Medicina Física e Reabilitação: a Medicina da qualidade de vida

Todo dia traremos para você a visão de um especialista sobre sua respectiva área! Hoje vamos falar sobre Medicina Física e Reabilitação com a Dra. Fernanda Martins.

No artigo dessa semana, da nossa série sobre Residência e as especialidades médicas, a Dra. Fernanda Martins fala tudo que você precisa saber sobre Medicina Física e Reabilitação.

1) O que é?

Fisiatria é a especialidade que estuda a reabilitação e a melhora de funções em pessoas com deficiências ou doenças incapacitantes. O termo deriva das palavras gregas physikos/fisio/fúsis (físicas, função) e Iatreia/íotrós (arte de curar, médico).

O fisiatra é um médico que criativamente emprega agentes físicos, bem como outras terapias médicas para ajudar na cura e reabilitação de um paciente. Portanto, fisiatra é o médico da função. Parece simples, mas para nós médicos que estudamos órgãos e funções de sistemas corporais e compartimentamos as especialidades por áreas de doenças, o campo da fisiatria pode parecer um pouco abstrato à primeira vista, pois função é a execução de uma atividade ou tarefa da atuação humana, o que é pode ser bem mais complexo do que estudar um órgão e suas doenças.

Ou seja, o tratamento médico em fisiatria envolve a pessoa toda e aborda as necessidades físicas, emocionais e sociais que devem ser satisfeitas para restabelecer a qualidade de vida do paciente ao seu potencial máximo, para que consiga retomar da melhor forma possível suas rotinas familiar e de trabalho após a instalação de uma deficiência, com olhar voltado não apenas para a doença e suas causas, mas também para o acolhimento e para o entendimento das necessidades de cada paciente.

Fisiatras são médicos que tratam de uma variedade de problemas médicos que afetam o cérebro, medula espinhal, nervos, ossos, articulações, ligamentos, músculos e tendões. O foco da especialidade é na restauração da função das pessoas, atuando na prevenção, diagnóstico e tratamento não-cirúrgico de distúrbios associados à deficiência física.

O fisiatra:

  • trata de pacientes de todas as idades
  • foca o tratamento na funcionalidade da pessoa
  • em um espectro de expertise médica que permite tratar de condições incapacitantes ao longo da vida da pessoa
  • diagnostica e trata dor resultante de uma lesão, doença ou deficiência
  • determina e lidera um plano de tratamento/prevenção
  • lidera uma equipe de profissionais que inclui fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e outros terapeutas e médicos para otimizar o cuidado ao paciente
  • trabalha com outros médicos que assistem ao paciente

Os fisiatras tratam de condições como por exemplo: dor aguda e crônica e distúrbios osteomusculares, pessoas com lesões na medula espinhal, lesões cerebrais, derrames, amputações, câncer e esclerose múltipla. Todos exigem um processo de reabilitação em longo prazo. A fisiatra pode tratar pacientes diretamente, liderar uma equipe interdisciplinar ou agir como um consultor.

Fisiatras oferecem um amplo espectro de serviços médicos, podendo prescrever medicamentos ou dispositivos auxiliares, como uma cinta ou membro artificial. Eles também prescrevem terapias diversas, tais como calor e frio, eletroterapias, massagem, biofeedback, tração e exercícios terapêuticos. Fisiatras tratam o indivíduo como um todo transpassando a esfera biológica e mecânica do corpo – tratam doenças, distúrbios, deficiências, incapacidades e limitações sociais. São tratadas todas as funções possíveis a um ser humano.

E o que é reabilitação? Reabilitação é definida como o desenvolvimento de uma pessoa ao máximo potencial físico, psicológico, social, profissional, vocacional e educacional compatível com suas limitações por deficiências anatômicas ou fisiológicas e questões ambientais. A equipe trabalha para obter a função ideal, mesmo com deficiência residual, mesmo que o prejuízo causado por um processo patológico não possa ser revertido. Os resultados previstos dos pacientes de um programa de reabilitação global e integrado devem incluir uma maior independência e uma melhor qualidade de vida.

