Oximetria cerebral: uma ferramenta preciosa

A oximetria cerebral não substitui a oximetria de pulso, uma vez que esta determina a oxigenação global dos tecidos.

O uso da oximetria cerebral, também chamada de Near-Infrared Spectroscopy (NIRS) ou espectroscopia frontal próxima do infravermelho, tem sido bastante utilizada como monitorização cerebral atualmente. Essa tecnologia foi descrita há mais de 40 anos e baseia-se na capacidade da luz infravermelha de penetrar nos tecidos biológicos e promover, em tempo real e de forma não invasiva, informações sobre a oxigenação e metabolismo desses tecidos. 

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Atualmente, no cenário clínico, o uso de NIRS cerebral promove dados importantes sobre a microcirculação dos pacientes e apresenta-se como um grande adjuvante durante o período intraoperatório, principalmente em cirurgias cardíacas, vasculares e torácicas. Com o seu uso, é capaz de se identificar quedas de perfusão e oxigenação de forma precoce no tecido cerebral. 

O mecanismo de ação da NIRS resume-se na penetração de luz infravermelha pelos tecidos cranianos, através de probes acoplados à pele. Essa luz penetra na pele, crânio e encéfalo e é absorvida pelos cromóforos biológicos, como os citocromos C e a hemoglobina oxigenada.  

A saturação de oxigênio local é definida pela medida simultânea dos comprimentos desse feixe de luz que são absorvidos, de forma semelhante ao mecanismo da oximetria de pulso. A oximetria cerebral não substitui a oximetria de pulso, uma vez que esta determina a oxigenação global dos tecidos e não somente de forma tecidual localizada. Ou seja, a NIRS pode estar com valores normais e o paciente pode estar em hipóxia, porém ainda não teve seu tecido cerebral afetado. 

As maiores indicações para o uso dessa monitorização, além de cirurgias de grande porte cardiovasculares e com risco de hemorragia, são: determinadas posições cirúrgicas do paciente como a posição em cadeira de praia, sentado ou em céfaloaclive; cirurgias como endarterectomia de carótida ou com uso de circulação extracorpórea; terapia intensiva neonatal; cirurgias com uso de hipotensão controlada; parada cardíaca e qualquer outra situação onde o fluxo sanguíneo cerebral possa a vir a diminuir de forma brusca ou acentuada e causar danos. 

O uso dessa monitorização específica também serve para nos ajudar em estudos de perfusão cerebral em pacientes submetidos a procedimentos em determinadas posições e com determinadas técnicas anestésicas em relação ao comprometimento da perfusão cerebral.  

Por exemplo, um estudo prospectivo e randomizado, realizado com 46 pacientes do serviço de traumato ortopedia e neurologia no Okmeydani Training and Research Hospital, em Istambul na Turquia, comparando a utilização de anestesia geral com manutenção em baixo fluxo (0,5 L/min) e em fluxo normal (2 L/min) em pacientes em posição prona, evidenciou que a quantidade de gases anestésicos utilizados na técnica de baixo fluxo foi bem menor que na técnica de fluxo normal. 

Em ambos os grupos, os pacientes não apresentaram diferença clinicamente significativa durante os procedimentos em relação a oximetria cerebral, mesmo em posição prona e com fluxos diminuídos. Chegou-se à conclusão de que a técnica de baixo fluxo de gases se mostrou bastante segura e eficaz em pacientes em posição de decúbito ventral. 

Não há contraindicação absoluta para o uso dessa monitorização, porém deve-se sempre levar em consideração que determinadas situações locais como hematoma ou hemorragia intracraniana podem alterar os seus valores. 

O monitor em questão pode ser usado tanto em pacientes adultos como pediátricos e neonatos e possui três probes (específicos para cada faixa etária), que acompanham uma fita adesiva e que devem ser colocados na pele limpa e seca do paciente, mais precisamente na região da fronte, bem próximo à linha do couro cabeludo, evitando a região da linha mediana, lateralmente ao músculo temporal, com uma distância de aproximadamente 60 mm entre cada probe.  

Um probe corresponde a fonte de luz e os outros dois probes correspondem aos detectores da saturação. 

oximetria cerebral

Valores de saturação cerebral 

Os estudos demonstram que pacientes saudáveis, lúcidos e orientados, em respiração espontânea, sem complementação de oxigênio, apresentam valores da saturação cerebral em torno de 68 %, não havendo diferença significativa entre sexo, cor de pele, idade, tabagismo, pneumopatias, ou presença de outras comorbidades. 

Valores abaixo de 56% devem ser considerados como alteração significativa de perfusão e oxigenação cerebral e procedimentos para melhora da saturação cerebral devem ser realizados de forma rápida e efetiva. 

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O monitor também pode ser utilizado em outras regiões e fora do contexto cirúrgico, ajudando os profissionais a medirem em tempo real a perfusão periférica dos tecidos de órgãos vitais. Como exemplo em pacientes internados com acidente vascular cerebral, levando a uma monitorização constante, não invasiva e em tempo real da diminuição do fluxo cerebral, diagnosticando precocemente a ocorrência de novos derrames que possam ocorrer. 

Lembrando sempre que essa é uma monitorização adjuvante e deve ser analisada junto à clínica do paciente para tomada de decisões. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Ali J, Cody J, Maldonado Y, Ramakrishna H. Near-Infrared Spectroscopy (NIRS) for Cerebral and Tissue Oximetry: Analysis of Evolving Applications. J Cardiothorac Vasc Anesth. 2022 Aug;36(8 Pt A):2758-2766. 
  • Tekin EA, Gültop F, Başkurt NA. Minimal and normal-flow general anesthesia in patients undergoing surgery in prone position: ımpact on hemodynamics and regional cerebral oxygenation. Acta Cir Bras. 2023 Mar 24;38: e380523.