ECCMID 2022: Gram-negativos de interesse na terapia intensiva, parte I – A. baumannii

O primeiro dia do ECCMID 2022 teve palestra focando em características especiais de algumas bactérias Gram-negativas, como a A. baumannii.

Infecções relacionadas à assistência à saúde são um grave problema ao redor do mundo, estando associadas a uma elevada mortalidade, especialmente quando causadas por organismos multirresistentes ou considerados difíceis de tratar.

O primeiro dia do 32º European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID 2022) apresentou palestras sobre o tema, focando em características especiais de algumas bactérias Gram-negativas que são patógenos de interesse no ambiente de terapia intensiva, como a A. baumannii.

bactéria Acinetobacter baumannii

Acinetobacter baumannii

Acinetobacter baumannii é considerado uma das maiores ameaças em ambientes hospitalares, principalmente por sua associação com resistência antimicrobiana. Estima-se que, em 2017, 8500 casos de infecções nos EUA foram causadas por A. baumannii resistentes a carbapenêmicos, com 700 mortes estimadas no mesmo ano.

Além da resistência a antimicrobianos (muitas vezes com perfis multi ou panresistentes), a presença de A. baumannii é de interesse no ambiente hospitalar por sua capacidade de sobrevivência em superfícies abióticas quando comparado com outras bactérias Gram-negativas, sua tendência para disseminação epidêmica e sua capacidade de disseminação de mecanismos de resistência.

A persistência prolongada em superfícies é uma das características de maior interesse e estudos têm sido realizados para saber os mecanismos que permitem essa sobrevivência.

Em situações de desidratação, as bactérias sofrem alterações danosas em estruturas como a parede celular e passam a produzir espécies reativas de oxigênio (EROs), que causam lesão em estruturas celulares e no DNA bacteriano.

Muitas bactérias Gram-negativas desenvolveram estratégias para sobreviver a esse tipo de estresse, como modificações em estruturas moleculares e acúmulo intracelular de componentes iônicos que podem tanto substituir moléculas de água quanto podem super-regular a expressão de mecanismos de reparo de DNA.

Estudos mostram que espécies clínicas de A. baumannii apresentam alta resistência ao processo de desidratação, podendo sobreviver 60 dias em superfícies de vidro, por exemplo. Uma explicação para essa alta resistência parece ser o fato de que, diante do estresse de dissecção, as células de A. baumannii podem entrar em um estado de latência, em que são viáveis, mas não crescem em cultura. Entretanto, esse fenótipo não culturável pode ser revertido em certas condições, um fenômeno chamado de “ressuscitação”.

Observações in vitro mostram que células dormentes apresentam perda de volume celular e aumento de EROs. O processo de “ressuscitação” pode ser induzido com incubação em meios de cultura específicos, mas não após dois meses de permanência em estado de latência, ou em fluidos biológicos. As células ressuscitadas são capazes de reparar danos em membrana celular, retornar parcialmente ao seu volume celular original, em um processo que consome ATP. De forma semelhante, estudos em modelo animal sugerem que células latentes perdem parcialmente sua virulência, mas células ressuscitadas podem recuperá-la totalmente.

As evidências até o momento sugerem que água livre de nutrientes e superfícies abióticas podem ser potenciais reservatórios de A. baumannii. Ao mesmo tempo, as células podem passar pelo processo de “ressuscitação” em soluções aquosas, incluindo alguns fluidos biológicos. Essas características podem explicar o sucesso da sobrevivência dessa espécie bacteriana em ambiente hospitalar e como causador de doença.

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