2) Como é o dia a dia?

O dia a dia do fisiatra é muito variável, a depender do seu campo de trabalho. Pode desde passar os dias no seu consultório, atendendo consultas e realizando procedimentos diversos (infiltrações, bloqueios, tratamento por ondas de choque) até passar muitos dias no centro cirúrgico realizando Monitorização Intraoperatória.

O dia a dia em Centros de Reabilitação inclui consultas médicas, atendimentos com terapeutas ou técnicos ortesistas para analisar equipamentos (órteses, próteses, cadeira de rodas), realizar procedimentos como aplicações de toxina botulínica para espasticidade e discussões de caso em reuniões de equipe multidisciplinar (com assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e enfermeiro).

Caso trabalhe em hospitais, pode atuar como interconsultor, avaliando pacientes desde a UTI até o ambulatório do Centro de Reabilitação.

Na Fisiatria, o dia a dia do médico pode ser escolhido de acordo com as oportunidades de trabalho e o que é o desejo do médico fisiatra para sua atuação.

3) Oportunidades de trabalho:

A Fisiatria é uma especialidade médica clínica em grande desenvolvimento na atualidade em todo o mundo, sobremaneira no Brasil com a instituição por decreto da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do SUS em 2012.

Segundo a Organização Mundial de Saúde existe mais de 1 bilhão de pessoas com deficiência no mundo (OMS, 2011). No Brasil 24% da população, ou seja, 45 milhões de pessoas tem algum tipo de deficiência (IBGE, 2014). Atualmente um dos focos da OMS é atuar nessa grande população em todos os países, estimulando o desenvolvimento de acesso à reabilitação, recursos de acessibilidade e consequentemente inclusão da pessoa com deficiência na sociedade.

As oportunidades de trabalho com consultórios ou clínicas de reabilitação particulares são presentes em todo o país. Há demanda reprimida. Os empregos formais e busca de fisiatras pelo país tem aumentado.

Caso o fisiatra opte por realizar exames, na área de Neurofisiologia Clínica pode atuar com Monitorização Intraoperatória ou Eletroneuromiografia.

O trabalho em Centros de Reabilitação especializados ou que estão dentro de Hospitais gerais frequentemente ofertam novas vagas. Alguns planos de saúde suplementar tem contratado diretamente fisiatras para atuar com pacientes com Dor crônica, em Grupos de Dor, ou Centros de Reabilitação próprios. Atualmente, isso mostra-se uma tendência.

As normativas da Atenção em Oncologia preveem que a prestação de atendimento ao paciente no Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) abranja 7 áreas – desde o diagnóstico, cirurgia, oncologia, radioterapia, quimioterapia, reabilitação e cuidados paliativos. A oferta de vagas para fisiatras tende a aumentar.

4) Número de especialistas e locais de referência:

Atualmente temos 900 fisiatras registrados na Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação.

Locas de referência:

– Unidades em vários estados:
AACD – https://aacd.org.br/

– Rio de Janeiro:
ABBR – https://www.abbr.org.br/abbr/index.html

– São Paulo:
Rede Lucy Montoro de Reabilitação – www.redelucymontoro.org.br/

Hospital Sírio Libanês – https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/hospital/especialidades/reabilitacao/Paginas/default.aspx

Hospital Israelita Albert Einstein – https://www.einstein.br/estrutura/reabilitacao

– Rio Grande do Sul:
PUC/RS – https://www.pucrs.br/reabilitacao/

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5) Curiosidades:

– A atuação enquanto fisiatra proporciona cada história… A sexualidade das pessoas é sempre um tema desafiador, posto que o médico em geral não está habilitado nesta questão. Os pacientes em reabilitação são estimulados a retomar diversos aspectos da vida, o que inclui a sexualidade – é cada causo que compartilhamos… sejam pacientes paraplégicos, adolescentes com deficiência, ou senhoras em pós-operatório ortopédico. Quando se fala de vida, de retomá-la, ainda que com adaptações, permanentes ou temporárias, o tema da sexualidade sempre traz boas risadas. As histórias em torno da promoção da autonomia das crianças com deficiência gera histórias engraçadíssimas – como todos se envolvem e se desconcertam – “mas ele pode fazer isso? Pegar sozinho o ônibus? Fazer compras?”. É curioso como tantas vezes ouvimos enquanto fisiatras as pessoas refletirem sobre a vida e dizerem (sim, é comum) – “depois do AVC eu sou mais feliz comigo mesmo e com a minha família”.

