Avaliação da informação operatória na visita pré-anestésica sobre a ansiedade

A ansiedade operatória é bastante deletéria no período pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgias de grande porte e oncológicas.

A ansiedade operatória é bastante deletéria principalmente no período pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgias extensas, de grande porte e cirurgias oncológicas. Situações de ansiedade levam a liberação de catecolaminas que resultam no aumento da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca e desencadeamento de arritmias no período pré e intraoperatório, demandando maior necessidade de medicações e prolongando o tempo de internação hospitalar ou até mesmo adiando o procedimento cirúrgico.

Além disso, estudos vêm demonstrando que pacientes que apresentam ansiedade antes da cirurgia acabam tendo episódios álgicos mais intensos no pós-operatório. E o maior fator desencadeador e perpetuador da ansiedade, principalmente em pacientes oncológicos é a falta de informação pré cirúrgica.

Leia também: Avaliação pré-anestésica: como realizar?

Os pacientes com câncer apresentam maior quadro de ansiedade do que a população em geral, principalmente por características inerentes a doença como a forma ameaçadora que ela se apresenta, o grande impacto na imagem corporal e o bem estar do paciente, além de desconfortos em relação aos tratamentos não cirúrgicos como quimioterapia e radioterapia.

Apesar de haver várias escalas para medição do grau de ansiedade pré operatória, a escala de Beck (Beck Anxiety Inventory – BAI) é considerada padrão ouro para mensuração da ansiedade pela sua simplicidade, brevidade e capacidade de medir a ansiedade geral, minimizando sua sobreposição a características de depressão, tendo sido desenvolvida para diferenciar ansiedade de depressão. Nesse questionário são respondidas 21 questões e avaliado os scores obtidos que pode variar de 0 a 63 pontos com 4 resultados: mínimo (score 0) de 0 a 10 pontos, leve (score 2) de 11 a 19 pontos, moderado (score 3) de 20 a 30 pontos e grave (score 4) de 31 a 63 pontos.

Médica conversa com paciente com ansiedade operatória

Estudo

O estudo em questão visou avaliar o impacto das informações pré-operatórias sobre o grau de ansiedade em pacientes oncológicas submetidas a histerectomia total e anexectomia bilateral. Foram selecionadas pacientes com diagnóstico de câncer endometrial com idade superior a 18 anos, estado físico ASA II e III, que não possuíam transtornos psiquiátricos e nem tinham diagnóstico anterior de depressão ou com tratamento com ansiolíticos ou antidepressivos.

Todas as pacientes foram submetidas ao questionário de Beck e dividias em 2 grupos aleatórios, onde um grupo recebia informações completas detalhadas sobre o procedimento anestésico-cirúrgico e o outro grupo não recebia nenhuma informação. O questionário foi utilizado duas vezes, antes da consulta pré anestésica e duas horas após a consulta. Nesse intervalo, todas as pacientes permaneceram no pátio recreativo do hospital, sem exposição a fatores estressantes. A medição dos dados vitais como frequência cardíaca e pressão arterial foram tomadas imediatamente antes da resposta dos dois questionários para avaliar indiretamente a liberação de catecolaminas.

Resultados

O grupo que recebeu informações detalhadas sobre o procedimento anestésico cirúrgico apresentou dados vitais diminuídos em comparação com a primeira medição e scores de Beck menores (maior quantidade de scores 0) na segundo questionário, em comparação com o segundo grupo que não recebeu informações detalhadas, neste grupo não houve modificações na avaliação de Beck, após o primeiro questionário.

Saiba mais: Ansiedade pré-operatória e despertar durante anestesia

Conclusões

Nesse estudo foi possível comprovar que em pacientes oncológicas os níveis de ansiedade pré cirúrgica podem ser diminuídos pela obtenção de informações pelos pacientes de todos os detalhes relacionados a seu procedimento, tanto no âmbito cirúrgico como anestésico. Além disso, o conhecimento dessas informações promoveu a diminuição do dados vitais como frequência cardíaca e pressão arterial, levando a uma maior segurança para realização do procedimento. Também foi avaliado que essas informações, junto com a visita pré-anestésica deve ser realizada em um período de duas semanas antes do procedimento para um melhor resultado. Pesquisas demonstram que pré-anestésicos na véspera da cirurgia não contribuem para uma diminuição do grau de ansiedade dos pacientes.

Orientar um paciente de maneira detalhada, no período pré-operatório deve ser um padrão institucionalizado principalmente naquela população que será submetida a procedimentos de grande porte, como os oncológicos.

Em tempo

Por motivos de ética médica, as pacientes do grupo 2 receberam todas as informações detalhadas após o preenchimento do segundo questionário de Beck.

Referências bibliográficas:

  • Lemos MF, et al. A informação no pré‐operatório reduz a ansiedade pré‐operatória em pacientes com câncer submetidos à cirurgia: utilidade do Inventário Beck de Ansiedade. Brazilian Journal of Anesthesiology. 2019;69(1):1-6. doi: 10.1016/j.bjan.2018.07.003
  • Waller A, et al. Preparatory education for cancer patients undergoing surgery: a systematic review of volume and quality of research output over time Patient Educ Couns. 2015;98:1540-154.
  • Hoon LS, Chi Sally CW, Hong-Gu H. Effect of psychosocial interventions on outcomes of patients with colorectal cancer: a review of the literature Eur J Oncol Nurs. 2013; 17:883-891.

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