Sífilis no carnaval: cuidado com a epidemia silenciosa [Especial de Carnaval]

Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de detecção da sífilis passou de 44,1/100 mil habitantes em 2016 para 58,1 casos para cada 100 mil habitantes em 2017.

Carnaval chegou e junto com a folia, cresce a preocupação com infecções sexualmente transmissíveis (IST). A sífilis, uma das grandes representantes deste grupo, vem sorrateiramente na fase primária, podendo se manifestar como uma lesão no pênis/vagina, que logo depois desaparece e deixa a sensação de que tudo está resolvido, porém o que muitos pacientes não sabem é que esta falsa resolução é apenas uma pausa para as próximas etapas de manifestações.

Os quatro dias de folia terminam, mas a doença deixa rastros terríveis. No Brasil, os dados assustam, em outubro de 2016, o Ministério da Saúde reconheceu que a situação estava em níveis alarmantes e decretou a epidemia de sífilis. Como chegamos a este ponto e quais as estratégias para frear o Treponema?

sífilis

Infecção por sífilis

Primeiro, precisamos reconhecer o nosso atual cenário. O Boletim Epidemiológico de Sífilis – 2019, publicado pelo Ministério da Saúde, aponta que a taxa de detecção da sífilis adquirida no Brasil passou de 58,1/100 mil habitantes em 2018 para 75,8 casos para cada 100 mil habitantes em 2018.

Em comparação ao ano de 2017, observou-se aumento de 25,7% na taxa de detecção em gestantes, 5,2% na incidência de sífilis congênita e 28,3% na incidência de sífilis adquirida. O número de óbitos por sífilis congênita foi de 241 casos em 2018, maior que em relação a 2017, quando foram registrados 206 casos.

Ver o crescimento absurdo nos números da doença soa até contraditório quando pensamos que o tratamento é tão simples e barato: penicilina benzatina. Então como o Brasil conseguiu ser alvo de uma epidemia tão facilmente curável? A queda no uso de camisinhas surge como uma questão importante, mas parece não justificar estes números por completo. Um fato que chama bastante a atenção é o desabastecimento global da penicilina.

Leia maisSaiba como fazer acompanhamento da sífilis adquirida [Especial de Carnaval]

Em janeiro de 2016, um levantamento feito pelo Ministério da Saúde indicou que 60,7% dos estados relataram falta de penicilina. Os baixos estoques do medicamento afetam, principalmente, a rede pública de saúde do Brasil. Uma das causas para este cenário é justamente o que seria a maior qualidade da penicilina, o fato de ser um produto barato, e não estar gerando lucros significativos para os fabricantes.

Outro ponto que pode ter pesado a favor da disseminação da doença era proibição (até julho de 2015) da aplicação do medicamento pela equipe de enfermagem de locais que não estivessem equipados para evitar um choque anafilático. Na prática, se o posto de saúde não tivesse material para uma entubação, por exemplo, não poderia medicar portadores de sífilis.

Como frear o Treponema pallidum?

Para driblar esta questão do desabastecimento dos antibióticos, o Ministério da Saúde passou, em 2016, a centralizar as aquisições dos produtos para garantir o acesso da população aos medicamentos. A compra, na realidade, era de responsabilidade de estados e municípios, porém entes federativos isolados estavam com dificuldades em adquirir o remédio. Entre 2016 e setembro de 2017, foram entregues 2.175.000 frascos-ampola de penicilina benzatina.

Outra mudança realizada para ampliar o atendimento se referiu à parte operacional. Isso porque, até julho de 2015 a aplicação do medicamento pela equipe de enfermagem dos locais era restrita. Porém, em 2017 o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) publicou uma nota técnica revisando a recomendação e afirmando que os profissionais da área estavam aptos a administrar a medicação mediante prescrição médica ou de enfermagem. Esta medida teve um papel importante, pois riscos do não-tratamento superam o de ocorrências adversas.

Por fim, o médico tem um papel essencial neste combate na conscientização dos pacientes sobre a doença e necessidade de prevenção (basicamente orientando preservativos!), ainda mais neste período de folia, em que há tanta transmissão de IST. Além disso, o diagnóstico e tratamento precisos são essenciais. Então, vamos terminar a recordando:

Quando pensar em sífilis?

Sífilis primária

  • Lesão, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele), que aparece entre 10 a 90 dias após o contágio.
  • Normalmente indolor, podendo estar acompanhada de linfonodomegalias na virilha.

Sífilis secundária

  • Os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da lesão inicial.
  • Pode ocorrer rash pelo corpo, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés.
  • Pode ocorrer febre, mal-estar, cefaleia, linfonodomegalias

Sífilis latente – fase assintomática

  • Não aparecem sinais ou sintomas.
  • É dividida em sífilis latente recente (menos de dois anos de infecção) e sífilis latente tardia (mais de dois anos de infecção).
  • A duração é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária.

Sífilis terciária

  • Pode surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção.
  • Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar evoluir com óbito.

Como tratar?

Tratamento sífilis
Sífilis primária, secudária e latente precoce Penicilina G benzatina 2,4 milhões UI (1,2 milhões UI em cada glúteo) via IM dose única.
Sífilis latente tardia e sífilis terciária Penicilina G benzatina 2,4 milhões UI (1,2 milhões UI em cada glúteo) via IM 1x em cada semana (total de 3 semanas)
Neurossífilis Penicilina G cristalina 3 a 4 milhões UI EV 4/4h (ou 18 a 24 milhões UI por infusão contínua) por 10 a 14 dias

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