6) Especialidades correlacionadas:

A Fisiatria potencialmente se relaciona com todas as especialidades médicas clínicas, cirúrgicas ou anestesia.

Quanto trata-se de pacientes com dor crônica, muitas vezes o time dos Grupos de Dor compõem Fisiatra, Anestesista, Ortopedista, Neurocirurgião, Neurologista, Reumatologista, Geriatra e/ou Pediatra – os grupos se formam com os especialistas de maior interesse para atender o grupo de pacientes alvo.

A depender da incapacidade que o fisiatra mais atende, a interlocução se dá com especialistas diferentes. Por exemplo: se a atuação é com reabilitação hospitalar, a interlocução é com o especialista que aciona o fisiatra interconsultor – na reabilitação cardíaca pós infarto, trabalham juntos cardiologista, fisiatra e fisioterapeuta; na reabilitação oncológica, depende do que há com o paciente, pois pode ser somente um ombro congelado após mastectomia ou uma síndrome de compressão medular maligna. As publicações em Oncologia cada vez mais tem ressaltado a importância para qualidade de vida e sobrevida da reabilitação seja pré-cirúrgica, durante a quimioterapia ou após a finalização do tratamento ativo.

7) Área de atuação:

No Brasil, as áreas de atuação formais do Fisiatra são Neurofisiologia Clínica e Dor. Na prática, o fisiatra se subespecializa de acordo com sua área de interesse de estudo e campo de prática clínica. Nos Estados Unidos, a formação do Fisiatra contempla programas de fellowship em diversas áreas – por exemplo muskuloskeletal, sports, spinal cord injury, traumatic brain injury, pediatrics e oncology.

8) Mensagem para quem quer seguir essa especialidade:

A escolha da Fisiatria alinha-se ao princípio da escolha de ser médico. Após anos de atuação e trabalho com residentes, tenho a firme impressão de que a prática na área da Fisiatria nos coloca em cheque como médicos – com nossa habilidade de comunicação, nosso potencial de estabelecer diagnósticos funcionais e planejar o tratamento para a máxima recuperação, em sermos o médico que suporta/cuida do paciente desde a fase aguda de instalação da deficiência e por um longo período, muitas vezes. Muitas vezes trazemos más notícias – a real possibilidade física, contrabalançando delicadamente para não tirar a esperança.

Na Fisiatria, não se cuida de doenças, se cuida da pessoa – é um cuidado centrado na pessoa. Atendemos pessoas de todas as idades em diversas etapas do seu ciclo de vida, quando ocorre uma perda funcional. Cuidamos também da família – sozinho é muito desafiador cumprir a reabilitação plena. Óbvio que isso varia de acordo com o grau de incapacidade da pessoa – é diferente reabilitar um jovem após um trauma na perna e um jovem após um TCE grave. Nosso papel enquanto fisiatra é estabelecer o planejamento de reabilitação individualizado em cada caso.

A maioria dos fisiatras atua cuidando das pessoas com alguma incapacidade que de fato altera sua vida diária, muitas vezes instalada por experiências súbitas em sua vida (doenças, acidentes). O fisiatra sempre pode auxiliar o médico clínico (oncologista, pneumologista, etc) a maximizar o potencial do paciente tratado e prevenir complicações do tratamento.

Para saber mais, sugiro os links de interesse:
https://www.who.int/disabilities/en/
https://www.pmrismorethan.org/
https://www.aapmr.org/
https://abmfr.com.br/

E assista os vídeos abaixo!

 

*Os artigos sobre as especialidades médicas foram produzidos em parceria com a Associação Nacional de Médicos Residentes

Veja as outras especialidades que já falamos por aqui!

 

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