Uso de celular como fator de risco para hipertensão

Estudo investigou a associação do uso de celular com a ocorrência de hipertensão na população geral.

Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um dos fatores de risco modificáveis relacionados a doenças cardiovasculares (DCV), sua prevalência está em torno de 20-25% dos indivíduos adultos. Assim, é importante identificar fatores de risco para HAS que possam ser modificados, contribuindo para a redução de sua incidência e consequente morbimortalidade.

Os celulares são dispositivos utilizados diariamente por bilhões de pessoas e alguns estudos sugerem que a emissão de campos eletromagnéticos de radiofrequências por longo período está relacionada a estresse oxidativo, aumento de inflamação e dano ao DNA, que podem contribuir para o desenvolvimento de HAS. Outros mecanismos também já foram sugeridos, também sem comprovação definitiva.

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A maioria dos estudos que relacionam uso de celular e hipertensão são transversais ou caso-controle, bastante heterogêneos, com pequeno número de pacientes e resultados inconclusivos. Assim, foi publicado recentemente um novo estudo com objetivo de investigar a associação do uso de celulares para fazer ou receber ligações com a ocorrência de hipertensão na população geral. Além disso, foi feita avaliação da susceptibilidade genética à hipertensão nesses pacientes.

Uso de celular como fator de risco para hipertensão

Métodos do estudo e população envolvida

Foram avaliados pacientes do estudo UK Biobank, prospectivo, observacional, desenhado para avaliar o papel de exposições na saúde e doença. O UK BioBank recrutou 500 mil adultos de 37 a 73 anos, em 22 centros do Reino Unido, de 2006 a 2010 e para este estudo foram incluídos na análise final 212046 pacientes, sem antecedente de hipertensão na inclusão e que tinham dados sobre uso do celular disponíveis.

Os dados clínicos e laboratoriais foram obtidos na inclusão, assim como os dados sobre utilização do celular (por questionário). A suscetibilidade genética foi avaliada a partir de um escore de risco genético para hipertensão, que levou em conta polimorfismos associados. O desfecho foi novo diagnóstico de hipertensão baseado na história clínica e admissões hospitalares.

Resultados

A idade média dos pacientes era de 53,7 anos, 37,7% eram do sexo masculino e 87,6% usavam celular pelo menos uma vez na semana. Comparado aos que usavam menos de uma vez na semana (considerados não usuários de celular), os que usavam mais eram mais jovens, com mais frequência tabagistas, com maior IMC, menores níveis de pressão arterial (PA), maior frequência de história familiar de HAS e maior frequência de utilização de medicações para dislipidemia e diabetes.

Pessoas que utilizavam celular com maior frequência durante a semana eram mais jovens, com maior frequência do sexo masculino, tabagistas e com maior tendência de utilizar dispositivos que deixam as mãos livres. Esses pacientes tinham menores níveis de PA sistólica, menos padrões de sono e dieta saudáveis, menor taxa de atividade física, renda, IMC, taxa de filtração glomerular, PCR e maior frequência de história familiar de HAS.

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No seguimento médio de 12 anos, 13.984 (6,6%) pacientes tiveram diagnóstico de HAS e o risco dos que usavam celular foi maior (HR 1,07; IC95% 1,01–1,12). Houve aumento do risco de forma progressiva relacionado a maior utilização do celular: 30 a 59 minutos por semana HR 1,08 (IC95% 1,01 – 1,16), entre 1 e 3 horas HR 1,13 (IC 95% 1,06 – 1,22), entre 4 e 6 horas HR 1,16 (IC95% 1,04 – 1,29) e maior que 6 horas HR 1,25 (IC95% 1,13 – 1,39), com p < 0,001. No geral, o uso por 30 minutos ou mais aumentou o risco em 12% comparado ao uso por menos de 30 minutos (HR 1,12; IC95% 1,07 – 1,17).

Os resultados foram semelhantes para homens e mulheres e ajustes para atividade física, renda, padrões de sono e dieta, sintomas depressivos e taxa de filtração glomerular não modificaram os resultados.

Ao se associar a análise de risco genético, pacientes com alto risco genético e uso de celular por mais de 30 minutos tiveram risco 33% maior que os de baixo risco genético e uso de celular por menos de 30 minutos (HR 1,33; IC95% 1,24-1,43).

Comentários e conclusão

Neste estudo, que englobou grande número de pacientes, foi visto que o uso de celular para fazer ou receber ligações por 30 minutos ou mais na semana foi relacionado a um maior risco de desenvolver hipertensão. Além disso, pacientes com susceptibilidade genética elevaram esse risco.

Esse estudo avaliou apenas o tempo em ligações e não levou em consideração a utilização do dispositivo para outros fins. A utilização por tempo prolongado não parece ter feito diferença, mas sim a frequência do seu uso, mesmo para quem utiliza celular há vários anos, já que mesmo os que utilizavam por menos de 30 minutos por semana ao longo de muitos anos mantinham esse risco baixo.

Os resultados precisam ainda ser confirmados, porém talvez reduzir o tempo de utilização do celular em ligações possa contribuir como forma de prevenção primária de hipertensão.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Ye Z, et al. Mobile phone calls, genetic susceptibility, and new-onset hypertension: results from 212 046 UK Biobank participants. European Heart Journal - Digital Health. 2023;ztad024. DOI: 10.1093/ehjdh/ztad024