O ano de 2022 foi bastante agitado na Pediatria e, como sempre, o Portal PEBMED publicou artigos sobre os temas mais badalados da especialidade esse ano. Veja aqui um resumo dos textos mais acessados por leitores do Portal e, em seguida, um resumo dos mais acessados por pediatras que leem o Portal.
Cerca de 10% das crianças e adolescentes sofrem de enurese noturna, indica estudo
Um interessante artigo brasileiro publicado no Journal of Pediatric Urology revelou que 10% das crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos de idade sofrem de enurese noturna. O estudo, realizado com 804 crianças da Bahia e de Minas Gerais, também demonstrou uma prevalência maior entre meninos. Além disso, observou-se que a maioria das crianças sofriam punições relacionadas à enurese, o que segundo os pesquisadores responsáveis, não é uma boa abordagem para a resolução do quadro. Os médicos devem orientar os pais a esse respeito, e devem também ficar atentos a sinais de alarme que indicam possíveis doenças de base como causa da enurese, especialmente em pacientes com enurese secundária.
Estudo avalia o risco de eventos adversos após revacinação em pacientes com suspeita de alergia à vacina
Um estudo publicado na Journal of Pediatrics trouxe novos dados com relação à segurança de revacinação em pacientes com eventos adversos prévios a uma determinada vacina. Os resultados sugeriram que a maioria dos pacientes com eventos adversos pós-vacinação prévios podem ter recomendação de revacinação com sucesso, pois os riscos de recorrência desses eventos são baixos, principalmente em casos de eventos de impacto baixo a moderado. Além disso, o teste cutâneo de alergia para essas vacinas pode ser utilizado para a avaliação do risco de recorrência do evento adverso (valor preditivo negativo alto); pacientes com testes negativos apresentam alta probabilidade de não terem novos eventos numa situação de revacinação, apesar dos autores indicarem que a maioria dos pacientes com testes cutâneos positivos pode ser revacinada com segurança em ambientes controlados.
Primeiros casos de varíola dos macacos em crianças no Brasil
Os casos de varíola dos macacos se disseminaram no ano de 2022, e as crianças também foram acometidas. Em julho de 2022, os primeiros seis casos da doença em crianças brasileiras foram descritos, todos sem gravidade.
Prescrições inadequadas de antibióticos em crianças
Um estudo publicado no JAMA Network Open destacou as consequências em nível individual e nacional do uso inapropriado de antibióticos. O trabalho, que incluiu mais de 2,8 milhões de crianças, demonstrou que o uso de antibióticos inapropriadamente aumentou o risco de eventos adversos relacionados a medicamentos, como infecção por Clostridioides difficile e reações alérgicas graves. Também foi observado aumento dos gastos anuais atribuíveis por todas as causas em 30 dias, o que onera os sistemas de saúde. Esse artigo reforça a importância de avaliação correta do uso de antibióticos, principalmente nos contextos em que seu uso é contraindicado ou duvidoso.
Caxumba: como fazer o diagnóstico e tratamento?
A caxumba é uma doença clássica na pediatria, com quedas históricas de incidência devido à vacinação em massa da população. Porém, com os baixos índices de vacinação, principalmente após a pandemia da covid-19, houve aumento do número de casos dessa doença. Nosso portal trouxe uma revisão sobre o quadro, com ênfase na etiologia, fatores de risco, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento e prevenção.
Infecção pelos Sars-cov-2 e manifestações e complicações cardiovasculares em pacientes pediátricos
Em 2022, também houve atualização de muitos conhecimentos pertinentes à infecção pelo Sars-cov-2 na pediatria, principalmente no que diz respeito à síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (MIS-C). Uma publicação da Circulation de abril de 2022 trouxe novas perspectivas sobre o tema, e em especial, sobre as manifestações cardiovasculares da covid-19 em crianças e adolescentes. Essas manifestações são incomuns e incluem quadros graves como choque cardiogênico, miocardite, pericardite e arritmias. Além disso, 50% dos pacientes com MIS-C apresentam acometimento cardiovascular, e podem evoluir com aneurismas de artérias coronárias.
Dermatite atópica em crianças: qual o hidratante mais adequado
A dermatite atópica acomete cerca de 20% das crianças e é caracterizada por xerodermia, inflamação e prurido cutâneo, comprometendo a qualidade de vida dos pacientes. Os emolientes são indicados para o tratamento do quadro, uma vez que reduzem os sintomas e podem ter atividade anti-inflamatória. Um trabalho publicado no The Lancet Child & Adolescent Health comparou a eficácia de quatro tipos de produtos usados como emolientes na dermatite atópica (loções, cremes, géis e pomadas) e concluiu que não há diferença na eficácia entre esses quatros tipos de hidratantes. Como a aceitabilidade dos diferentes produtos pode variar entre os pacientes, o uso do produto mais confortável para o paciente apresenta resultado melhor do que o tipo de produto, uma vez que aumenta a aderência ao tratamento.
