Redução da ingesta alcoólica possui benefício na fibrilação atrial?

O consumo de álcool está relacionado a outros fatores de risco cardiovasculares e doenças que favorecem o surgimento de fibrilação atrial.

O consumo regular de álcool é comum em nossa sociedade, sendo a droga lícita mais consumida no mundo. Estudos observacionais mostram uma relação dose-dependente entre a ingesta de álcool e a um aumento da incidência de fibrilação atrial (FA), aumento do volume atrial esquerdo, fibrose atrial e recorrência de FA após ablação.

Além disso, o consumo de álcool está relacionado a outros fatores de risco cardiovasculares e doenças que favorecem o surgimento de FA, como a hipertensão, apneia obstrutiva do sono, obesidade e insuficiência ventricular esquerda. Entretanto a há pouca evidência na literatura de que reduzir ou interromper a ingesta de álcool ajuda a prevenir novos episódios de FA.

Álcool e fibrilação atrial

Um estudo australiano, multicêntrico decidiu testar o poder da redução do consumo de álcool na prevenção secundária da FA. Foram 697 pacientes de 18 a 85 anos que consumiam pelo menos dez doses de álcool (120 g de álcool puro) por semana. Destes apenas 140 foram incluídos no estudo para randomização em dois grupos de 70 participantes cada.

Os pacientes do grupo do tratamento eram encorajados a abstinência alcoólica por seis meses, eles eram monitorados pela equipe investigadora e tinha um guia de como avaliar a não ingesta de álcool. Eles ainda aceitaram realizar exames de urina para detecção de da substância no organismo.

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Para participarem do estudo, as pessoas deveriam apresentar episódios de FA paroxística nos últimos seis meses ou mesmo estar em FA com controle de frequência como estratégia terapêutica. Após a randomização todos os pacientes precisavam estar em ritmo sinusal, ainda que fossem necessários antiarrítmicos para isso. Pessoas com dependência ou abuso de álcool, doença psiquiátrica, disfunção ventricular esquerda grave (FE <35%) e doença não cardíaca grave foram excluídos do estudo.

Os pacientes foram monitorados com dispositivos cardíacos (marcapasso, monitor de eventos, holter) ou um aplicativo de celular. Eram encorajados a mandar traçados de ECG ao menos duas vezes ao dia e sempre que sintomáticos.

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Resultados

O desfecho primário foi definido como a recorrência da fibrilação atrial (taquiarritmia atrial com 30 segundos ou mais de duração) após 2 meses de abstinência alcoólica. O desfecho secundário era uma comparação entre os grupos de determinadas variáveis como perda de peso, controle da pressão, sintomas de FA, qualidade de vida, hospitalização por FA, entre outros.

O desfecho primário foi atingido em 37 pacientes (53%) do grupo da abstinência alcoólica, e 51 pacientes (73%) do grupo da ingestão alcoólica. Os pacientes do grupo da abstinência ainda tiveram um tempo maior sem recorrência da FA e uma menor carga da FA.

Com isso o artigo mostra que a redução da ingesta de álcool é capaz de reduzir a incidência, aumentar o tempo livre e reduzir a carga da FA de maneira estatisticamente significativa. Ainda sim perceba que mesmo no grupo da abstinência mais da metade dos pacientes desenvolveram FA, o que mostra o caráter multifatorial a doença.

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Entretanto é plausível manter a recomendação de para ou reduzir a ingesta de álcool em pacientes com fibrilação atrial.

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Referências bibliográficas:

  • Voskoboinik A, et al. Alcohol Abstinence in Drinkers with Atrial Fibrillation. N Engl J Med, January 2, 2020;382:20-8. DOI: 10.1056/NEJMoa1817591

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