Tratamento com pangenotípicos para HCV

Os novos tratamentos para HCV podem ser genótipo-específicos ou pangenotípicos, esquemas com capacidade de ação sobre todos os genótipos.

A fabricação e a disponibilização dos agentes antivirais de ação direta (DAAs) mudou o paradigma da infecção pelo vírus HCV mundialmente. Antes um tratamento longo e marcado por sua toxicidade e baixas taxas de cura, o uso dos DAAs trouxe um novo cenário, com uma terapia altamente eficaz e relativamente poucos efeitos colaterais. O vírus HCV apresenta 6 genótipos principais, sendo os genótipos 1 e 3 os mais prevalentes no Brasil e no mundo. Os novos esquemas de tratamento para HCV baseados nos DAAs podem ser genótipo-específicos — dependente da realização de genotipagem para identificação do genótipo causador de infecção — ou pangenotípicos — esquemas com capacidade de ação sobre todos os genótipos.

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Uma revisão sistemática com meta-análise avaliou as evidências de eficácia e segurança de regimes baseados em DAAs em adultos com infecção crônica pelo HCV. Essa revisão apoiou as decisões para estabelecimento das recomendações do guideline mais recente da OMS para o tratamento de HCV.

Representação gráfica de um genótipo do HCV que pode ser tratado com pangenotípicos

Materiais e métodos

A revisão sistemática incluiu estudos com ensaios clínicos randomizados e não randomizados e estudos observacionais prospectivos em adultos com infecção crônica pelo HCV. O foco da revisão foram regimes pangenotípicos com sofosbuvir-velpatasvir, sofosbuvir-daclastavir e glecaprevir-pibrentasvir, uma vez que são os esquemas recomendados no guideline da OMS. Sofosbuvir-ledispavir, utilizado em infecções pelo genótipo 1, também foi avaliado.

Resultados

Foram incluídos 63 estudos que avaliaram eficácia e efetividade de esquemas pangenotípicos e sofosbuvir-ledispavir no tratamento do HCV. No geral, altas taxas de resposta virológica sustentada (RVS) foram encontradas com todos os esquemas. As proporções estimadas de RVS excederam 0,94 em todos os tratamentos com indivíduos infectados pelos genótipos 1, 2 ou 4, exceto para o uso de sofosbuvir-ledispavir para o tratamento do genótipo 2, que foi estimada em 0,86. Um estudo não randomizado encontrou proporção de 74% de RVS após tratamento por 8 semanas nessa população, o que reduziu sua eficácia na análise combinada.

Quando a análise foi estratificada por exposição prévia a terapias contra HCV, as proporções de pessoas que atingiram RVS foram semelhantes às da análise primária nos indivíduos infectados pelos genótipos 1 ou 3 e naqueles com genótipo 4 tratados com sofosbuvir-ledispavir. Não houve dados suficientes em relação aos genótipos 2 ou 4.

Em relação a pacientes com cirrose, a maioria dos dados referia-se ao genótipo 1. A RVS combinada excedeu 90% com todos os tratamentos. Para os genótipos 1 e 3, a proporção de indivíduos que alcançou RVS permaneceu alta tanto nos pacientes que receberam tratamento anterior quanto nos virgens de tratamento (0,97 vs. 0,97 e 0,9 vs. 0,97, respectivamente).

Indivíduos com coinfecção HCV-HIV foram pouco representados nos estudos recuperados na revisão. A maior parte era constituída por pacientes infectados com o genótipo 1 e tratados com sofosbuvir-ledispavir, com uma proporção combinada de RVS de 0,96.

A proporção de eventos adversos foi baixa, com poucas descontinuações e taxas baixas de mortalidade.

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Mensagens práticas

  • Os resultados mostram altas taxas de resposta virológica sustentada com o uso de esquemas pangenotípicos de tratamento contra HCV baseados em antivirais de ação direta. Esquemas pangenotípicos são recomendados pela OMS como primeira linha de tratamento em indivíduos adultos com infecção crônica pelo HCV.
  • No Brasil, para pacientes com adultos, sem exposição prévia a DAAs e com clearance de creatinina ≥ 30 ml/min, são recomendados esquemas conforme genotipagem viral. Para o genótipo 1, sofosbuvir-ledipasvir é o regime de primeira linha. Para os demais genótipos, a recomendação é a administração de sofosbuvir-velpatasvir. O tempo de tratamento varia de acordo com a presença ou não de cirrose e a classificação de Child-Pugh.
  • Para indivíduos com ClCr < 30 ml/min, a recomendação brasileira é não realizar genotipagem e o tratamento indicado é com glecaprevir-pibrentasvir.
  • Diagnóstico e tratamento em tempo adequado são importantes para evitar o desenvolvimento de complicações em indivíduos infectados. O rastreio de infecção pelo HCV é recomendado de forma prioritária em indivíduos convivendo com HIV, pessoas que iniciarão PrEP, pessoas com múltiplos parceiros sexuais ou com infecções sexualmente transmissíveis, pessoas trans, trabalhadores do sexo e pessoas em situação de rua.
  • As hepatites virais são de notificação compulsória, com todos os casos confirmados devendo ser notificados e registrados no SINAN em até 7 dias.

Referências bibliográficas:

  • Zoratti MJ, et al. Pangenotypic direct acting antivirals for the treatment of chronic hepatitis C virus infection: A systematic literature review and meta-analysis. EClinicalMedicine 18 (2020) 100237. doi: 10.1016/j.eclinm.2019.12.007
  • Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2017/protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-para-hepatite-c-e-coinfeccoes
  • Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. NOTA INFORMATIVA Nº 13/2019-COVIG/CGVP/.DIAHV/SVS/MS. Brasília, 31 de outubro de 2019. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/profissionais-de-saude/hv/legislacao
  • WHO. Guidelines for the care and treatment of persons diagnosed with chronic hepatitis C virus infection. Julho de 2018. Disponível em: https://www.who.int/hepatitis/publications/hepatitis-c-guidelines-2018/en/

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