Hepatite desconhecida em crianças: orientações do Ministério da Saúde
Em abril de 2022, a Organização Mundial da Saúde notificou o surgimento de novos casos de hepatite aguda grave em crianças previamente hígidas, de etiologia desconhecida. Desde então, esse quadro tem sido estudado e novas diretrizes foram desenvolvidas para o diagnóstico. Em maio de 2022, o Ministério da Saúde também lançou uma nota técnica para direcionar as medidas específicas a serem realizadas dentro do território nacional, baseado em protocolos internacionais. A definição, a notificação e a investigação de casos prováveis foram abordadas pelo nosso conteúdo.
Recém-nascidos devem receber vitamina K em até seis horas depois do nascimento
Em março de 2021, a American Academy of Pediatrics enfatizou mais uma vez sobre a importância de realização da dose de vitamina K como dose única intramuscular para todos os recém-nascidos, dentro das seis primeiras horas de vida. Apesar de a medida ser sugerida desde 1961, os casos de doença hemorrágica do recém-nascido por deficiência de vitamina K parecem estar aumentando, principalmente relacionados à recusa do procedimento ou à escolha de métodos de administração menos eficazes, como a dose oral. A abordagem aos pais das crianças para esclarecimento dos riscos envolvidos também foi abordado pelo artigo.
Atopia: o que é e como os probióticos auxiliam no tratamento
A atopia é um quadro extremamente comum que tem aumentado no decorrer dos últimos anos, sendo marcada pela presença de anticorpos imunoglobulina E específicos para alérgenos séricos ou por um teste cutâneo positivo para substâncias que podem induzir uma reação de hipersensibilidade. O eixo intestino-pele desempenha um importante papel no desenvolvimento das doenças atópicas. Assim, a literatura tem demonstrado um interesse específico na modulação da microbiota intestinal de forma a modular as respostas imunológicas cutâneas, com potencial de melhora das doenças atópicas. Até o momento, porém, as evidências científicas não apoiam o uso rotineiro de probióticos como forma de prevenir doenças alérgicas.
Continuando a nossa retrospectiva, vamos relembrar os cinco textos do Portal mais acessados da área de Pediatria nesse ano de 2022!
Revista PEBMED – Emergências Pediátricas está disponível para download gratuito
Um dos eventos mais especiais desse ano foi o lançamento da nossa revista Pebmed de Emergências Pediátricas. A revista foi um enorme sucesso, abordando temas variados e englobando as principais emergências em pediatria, com ênfase no diagnóstico e tratamento desses quadros. Dentre os temas abordados, destaco os capítulos de anafilaxia, arritmias cardíacas, cetoacidose diabética, além dos de descompensação de asma e das bronquiolites. Se você ainda não leu essa edição, vale a pena conferir!
Quiz: Radiografia de tórax em paciente pediátrico com tosse, febre e secreção nasal. Qual o diagnóstico?
Esse caso clínico foi muito interessante, e não é surpresa que tenha sido um dos mais acessados pelos pediatras. Para começar, é um caso que nos demonstra que nem tudo que parece é, e que nem sempre o diagnóstico mais simples é o correto. Além disso, aborda um caso clínico que não é muito comum no dia a dia do pediatra. Você já conferiu esse caso?
Atualizações sobre o tratamento da exacerbação de asma em pediatria (Parte 1)
A asma sempre é uma doença que interessa muito aos pediatras. É um quadro extremamente comum, que pode ser bastante grave e que tem seu manejo atualizado de forma rotineira, sempre com a inclusão de novos medicamentos e novas condutas, exigindo do pediatra uma atualização contínua. Então, não é muita surpresa que dois dos temas mais acessados tenham relação com o tratamento das exacerbações da asma.
Esse primeiro texto de atualização trouxe importantes informações a respeito da definição de exacerbação da asma, dos principais gatilhos e sinais de gravidade desse quadro. Também trouxe pontos do tratamento das exacerbações, com destaque para o uso dos beta-2 agonistas de curta duração, corticoides sistêmicos e inalatórios, e uso do pico de fluxo expiratório (PFE) como parâmetro de resposta da terapia instituída.
Atualizações sobre o tratamento da exacerbação de asma em pediatria (Parte 2)
Na segunda parte do texto de atualizações sobre o tratamento da exacerbação de asma na pediatria, o foco foi sobre os critérios de internação, critérios de intubação e fluxos de tratamento, dependendo do grau de exacerbação do paciente e da resposta ao tratamento, tanto em pacientes menores quanto nos maiores de seis anos.
O que se sabe sobre os casos de “gripe do tomate” em crianças?
Outro assunto de destaque entre os pediatras foram os casos de gripe do tomate relatados no ano de 2022 na Índia. Os casos foram publicados no The Lancet Respiratory Medicine. Apesar de ainda existirem dúvidas com relação aos diagnósticos, o que se pensa até o momento é que, apesar do nome, o quadro não tem relação nem com a gripe (ou com o vírus Influenza), nem com o tomate. Na verdade, aparentemente trata-se de uma variante da enterovirose conhecida como doença mão-pé-boca, causada pelo vírus Coxsackie A16. Nesses casos, porém, houve presença também de lesões em tronco, pelve, abdome e costas, além das já classicamente descritas em outros casos.
4 abr. 2024 
6 min. 
