uso de sedação leve, redução do uso e das doses de benzodiazepínicos principalmente em infusão contínua por conta do aumento de delirium e potencial comprometimento do neurodesenvolvimento, e focar no controle da dor. Entretanto, Mondardini e colaboradores enfatizam que para manter os pacientes com sedação leve são necessárias mudanças no raciocínio clínico e organizacionais como: garantir maior vigilância sobre o paciente com menor número de pacientes por profissional de Enfermagem e maior presença dos pais.

As diretrizes recomendam o uso de dexmedetomidina ou clonidina como sedativos principalmente em pós-operatório e casos de complexidade menor. O uso de dexmedetomidina já é bem estudado em pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca, como sedativo único em pacientes em ventilação não invasiva e como adjuvante em pacientes em uso de benzodiazepínico e opioide. Entretanto, ainda é necessário investigar os efeitos do uso de dexmedetomidina como sedativo a longo prazo nas UTIs Pediátrica (UTIPs), como é o desenvolvimento de tolerância e síndrome de abstinência. A clonidina é uma alternativa efetiva e mais barata que a dexmedetomidina, ainda não há estudos comparando clonidina versus dexmedetomidina em paciente graves nas UTIPs.

Sobre o conceito paciente “difícil de sedar”

Não há definição clara sobre o que é um paciente “difícil de sedar”, se seria um paciente que necessita de dosagens máximas para obter o nível desejado de sedação ou precisa de vários sedativos. Nesta possível segunda definição, dexmedetomidina, cetamina e propofol são possíveis adjuvantes. As condutas entre diferentes centros variam muito.

Monitorar sedoanalgesia, delirium e síndrome de abstinência

Usar ferramentas clínicas validadas para monitorar sedoanalgesia, delirium e síndrome de abstinência é fundamental para guiar os pediatras no tratamento dos pacientes. Ainda não temos essas ferramentas de sedoanalgesia direcionadas para pacientes com déficit cognitivo, enquanto para delirium já podemos aplicar a ferramenta Cornell Assessment of Pediatric Delirium (CAPD) para esses pacientes.

Ainda não há evidências claras sobre o impacto clínico das novas ferramentas para avaliação de sedoanalgesia para os pacientes graves no geral como Analgesia Nociception Index (ANI), Newborn Infant Parasympathetic Evaluation Index (NIPE), condutância da pele, pupilometria e eletroencefalograma processado (pEEG) (como bispectral index (BIS) or Sedline®). Entretanto, o uso de eletroencefalograma processado (pEEG) ganha destaque para monitorar pacientes que estejam com bloqueio neuromuscular (BNM), mas ainda precisamos de mais estudos para ajudar otimizar a sedoanalgesia nesse grupo de paciente.

Plano de sedoanalgesia e outras medidas

O artigo refere que implementar plano de sedoanalgesia é necessário e sugere o seguinte plano:

  • 1ª linha) Associar opioide (fentanil 1-5 mcg/kg/hora endovenoso OU morfina 5-30 mcg/kg/hora endovenosa) COM alfa-agonista (dexmedetomidina 0,12-1,4 mcg/kg/hora endovenosa OU clonidina 0,3-2 mcg/kg/hora endovenosa);
  • 2ª linha) Associar midazolam 0,03-0,2 mg/kg/hora endovenoso;
  • 3ª linha) Nos pacientes difíceis de sedar, associar cetamina 5-50 mcg/kg/minuto endovenosa;
  • 4ª linha) Associar outras opções como anti-histamínico, propofol, barbituratos e/ou sevoflurano.

Sempre considerar:

  • Delirium e tratar seus fatores de risco modificáveis como restrições, imobilidade, distúrbio de sono e uso de benzodiazepínicos;
  • Síndrome de abstinência (mais comum com uso de benzodiazepínicos e opioides principalmente nos que usaram por pelo menos 5 dias, mas pode ocorrer com dexmedetomidina)
  • Ciclo sono-vigília (dexmedetomidina preserva o sono normal, mas benzodiazepínicos e opioides não promovem sono restaurador);
  • Melhorar a comunicação com os pais.

Saiba mais: WFPICCS 2022: Práticas de sedação, analgesia e dieta zero para a retirada de drenos de tórax em crianças no pós-cirúrgico cardíaco

Conclusão

O artigo de Mondardini e colaboradores destaca com grande clareza as novidades das últimas diretrizes sobre sedoanalgesia pediátrica como: os opioides ainda continuarem sendo a principal classe de analgésicos usada em UTIPs; preconizar o uso de sedação leve; reforça a necessidade do uso de ferramentas clínicas para monitorar sedoanalgesia, delirium e síndrome de abstinência; propõe plano de sedonalgesia. Enfatizam que ainda não temos estabelecido o melhor analgésico em Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica.

Ao mesmo tempo, propõe que mais estudos sejam feitos para identificar as melhores intervenções farmacológicas e não farmacológicas para tratamento da dor, estresse, delirium e preservação do ciclo sono-vigília em UTIs assim como ferramentas para monitorá-las. Também sugerem que sejam feitos trabalhos em colaboração entre neonatologistas e intensivistas pediátricos para fazer diretrizes em conjunto.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Mondardini MC, Sperotto F, Daverio M, Amigoni A. Analgesia and sedation in critically ill pediatric patients: an update from the recent guidelines and point of view. 2023: European Journal of Pediatrics. DOI: 10.1007/s00431-023-04905-5
  • Smith HAB, Besunder JB, Betters KA et al (2022) 2022 Society of Critical Care Medicine Clinical Practice Guidelines on prevention and management of pain, agitation, neuromuscular blockade, and delirium in critically ill pediatric patients with consideration of the ICU environment and early mobility. Pediatr Crit Care Med 23:e74–e110. DOI: 10.1097/PCC.0000000000002873
  • Amigoni A, Conti G, Conio A et al (2022) Recommendations for analgesia and sedation in critically ill children admitted to intensive care unit. J Anesth Analg Crit Care 2:9. DOI: 10.1186/s44158-022-00036-9
  • Daverio M, von Borell F., Ramelet AS. et al. Pain and sedation management and monitoring in pediatric intensive care units across Europe: an ESPNIC survey. Crit Care 26, 88 (2022). DOI: 10.1186/s13054-022-03957-7
  • Kudchadkar SR, Yaster M, Punjabi NM (2014) Sedation, sleep promotion, and delirium screening practices in the care of mechanically ventilated children: a wake-up call for the pediatric critical care community. Crit Care Med 42:1592–1600. DOI: 10.1097/CCM.0000000000000326